LUTO

Bélgica devolve último resto mortal do herói da independência da RDC

O promotor belga Frederic Van Leeuw entregou a familiares de Lumumba uma pequena caixa azul durante a cerimônia

Agência France-Presse
postado em 20/06/2022 08:26
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Bruxelas, Bélgica- O governo da Bélgica restituiu nesta segunda-feira a parentes o último resto mortal - um dente - do herói independentista da República Democrática do Congo (RDC), Patrice Lumumba, em um passo para encerrar um capítulo sombrio de seu passado colonial.

O promotor belga Frederic Van Leeuw entregou a familiares de Lumumba uma pequena caixa azul que continha um dente - tudo que restou do herói assassinado - em uma cerimônia transmitida pela televisão

Na cerimônia, o primeiro-ministro belga Alexander De Croo admitiu que o governo belga da época teve uma "responsabilidade moral" nos acontecimentos que levaram à execução do herói nacional congolês.

Esta responsabilidade, afirmou De Croo, foi reconhecida pelo governo belga "e eu a repito (...) Gostaria aqui, na presença de sua família, de apresentar as desculpas do governo belga" por sua conduta naquele momento trágico.

A Bélgica, acrescentou De Croo, "denuncia de maneira inequívoca a colonização como sistema de governo e ideologia, tanto no Congo como em Burundi e Ruanda".

Tal sistema "provocou graves violações dos direitos humanos, discriminação de todo tipo e uma percepção dos congoleses totalmente inadequada por parte de alguns belgas".

O primeiro-ministro da RDC, Jean-Michel Sama Lukonde, destacou na cerimônia que seu país poderá finalmente prestar homenagem ao herói nacional, uma vez que o seu corpo nunca foi recuperado.

- Relíquia -


O dente deveria ser colocado em um caixão e levado para a República Democrática do Congo, que celebra Lumumba como um herói nacional na luta contra o colonialismo belga.

No final do período colonial belga no Congo, Lumumba formou o primeiro governo independente, mas o país passou a ser ameaçado de maneira imediata por um movimento secessionista na região de Katanga, apoiado pela Bélgica.

Depois de não conseguir o apoio da ONU para conter o movimento de secessão, Lumumba foi preso e executado em janeiro de 1961 ao lado de dois colaboradores, Maurice Mpolo e Joseph Okito. Os corpos nunca foram encontrados.

No ano 2000, um ex-policial belga, Gerard Soete, confessou à AFP sua participação na execução de Lumumba e afirmou que os corpos do herói independentista e de seus colaboradores foram dissolvidos em ácido.

"Não restou quase nada, apenas alguns dentes", acrescentou Soete, que faleceu pouco depois do depoimento. Ele guardou um dos dentes, que permaneceu durante anos em poder de sua família na Bélgica como um troféu.

Este é o dente que foi restituído à família de Lumumba e que será levado para a a RDC.

- Homenagens -


A República Democrática do Congo anunciou que organizará um luto nacional pela chegada e enterro dos restos mortais, de 27 a 30 de junho, para coincidir com o 62º aniversário da independência.

A família de Lumumba iniciou em 2011 um processo na Bélgica para obter explicações sobre as condições do assassinato do líder independentista.

Em fevereiro de 2019, um grupo de trabalho da ONU pediu à Bélgica a "a apresentar desculpas pelas atrocidades cometidas durante a colonização" da África (atual República Democrática do Congo, Ruanda e Burundi).

Em 2002, a Bélgica apresentou "desculpas" e "profundo e sincero arrependimento" ao povo congolês por seu papel na execução de Lumumba e anunciou a criação de um fundo para o "desenvolvimento democrático" da RDC.

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