Entrevista

Visita de Pelosi a Taiwan viola princípio de "uma só China", diz diplomata chinês

Em entrevista exclusiva ao Correio, Jin Hongjun, encarregado de negócios da Embaixada da China no Brasil, disse que qualquer contramedida tomada por Pequim em resposta à ida de Pelosi a Taiwan é "justificada e necessária"

Rodrigo Craveiro
postado em 02/08/2022 22:44 / atualizado em 03/08/2022 09:43
Jin Hongjun é o encarregado de negócios da Embaixada da China no Brasil. -  (crédito: Divulgação/Embaixada da China no Brasil)
Jin Hongjun é o encarregado de negócios da Embaixada da China no Brasil. - (crédito: Divulgação/Embaixada da China no Brasil)

A visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan é vista pela China como "uma grave provocação política". Para o governo de Xi Jinping, a presença da congressista norte-americana em Taipei "viola severamente" o princípio de "Uma Só China" e estimula forças separatistas taiwaneses para que busquem a "independência". A advertência foi feita por Jin Hongjun, encarregado de negócios da Embaixada da China no Brasil. Em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, o diplomata chinês assegurou que qualquer contramedida tomada por Pequim em resposta à ida de Pelosi a Taiwan é "justificada e necessária". Hongjun afirmou acreditar que os 1,4 bilhão de chineses "em ambos os lados do Estreito de Taiwan são sábios e capazes o suficiente para resolver a questão de Taiwan e realizar a reunificação nacional".

De que modo a visita de Nancy Pelosi a Taiwan é uma ameaça direta à China?


Existe uma só China no mundo. Taiwan faz parte inalienável do território chinês, e o governo da República Popular da China é o único governo legítimo que representa toda a China. Isso é explicitamente reconhecido pela Resolução 2758 da Assembleia Geral das Nações Unidas. 181 países, inclusive os EUA, se comprometem a reconhecer e respeitar rigorosamente o princípio de "Uma Só China". Tal princípio é o núcleo dos interesses fundamentais da China e uma linha vermelha que jamais permitirá ser cruzada. A visita de Nancy Pelosi a Taiwan, ao escalar os intercâmbios oficiais dos EUA com Taiwan, constitui uma grave provocação política e viola severamente o princípio de "Uma Só China", infringe seriamente a nossa soberania e a integridade territorial, além de dar um sinal totalmente equivocado às forças separatistas de Taiwan para que busquem a chamada "independência". A parte chinesa não aceita isso de forma alguma.

A anexação de Taiwan está nos planos da China? Ou o seu país está satisfeito com o atual status quo de Taiwan?

Não existe a questão de "anexação de Taiwan" pela simples razão de que Taiwan é parte da China, e resolver a questão da "independência" de uma província do país para alcançar a reunificação nacional é assunto interno de um país, e não uma anexação. Foi promulgada pela legislatura chinesa a Lei Antissecessão, que regula a resolução de secessão. Entre as opções, está o emprego de força. O que quero enfatizar é que faremos o máximo para buscar uma resolução pacífica da questão de Taiwan com a firme determinação e a maior sinceridade. Acredito que os 1,4 bilhão de compatriotas chineses em ambos os lados do Estreito de Taiwan são sábios e capazes o suficiente de resolver a questão de Taiwan e realizar a reunificação nacional! 

Assim como os outros países com problemas de secessão, a China tampouco está satisfeita com o status quo, porém tem plena determinação e paciência para promover a resolução da questão de Taiwan de modo gradativo.

Pelosi disse que sua visita controversa a Taiwan demonstrou o forte compromisso com a autodeterminação da ilha. Como o senhor vê isso?

Trata-se de uma mentira escancarada, que evidencia o egoísmo e a hipocrisia de alguns políticos dos EUA. Em que momento os EUA realmente se importaram com a democracia em outros países? O que temos visto é que os EUA vêm interferindo sem cessar nos assuntos internos de outros países sob o pretexto da democracia e dos direitos humanos, impondo sanções unilaterais, desencadeando "revoluções coloridas" e até mesmo instigando guerras para derrubar o governo legítimo. Tal ato tem como base a "America First" e a "American Exception". Trata-se de uma prática de política de poder e hegemonismo. Acredita-se que esses atos egoístas, cheio de arrogância e de manipulação de padrões duplos, serão firmemente rejeitados pela comunidade internacional. 

A China prometeu ações militares seletivas em resposta à visita de Pelosi. Que tipos de respostas podemos esperar?

Ao executar a sua estratégia de "utilizar Taiwan para conter a China", os EUA vêm apoiando e dando facilidades às forças separatistas de Taiwan para que busquem a chamada "independência", provocando deliberadamente a China na questão de Taiwan, e se aproximando cada vez mais da linha vermelha e do limite da parte chinesa. Foi só depois das provocações conluiadas por parte dos EUA e Taiwan contra a China é que veio a legítima defesa chinesa. Diante das ações inescrupulosas dos EUA, em desrespeito às repetidas e solenes representações da China, quaisquer contramedidas chinesas são justificadas e necessárias. Trata-se de um direito devido de qualquer país soberano do mundo, sem falar a China, um grande país com uma história de mais de cinco milênios e uma população de mais de 1,4 bilhão de pessoas. As ações militares tomadas pela China mostram a seriedade com a qual tratamos do assunto, e evidenciam a nossa firme determinação e plena capacidade de combater, de forma resoluta, as forças separatistas de Taiwan. Como disse Confúcio há mais de 2.500 anos, as palavras devem ser honradas e as ações devem ser resolutas. A China já deixou claro que tomará uma série de contramedidas, e faremos o que dissemos.

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