GUERRA NO LESTE EUROPEU

A batalha pelo controle de cidade estratégica na guerra da Ucrânia

Russos e ucranianos reivindicam vitórias em Severodonetsk, na região separatista pró-Moscou de Lugansk. Kiev diz que avança, enquanto forças de Vladimir Putin reportam recuo dos adversários

Correio Braziliense
postado em 05/06/2022 07:00
Densa fumaça em área bombardeada de Severodonetsk, principal alvo de ataques na atual fase do conflito -  (crédito:  AFP)
Densa fumaça em área bombardeada de Severodonetsk, principal alvo de ataques na atual fase do conflito - (crédito: AFP)

Na batalha pelo domínio da estratégica cidade ucraniana de Severodonetsk, ao leste da região do Donbass, Moscou e Kiev também travam uma guerra de versões. Em mais um dia de enfrentamentos, as forças militares dos dois países deram versões diferentes, cantando vitórias não confirmadas. Serhiy Haiday, governador ucraniano da região de Luhansk, assegurou que as tropas do país estavam recuperando parte da cidade, enquanto a Rússia garantiu que os rivais sofreram graves perdas e estavam em retirada.

Haiday afirmou que os russos "não tomaram completamente" Severodonetsk. Ao contrário, os ucranianos, segundo ele, teriam retomado 20% do território. "Assim que tivermos mais armas ocidentais de longo alcance, vamos fazer a artilharia deles recuar [...] e a infantaria vai correr", assinalou o governador.

Por outro lado, o exército russo informou que as forças de Volodymyr Zelensky estavam se retirando de Severodonetsk "após sofrer perdas críticas", em algumas unidades de até 90%, e se instalaram na vizinha Lysychansk. A situação nessa cidade também é considerada crítica. Quase 60% das casas foram destruídas e as redes de internet, telefonia móvel e gás foram cortadas, disse o prefeito Oleksandr Zaika. "Os bombardeios estão ficando cada vez mais intensos", destacou.

Olexandre Striuk, prefeito de Severodonetsk, endossou, pelo menos em parte, o que disseram os russos. "Houve um certo sucesso" dos adversários, reconheceu ele, insistindo que os militares ucranianos tentam "restabelecer o controle total" da cidade. "Nossos soldados conseguiram se mobilizar novamente e construir uma linha de defesa", detalhou o prefeito em entrevista transmitida na conta oficial da região no Telegram.

De acordo com as autoridades ucranianas, ao menos sete civis morreram na região de Luhansk depois que um bombardeio russo atingiu um famoso mosteiro ortodoxo. Kiev também reportou que um ataque com mísseis deixou duas vítimas no porto de Odessa (sudoeste), sem especificar se ficaram feridas ou mortas.

Além disso, o governo de Zelensky confirmou a morte de quatro combatentes voluntários estrangeiros que lutavam contra as forças russas. De acordo com a Legião Internacional de Defesa da Ucrânia, uma brigada de voluntários, eles seriam da Alemanha, Holanda, Austrália e França. Não foram repassadas informações sobre o local ou circunstâncias das mortes.

Apesar da resistência inesperada, as tropas russas controlam, após 102 dias de guerra, um quinto da Ucrânia, com um longo corredor ao longo da costa do Mar Negro e do Mar de Azov, ligando a península da Crimeia (sul) aos territórios do Donbass. Zelensky tem se mostrado desafiador. "A vitória será nossa", disse na sexta-feira.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, assegurou que o saldo dos mais de três meses de guerra é satisfatório. As tropas russas, assinalou o auxiliar do presidente Vladimir Putin, teriam "libertado inúmeras cidades" e permitido que seus habitantes voltassem a "uma vida em paz".

Sanções

À medida que o conflito avança, os países ocidentais vêm aumentando a quantidade de armas enviadas à Ucrânia, bem como as sanções contra a Rússia, na tentativa de isolá-la e sufocar sua economia. Em seu último pacote de medidas (o sexto desde o início da invasão), na sexta-feira, a União Europeia adotou um embargo com exceções às compras de petróleo russo e incluiu na lista de sancionados a ex-ginasta Alina Kabaeva, suposta namorada de Putin.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, criticou, ontem, as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, que argumentou que não se deve "humilhar" a Rússia para permitir um caminho para negociações de paz. "Os apelos para evitar a humilhação da Rússia só servem para humilhar a França [...] Todos faríamos melhor se nos concentrássemos em colocar a Rússia em seu devido lugar", escreveu Kuleba no Twitter.

A guerra provoca temores de uma escassez global de alimentos — Rússia e Ucrânia são dois dos maiores exportadores de trigo do mundo. Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) informou sobre negociações discretas para desbloquear as toneladas de cereais paralisadas nos portos do Mar Negro.

A ONU alertou para "um furacão de fome" essencialmente em países africanos, que importam mais da metade de seu trigo desses países e onde os preços dos alimentos estão subindo vertiginosamente. O presidente da União Africana, o senegalês Macky Sall, reuniu-se com Putin em Sochi, no sul da Rússia.

Segundo Sall, o líder russo se mostrou "comprometido e ciente de que a crise e as sanções criam sérios problemas para economias frágeis". Em entrevista televisionada, Putin garantiu que "não é um problema" exportar cereais da Ucrânia.

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Destino de peregrinos

O mosteiro de Sviatohirsk é um dos mais conhecidos da Ucrânia e, antes da guerra, atraía milhares de peregrinos todos os anos. Segundo o presidente Volodymyr Zelensky, a igreja de madeira ficou totalmente destruída após ser atingida por um novo bombardeio russo. Um ataque anterior matou quatro monges. Na ocasião, estavam abrigados no local cerca de 300 civis, entre eles 60 crianças.

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