Diplomacia

Encontro entre Biden e Macron marca reforço na aliança contra a Rússia

Durante visita de Emmanuel Macron a Washington, o presidente francês e Joe Biden prometem apoiar a Ucrânia "pelo tempo que for necessário" e trabalhar juntos para responsabilizar Putin pela guerra

Rodrigo Craveiro
postado em 02/12/2022 06:00
 (crédito: Jim Watson/AFP)
(crédito: Jim Watson/AFP)

Aliados históricos, os presidentes Joe Biden (Estados Unidos) e Emmanuel Macron (França) aproveitaram a visita oficial do europeu à Casa Branca para reforçar os laços de amizade, aparar as divergências e destacar a posição simétrica em relação à guerra na Ucrânia. Em comunicado conjunto divulgado ao fim do encontro, ambos garantiram que Washington e Paris continuarão apoiando o governo de Volodymyr Zelensky "pelo tempo que for necessário" e se comprometeram a fornecer "ajuda política, de segurança, humanitária e econômica".

Durante a entrevista coletiva, Biden não economizou críticas ao presidente russo, Vladimir Putin, e prometeu interceder pela punição do chefe do Kremlin. "Putin acha que pode esmagar a vontade de todos aqueles que se opõem às suas ambições imperiais, ao atacar a infraestrutura civil e a Ucrânia, bloqueando a energia para a Europa para inflacionar os preços, exasperando os alimentos em meio à crise alimentar. (...) Ele não conseguirá. O presidente Macron e eu decidimos que continuaremos a trabalhar, juntos, para responsabilizar a Rússia por suas ações e para mitigar os impactos globais da guerra de Putin", declarou o democrata. 

Biden também revelou a disposição de conversar com Putin pela primeira vez desde o começo da invasão, 281 dias atrás. No entanto, impôs uma condição: o presidente russo precisa realmente desejar colocar fim à guerra. "Vamos continuar apoiando o povo da Ucrânia frente à brutalidade da Rússia", reforçou o norte-americano. "Queremos ter sucesso juntos, não um contra o outro", completou Macron.

Os dois líderes fizeram questão de emitir sinais e palavras que sublinhassem a sólida aliança entre seus países. Ao caminhar até o Salão Oval da Casa Branca, Macron chegou a colocar a mão sobre o ombro de Biden. O norte-americano disse que os EUA "não poderiam pedir um parceiro melhor" e classificou como "essencial" a aliança com os franceses.

"Nosso destino comum é respondermos juntos aos desafios do mundo", comentou Macron, ao enaltecer que os Estados Unidos e a França são "irmãs na defesa da liberdade". Na noite de ontem, o presidente francês foi homenageado com um jantar de gala, na Casa Branca, na presença de 300 convidados. No cardápio, lagosta do Maine escalfada com manteiga, carne bovina com marmelada de chalota e batatas na manteiga cozidas três vezes. 

Antecipação

Especialista da Escola de Análise Política (naUKMA), em Kiev, Anton Suslov lembrou ao Correio que, desde o início da invasão à Ucrânia, a posição dos Estados Unidos tem sido mais radical e proativa do que a da União Europeia. "Os norte-americanos vêm negociando apoio à Ucrânia com seus parceiros europeus. Ao mesmo tempo, o presidente Macron gastou horas em conversas com Putin, tentando apaziguar o agressor. Hoje (ontem), o francês também mencionou a possibilidade de novos contatos com o homólogo russo", afirmou.

No entanto, Suslov lembra que a posição de Macron evoluiu desde 24 de fevereiro. "As declarações de hoje (ontem) provam que Paris percebe a necessidade de vitória da Ucrânia, não apenas para os próprios ucranianos, mas também para a Europa e para a ordem mundial. É por isso que os EUA e a França continuam a oferecer equipamentos militares e munições", disse.

O especialista avalia que as palavras de Macron durante a visita à Casa Branca são importantes para o governo Biden. "Elas mostram aos contribuintes que os EUA não são a única nação que gasta grande quantidade de recursos em defesa da Ucrânia", acrescentou. 

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Lavrov adverte sobre risco "enorme" de guerra nuclear

Durante entrevista coletiva em Moscou, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, alertou ontem que a ajuda do Ocidente pode agravar o conflito até o uso de armas de destruição em massa. "O risco de escalar a uma guerra nuclear é enorme", afirmou o chanceler. Lavrov também descreveu as declarações do papa Francisco sobre as "cruéis" minorias étnicas russas que participam da intervenção militar na Ucrânia como pouco cristãs. "O papa Francisco recentemente fez declarações incompreensíveis, nada cristãs, designando duas nacionalidades na Rússia, para dizer que atrocidades em combate militar podem ser esperadas delas", disse o chefe da diplomacia de Moscou. "Isso não ajuda a autoridade da Santa Sé", acrescentou. Em eentrevista a um jornal jesuíta, Francisco descreveu como cruel o comportamento dos chechenos e buriates que lutam no Exército russo na Ucrânia.

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