Portugal

Grávidas são as maiores vítimas do caos na saúde em Portugal

O governo fechou um acordo para que seja apresentada uma série de propostas por parte do Estado para tentar resolver a situação. Mas os trabalhadores pedem urgência

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 27/07/2022 14:52 / atualizado em 27/07/2022 14:52
Partos estão sendo adiados e, em vários casos, grávidas são deslocadas de uma cidade para outra até serem atendidas -  (crédito: Pixabay)
Partos estão sendo adiados e, em vários casos, grávidas são deslocadas de uma cidade para outra até serem atendidas - (crédito: Pixabay)

Sempre citado como modelo de eficiência pelo governo, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Portugal está à beira do colapso. E as grávidas são as maiores vítimas do caos que assusta os portugueses. Sem médicos e enfermeiros suficientes para atendimento ao público, unidades de saúde de norte ao sul do país estão limitando os horários para urgências nas áreas de obstetrícia e ginecologia. Partos estão sendo adiados e, em vários casos, grávidas são deslocadas de uma cidade para outra até serem atendidas.

O Hospital de Aveiro, na região central de Portugal, já avisou que não haverá atendimentos a grávidas durante à noite em todo o mês de agosto. Em Lisboa, as restrições no Hospital São Francisco Xavier vão das 9h da noite desta sexta-feira às 9h da manhã de sábado e das 9h da noite de sábado às 9h da manhã de domingo. Em Almada, na margem sul da capital lusitana, as mesmas limitações foram impostas no Hospital Garcia de Orta. Tudo indica que esse quadro se estenderá ao longo do próximo mês.

A secretária de Estado de Saúde, Maria de Fátima da Fonseca, disse, em entrevista coletiva, que o governo está agindo para resolver os problemas emergenciais e para superar os gargalos de mais longo prazo. Uma das alternativas que está na mesa de negociação com os profissionais de saúde é aumentar o valor da hora extra dos médicos para até 90 euros. Segundo o secretário-adjunto de Saúde, António Lacerda Sales, esse valor é “justíssimo”.

As negociações com representantes dos médicos, por sinal, começaram efetivamente na terça-feira (26/07). Em reunião com integrantes do governo, que durou mais de sete horas, foi fechado um acordo para que seja apresentada uma série de propostas por parte do Estado. Mas os trabalhadores pedem urgência. “As propostas precisam ser aceleradas. O governo não pode esperar que a situação piore”, assinalou Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos. “A apresentação de propostas não significa sucesso nas negociações”, acrescentou Noel Carrilho, presidente da Federação Nacional dos Médicos.

O SUS português

O Sistema Nacional de Saúde de Portugal se assemelha ao SUS, o Sistema Único de Saúde do Brasil. No entender de representantes do setor, o governo português não se preparou para o aumento da demanda por serviços de saúde, que já vinha mostrando deficiências muito antes da pandemia do novo coronavírus. Agora, a situação degringolou de vez. E, sistematicamente, hospitais vêm suspendendo a prestação de serviços. Há alguns dias, uma grávida morreu à espera do parto em Caldas da Rainha, caso que provocou comoção nacional.

A perspectiva, dizem trabalhadores de hospitais, é de piora nas próximas semanas. Eles não acreditam em soluções depois do verão, período em que Portugal recebe milhões de turistas, que também procuram o SNS quando têm problemas. “Estamos vendo um ambiente de exaustão, desânimo e desesperança entre os médicos”, tem dito Manuela Soares, do Sindicato dos Médicos da Região Central de Portugal. Entre os enfermeiros, a quadro é o mesmo, reforçaram representantes da categoria. “Ou seja será um longo período de sofrimento para a população”, admitiu o agente de seguros, Carlos Melo, 36 anos.

“Durante os dias, o atendimento às grávidas está garantido em todos os hospitais”, assegurou o secretário-adjunto de Saúde. “Estamos procurando soluções para os problemas da noite”, acrescentou. A população, no entanto, se vê desamparada. “O que temos assistido é que, governo após governo, os problemas na saúde foram se acumulam e nada de concreto é feito para que os gargalos sejam superados”, afirmou Melo.

A oposição ao governo do primeiro-ministro António Costa não economiza nas críticas. Líder do Chega, partido de extrema direita, André Ventura afirmou que o Estado não está fazendo o suficiente para prestar serviços melhores à população. Ele destacou que os problemas não se resumem à área de saúde. Também há falta de policiais para fazer a segurança nas ruas das grandes cidades. Além disso, o sistema de recolhimento de lixo não está a contento, com dejetos se acumulando pelas vias públicas.

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