Imigração

Reino Unido expulsará migrantes para Ruanda

Na terça-feira (15/6), um Boeing 767, estacionado na base militar de Amesbury, no sul da Inglaterra, aguardava o embarque dos primeiros clandestinos

Correio Braziliense
postado em 15/06/2022 06:00
 (crédito: Simon Wohlfahrt/AFP)
(crédito: Simon Wohlfahrt/AFP)

O hostel de Kigali, capital de Ruanda, que servirá de abrigo para imigrantes ilegais que chegaram ao Reino Unido ilegalmente tem nome sugestivo: Hope ("Esperança", em inglês). Os quartos do estabelecimento estão prontos para receber os estrangeiros, no marco de um polêmico acordo firmado entre os governos britânico e ruandês. Londres ordenou a expulsão de pelo menos sete imigrantes, sob a alegação de agir por uma "questão de princípio". A Igreja Anglicana classificou a medida como "imoral". 

Na terça-feira (15/6), um Boeing 767, estacionado na base militar de Amesbury, no sul da Inglaterra, aguardava o embarque dos primeiros clandestinos. A previsão era de que a primeira leva partisse ainda à noite. No entanto, o voo foi cancelado depois de recursos legais de última hora. A Corte Europeia de Direitos Humanos chegou a anunciar o bloqueio da expulsão de um dos migrantes, por meio de uma medida cautelar de urgência.

"Último bilhete cancelado. Ninguém vai para Ruanda", comemorou a organização beneficente de apoio aos refugiados Care4Calais. A secretária do Interior, Priti Patel, disse que estava "desapontada", mas que não seria dissuadida. "A preparação para o próximo voo começa agora", avisou.

O envio de migrantes clandestinos e solicitantes de asilo para Ruanda, país do leste da África situado a 6.500km de Londres, é uma estratégia do governo do premiê Boris Johnson de desencorajar as chegadas ilegais ao Reino Unido, via Canal da Mancha, que não param de crescer. 

O projeto polêmico, mas popular entre o eleitorado conservador, foi aprovado pelos tribunais britânicos. Após a rejeição de vários recursos examinados com urgência nos últimos dias, o Supremo Tribunal britânico se recusou, ontem, a considerar novos recursos. No entanto, como resultado de diferentes recursos individuais, o voo fretado, que custa centenas de milhares de dólares e deveria decolar de Amesbury, provavelmente estaria quase vazio.

Liz Truss, ministra das Relações Exteriores do Reino Unido, minimizou a batalha judicial para travar as expulsões. "Haverá pessoas neste voo e, se não estiverem nele, estarão no próximo", afirmou à Sky News. "O que importa mesmo é estabelecer o princípio" e "quebrar o modelo de negócio dessas pessoas perversas, desses traficantes que comercializam a angústia" dos migrantes. "Não seremos dissuadidos ou prejudicados de jeito nenhum por algumas críticas", disse o primeiro-ministro, Boris Johnson.

"Solução inovadora"

O governo de Ruanda afirmou estar disposto a acolher "milhares" de migrantes e voltou a defender o acordo, considerando-o uma "solução inovadora" para um "sistema global de asilo defeituoso". Sob seu acordo com as autoridades ruandesas, Londres financiará inicialmente o plano com 120 milhões de libras (cerca de R$ 803,8 milhões).

"Esta política imoral envergonha o Reino Unido", disseram líderes da Igreja Anglicana, incluindo o arcebispo de Canterbury Justin Welby, o arcebispo de York Stephen Cottrell e 23 bispos, em uma carta publicada no jornal The Times. "Nossa herança cristã deve nos encorajar a tratar os solicitantes de asilo com compaixão, igualdade e justiça", enfatizaram. Truss rejeitou essas críticas. "Nossa política é totalmente legal. É totalmente moral", disse a ministra, assegurando que Ruanda é "um país seguro". "Os imorais, neste caso, são os traficantes", acrescentou. Aumentando a controvérsia, o príncipe Charles, o herdeiro de 73 anos do trono britânico, chamou o plano do governo de "terrível".

Os migrantes expulsos serão alojados no hostel Hope, que "não é uma prisão" e sim um hotel cujos moradores serão "livres" para sair, segundo seu diretor, Ismael Bakina. O estabelecimento tem capacidade para 100 pessoas, com um preço de US$ 65 (ou R$ 332) por pessoa por dia. 

 

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