Estados Unidos

Comitê acusa Trump de incitar invasão ao Capitólio

Congressistas responsáveis pela investigação dos eventos de 6 de janeiro de 2021 afirmam que mensagem do ex-presidente estimulou ataque ao prédio. Em reunião tensa, assessores sugeriram ao republicano a apreensão de máquinas de votação

Rodrigo Craveiro
postado em 13/07/2022 06:00
 (crédito: Joseph Prezioso/AFP - 06/01/2021)
(crédito: Joseph Prezioso/AFP - 06/01/2021)

A mensagem foi publicada, no Twitter, pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 19 de dezembro de 2020: "Grande protesto em D.C. (Distrito de Colúmbia). Estejam lá, será selvagem!". Dezoito dias depois, simpatizantes do republicano, incluindo integrantes da Oath Keepers e de outras milícias de extrema-direita, invadiram o Capitólio. O comitê de investigação criado pela Câmara dos Representantes (Deputados) para investigar o ataque ao Congresso, que deixou cinco mortos, acusou Trump de incitar a agressão à sede do Legislativo com o tuíte. Na audiência de ontem, os congressistas entrevistaram Jason Van Tatenhove, ex-porta-voz dos Oath Keepers, e Stephen Ayres, que se declarou culpado de participar da invasão, em 6 de janeiro de 2021. 

Na véspera do envio do tuíte, o magnata e assessores tiveram uma reunião tensa na Casa Branca, no que foi descrito como "o encontro mais louco" do governo Trump. Depoimentos colhidos do ex-procurador-geral William P. Barr e de auxiliares do então presidente indicam que membros da equipe de Trump, como o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn, chegaram a propor que o Exército apreendesse urnas em estados-chave, nos quais o republicano tinha sido derrotado. 

Os congressistas divulgaram vídeos em que milicianos de extrema-direita citavam o tuíte do republicano e falavam em matar democratas. "Isso se converteu em um convite abertamente homicida. Um deles, inclusive, citou a celebração de uma 'boda vermelha', que, na cultura popular, serve para se referir a um massacre", declarou Jamie Raskin, um dos legisladores encarregados da investigação.

O comitê também apresentou um rascunho de tuíte, utilizado como prova das intenções do ex-presidente. "Farei um grande discurso às 10h de 6 de janeiro, na Elipse (sul da Casa Branca). Por favor, cheguem cedo, uma imensa multidão é esperada. Depois, marcha até o Capitólio. Parem com o roubo!", escreveu Trump, que jamais enviou a mensagem. Documentos obtidos pelos congressistas junto ao Arquivo Nacional sugerem que Trump planejou um protesto rumo ao Congresso, mas pretendia que a decisão parecesse espontânea.

Testemunha

Por sua vez, Liz Cheney, vice-presidente do comitê, denunciou que o magnata tentou, recentemente, entrar em contato com uma testemunha não identificada, gesto que colocaria em risco a lisura do inquérito. "Deixem-me dizer uma vez mais: levaremos muito a sério qualquer esforço para influenciar testemunhas", advertiu. A testemunha citada teria se recusado a atender ao telefonema de Trump. 

Durante a audiência de ontem, o ex-porta-voz do Oath Keepers desabafou: "Acho que precisamos parar de medir palavras... Seria uma revolução armada. Isso poderia ter sido a faísca que iniciaria uma guerra civil". Jason Van Tatenhove também descreveu o grupo do qual fazia parte como "uma milícia violenta". "Eles são uma organização muito perigosa. Tivemos um vislumbre do que os Oath Keepers são, em 6 de janeiro de 2021", admitiu. "Tivemos sorte pelo fato de um banho de sangue ainda maior não ter ocorrido." Ao ser questionado sobre o motivo pelo qual decidiu invadir o Capitólio, Stephen Ayres respondeu que não planejava marchar até o prédio. "O presidente (Trump) irritou todo mundo e disse-nos para descermos até lá", afirmou.  

Cinco membros de outro grupo, os Proud Boys, foram indiciados em junho por acusações de conspiração sediciosa por atos ligados ao ataque ao Capitólio. Onze membros do Oath Keepers enfrentam acusações pelo mesmo crime e três deles se declararam culpados. Segundo a agência France-Presse, mais de 850 pessoas foram presas por associação com a invasão ao prédio do Legislativo. Nos Estados Unidos, o crime de conspiração sediciosa é passível de 20 anos de prisão. O comitê da Câmara pretende estabelecer as ligações entre Trump e as milícias.

Trump foi processado duas vezes por eventos envolvendo o ataque ao Capitólio. Foi absolvido pelo Senado após ser acusado pela Câmara de incitar a insurreição. Ontem, ele descreveu os membros do comitê como "bandidos e hackers políticos". "Já os viram antes?", perguntou. "Sim, são essencialmente os mesmos lunáticos que enlouqueceram o país com suas mentiras", disse o magnata, que amarga perda de popularidade entre os republicanos. Pesquisa divulgada ontem mostra que metade dos eleitores do partido pretende votar em outros nomes nas primárias.

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