Irã

Irã nega ataque a Salman Rushdie e culpa o próprio escritor e apoiadores

Em 1989, o então aiatolá Ruhollah Khomeini emitiu um fatwa (decreto religioso) em que cobrava o assassinato de Salman Rushdie e oferecia recompensa de US$ 3 milhões

Correio Braziliense
postado em 16/08/2022 06:00
 (crédito: Atta Kenare/AFP)
(crédito: Atta Kenare/AFP)

O Irã rompeu o silêncio e comentou o atentado sofrido pelo escritor anglo-indiano Salman Rushdie, durante uma conferência literária no Instituto Chautauqua, na cidade de mesmo nome, situada no estado de Nova York. "Nós não culpamos, nem reconhecemos digno de condenação, ninguém, exceto ele mesmo e seus apoiadores", declarou Naser Kanani, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, ao acrescentar que o intelectual — autor de Os versos satânicos — insultou a "santidade do islã" e cruzou os limites de mais de meio bilhão de muçulmanos.

Em 1989, o então aiatolá Ruhollah Khomeini emitiu um fatwa (decreto religioso) em que cobrava o assassinato de Salman Rushdie e oferecia recompensa de US$ 3 milhões. O escritor de 75 anos passou cerca de uma década sob proteção policial e vivendo na clandestinidade. Ele mora nos EUA desde 2000. 

As autoridades iranianas também negaram qualquer ligação com o norte-americano Hadi Matar, 24 anos, o homem que esfaqueou Rushdie, na última sexta-feira. "Negamos categoricamente qualquer relação entre o agressor e o Irã", e "ninguém tem o direito de acusar a República Islâmica", disse Kanani. Ele acrescentou que o Irã "não tinha nenhuma outra informação além do que a imprensa dos EUA informou". Rushdie ficou gravemente ferido — além de lesões no fígado, teve cortes no pescoço e corre o risco de perder um olho. 

A psicoterapeuta Linda Abrams, 68 anos, estava na primeira fileira do anfiteatro do Instituto Chautauqua e testemunhou o ataque. Em entrevista ao Correio, ela afirmou: "Eu não estou surpresa, você está?". "É preciso um coração poderoso para se alinhar com o amor, em vez de sucumbir ao medo e ao ódio", disse. "Essa divisão entre as pessoas nos apequena. A compaixão exige que sejamos maiores." Na sexta-feira, horas depois do atentado, ela contou o que viu. "Quando o moderador Henry Reese o apresentava à plateia, do lado esquerdo do palco, um homem saltou atrás de Rushdie e começou a golpeá-lo, muito rapidamente, com uma faca pequena. Havia muito sangue."

No sábado, Rushdie foi extubado, segundo Andrew Wylie, agente de Rushdie. Ele apresenta melhora significativa e deve restabelecer o movimento da mão, apesar de os nervos do braço terem sido afetados pelo ataque. Wylie afirmou, inclusive, que Rushdie conversa e apresenta bom humor. A polícia disse que Matar, morador de Fairfax, Nova Jersey, foi formalmente acusado de tentativa de homicídio, mas não forneceu mais detalhes sobre quem ele é ou a motivação para o ataque.

Aparentemente, a família de Matar é originária de Yaroun, cidade no sul do Líbano. Um jornalista da agência France-Presse que visitou a localidade relatou que os pais de Matar são divorciados e que seu pai, um pastor, ainda mora lá. Jornalistas que tentaram se aproximar dele foram expulsos.

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