Reino Unido

Reino Unido: Liz Truss luta para permanecer no cargo após veto em plano econômico

Acuada, Truss viu-se obrigada a abandonar, ontem, uma de suas principais promessas de campanha: o aumento das aposentadorias em consonância com a inflação crescente

Rodrigo Craveiro
postado em 19/10/2022 06:00
 (crédito: Daniel Leal/AFP)
(crédito: Daniel Leal/AFP)

Há 43 dias em 10 Downing Street, a primeira-ministra conservadora britânica, Liz Truss, tenta se aferrar ao poder e sobreviver no cargo, depois de o novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, vetar as medidas econômicas anunciadas pelo antecessor, Kwasi Kwarteng, adepto do chamado "Trussonomics" — empréstimos maciços não financiados para permitr que os impostos sejam reduzidos. Com amplos poderes para buscar contornar a crise econômica e aplacar os ânimos do mercado, Hunt assumiu o posto no último dia 15 admitindo "erros" do governo e anunciando que tomaria decisões difíceis. 

Acuada, Truss viu-se obrigada a abandonar, ontem, uma de suas principais promessas de campanha: o aumento das aposentadorias em consonância com a inflação crescente. A premiê pediu aos ministros que busquem cortar gastos. O governo, no entanto, manteve o compromisso de ampliar os gastos com a defesa nacional até 3% do orçamento antes de 2030. 

Professor emérito da Universidade de Buckingham, Anthony Glees lembrou ao Correio que Truss venceu as eleições e tornou-se premiê com base em um mantra "simplista": a necessidade de crescimento econômico, e a visão de que não se pode taxar o caminho para o progresso. "Era uma alternativa direta às políticas do antecessor Boris Johnson, centradas no combate à inflação e no pagamento dos empréstimos maciços contraídos pelo Estado durante a pandemia da covid-19", explicou. 

Segundo Glees, o "Trussonomics" assustou os mercados, que não acreditavam que o Reino Unido estaria em condições de pagar os 200 bilhões de libras esterlinas necessários (R$ 1,1 trilhão). "Ontem (segunda-feira), Hunt reverteu cada medida apresentada por Truss, que está no fundo do poço. Ela detém a menor aprovação entre todos os premiês do Reino Unido. Ela está no cargo, mas não no poder. Para mim, é simplesmente uma questão sobre quando será demitida, não de 'se'. Falta a Truss autoridade política. Na segunda-feira, durante sessão do Parlamento, ela ficou em silêncio e pálida, ao ver Hunt destruir quase todo o seu plano econômico. Foi uma terrível demonstração de impotência, de total humilhação", disse.

As mais recentes pesquisas de opinião apontam que o Partido Trabalhista tem uma aprovação entre 43% e 50%, enquanto os conservadores flutuam entre 21% e 28% e os liberais-democratas, 13%. Se as eleições gerais ocorressem hoje, os trabalhistas ganhariam 411 assentos e os conservadores perderiam 219, cedendo ao Partido Nacional Escocês (SNP) a condição de principal oposição. Para Glees, o novo panorama político seria o reflexo de uma crise nacional sem precedentes. 

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27/05/2018. Crédito: Arquivo Pessoal. Anthony Glees, professor da Universidade de Buckingham.
27/05/2018. Crédito: Arquivo Pessoal. Anthony Glees, professor da Universidade de Buckingham. (foto: Arquivo pessoal)

"O que quer que Liz Truss faça, ela está acabada. Se tentare manter-se no poder, a difícil situação econômica e o retorno à austeridade sob a gestão de Jeremy Hunt. Se Truss convocasse uma eleição geral, também seria derrotada. Todas as suas escolhas seriam igualmente ruins para ela. Truss perdeu toda a credibilidade política. Creio que ela tenha dias, talvez horas, talvez semanas, antes de ser destituída."

Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham 

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