GUERRA NO LESTE EUROPEU

Exército da Ucrânia avança na reconquista de territórios anexados pela Rússia

Tropas ucranianas avançam na ofensiva para reconquista de áreas territoriais anexadas à Rússia, que perdeu o controle integral das regiões. Após novos recuos, o Kremlin informou que consultará a população para delimitar extensão de terras

Correio Braziliense
postado em 04/10/2022 06:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Em meio à ofensiva de Kiev para retomar o controle de áreas de seu território anexadas à Rússia, o Kremlin reconheceu, ontem, que duas das quatro regiões agregadas estão sem fronteiras estabelecidas. Segundo o porta-voz Dmitri Peskov, isso será feito após a manifestação da população local. Na sexta-feira passada, o presidente Vladimir Putin anunciou a incorporação de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, que totalizam aproximadamente 15% de toda a Ucrânia. Desde então, porém, forças leais a Kiev têm avançado e Moscou já não tem mais o controle integral das províncias reclamadas.

"As repúblicas populares de Donetsk e Luhansk terão as fronteiras de 2014. Nos casos de Kherson e Zaporizhzhia, seguiremos a consultar a população dessas regiões", disse Peskov, ao ser perguntado se a Rússia estava anexando a totalidade ou apenas partes do território ocupado. Sem votos contrários ou abstenções, os parlamentares russos aprovaram, ontem, a favor de uma lei para anexar as quatro regiões.

O porta-voz não deu detalhes sobre como se desenrolará esse processo. "Disse tudo o que posso dizer sobre isso. De qualquer forma, a configuração dependerá apenas da vontade das pessoas que vivem nos territórios." A questão é que as forças russas não têm um controle completo sobre Kherson e Zaporizhzhia e o Kremlin não confirmou quais áreas da região foram anexadas.

As regiões de Donetsk e Lugansk foram anexadas em sua totalidade, depois que Moscou reconheceu a soberania dos regimes separatistas pró-Rússia no fim de fevereiro, pouco antes do início da invasão da Ucrânia. Mas o próprio Kremlin admitiu que as fronteiras das regiões de Kherson e Zaporizhzhia precisavam ser "esclarecidas".

Segundo o Institute for the Study of War (ISW), centro de pesquisas com sede nos Estados Unidos, Moscou controla 72% da região de Zaporizhzhia. Além disso, quase 88% de Kherson e sua capital de mesmo nome estão sob ocupação russa.

Forças ucranianas lançaram uma contraofensiva e, no fim de semana, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou a retomada da cidade estratégica de Lyman, na região de Donetsk. Ontem, forças leais a Kiev avançaram em Kherson e autoridades russas admitiram recuo de suas tropas.

A anexação foi desencadeada a toque de caixa. No fim do mês passado, o governo Putin organizou às pressas referendos nas quatro regiões ucranianas, votações criticadas como "farsas" pela Ucrânia e seus aliados ocidentais. Os resultados parciais mostraram maioria a favor da anexação russa dos territórios e Putin armou a cerimônia da última sexta-feira para formalizar a medida.

A Ucrânia respondeu pedindo um processo de adesão acelerada à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e advertiu que não vai negociar com a Rússia enquanto Putin estiver no poder.

Crimes

Na França, a primeira-ministra Elisabeth Borne afirmou, durante debate na Assembleia Nacional, que os crimes cometidos pela Rússia na Ucrânia devem ser "documentados, julgados e punidos". "É uma condição essencial para o retorno de uma paz duradoura", declarou a premiê, assinalando que Moscou "usa armas sem critério, tendo como alvo civis, escolas, hospitais, shoppings, caravanas humanitárias".

Segundo Borne, "nos territórios ocupados, assiste-se à transferências forçadas da população, inclusive de crianças". A premiê francesa denunciou a presença, no front de batalha, do grupo Wagner, uma "empresa de mercenários, que recebe ordens diretamente do Kremlin".

Elisabeth Borne também manifestou preocupação com a situação da central nuclear de Zaporizhia, sob controle da Rússia. Ela indicou que seu governo apoia a proposta do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, "de cessar os disparos e retirar material militar da área".

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Diretor de usina nuclear é solto

O diretor-geral da central nuclear ucraniana de Zaporizhia, detido na sexta-feira passada pela Rússia, que controla essa instalação, foi liberado. A soltura foi anunciada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que mantém especialistas no local desde o mês passado. "Saúdo a libertação de Igor Murashov", tuitou o diretor-geral da agência, Rafael Grossi. "Recebi a confirmação de que voltou para casa são e salvo", acrescentou.

Murashov foi detido por uma patrulha russa, quando ia da usina para a cidade de Ernogodar, controlada por tropas de Moscou, de acordo com a operadora ucraniana Energoadom. O veículo que transportava o diretor da central foi interceptado. Ele teria sido retirado do carro e "levado, com os olhos vendados, para um local desconhecido", segundo informações.

No dia seguinte, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, condenou o que chamou de detenção ilegal. "Esse crime é um novo ato de terrorismo de Estado por parte da Rússia e representa uma grave violação do direito internacional", criticou. A central nuclear de Zaporizhia, a maior da Europa, está ocupada desde o início de março por tropas russas.

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