Oriente Médio

Israel: Premiê promete expandir assentamentos judaicos

Premiê de Israel toma posse com a prioridade de expandir colônias na Cisjordânia e o desafio de fortalecer a segurança. Governo será formado pela extrema-direita e por judeus ultraortodoxos

Rodrigo Craveiro
postado em 29/12/2022 06:00
 (crédito: Menahem Kahana/AFP)
(crédito: Menahem Kahana/AFP)

Depois de 5.570 dias como chefe de governo de Israel, Benjamin Netanyahu retorna ao posto de primeiro-ministro, hoje, com uma meta prioritária: a expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia. Sob o respaldo de uma coalizão com a extrema-direita e com os judeus ultraortodoxos, o líder do Partido Likud delineou as prioridades de sua gestão. "Estas são as linhas básicas do governo nacional comandado por mim. O povo judeu tem um direito exclusivo e inalienável em todas as partes da terra de Israel. O governo promoverá e desenvolverá assentamentos em todas as partes da Terra de Israel — na Galileia, no Negev, no Golã, na Judeia e em Samaria", declarou Netanyahu. A ideia é legalizar dezenas de postos avançados erguidos fora da lei e anexar o território ocupado. 

Ele também prometeu trabalhar "ativamente" para reforçar a segurança nacional e combater a violência e o "terrorismo" com "determinação". "O governo trabalhará para continuar a luta contra o programa nuclear iraniano. O governo trabalhará para fortalecer o status de Jerusalém", acrescentou. Netanyahu mencionou os pedidos dos aliados da extrema-direita para que o Exército tenha maior margem de manobra para utilizar a força na Cisjordânia — território árabe  capturado por Israel em 1967, onde hoje vivem 500 mil judeus em meio a 2,5 milhões de palestinos.  

Professor de ciência política da Universidade Bar-Illan (em Ramat Gan, subúrbio de Tel Aviv), Eytan Gilboa afirmou ao Correio que a coalizão de governo de Netanyahu carece de estabilidade. "Ainda que a aliança seja composta pela centro-direita e pela extrema-direita, as negociações que Netanyahu conduziu para formar o governo revelaram muitas competições e contradições. Elas provavelmente explodirão, mais cedo ou mais tarde", advertiu. 

Pressão

Para Gilboa, a decisão de Netanyahu de priorizar a construção de assentamentos na Cisjordânia não deverá agravar o conflito israelo-palestino ou levar a nova onda de violência. "Isso não ocorrerá por causa da pressão doméstica e por parte dos EUA. A política atual de expansão dos assentamentos para acomodar o crescimento natural dos filhos e filhas dos moradores atuais provavelmente continuará com algumas modificações."

O especialista lembrou que, nos últimos seis meses, houve um aumento do "terrorismo palestino" e uma tentativa de Israel de usar a força como meio de prevenção. Ainda segundo Gilboa, ao longo da última década, judeus e árabes não alcançaram nenhum acordo de paz devido à rejeição e à procrastinação palestina. "O Hamas e o Fatah lutam entre si e se preparam para uma batalha de sucessão depois que o presidente palestino, Mahmud Abbas, se retirar do posto."

Colega de Gilboa na Universidade Bar-Illan, Gerald Steinberg disse à reportagem que, durante 55 anos, não houve solução para a Cisjordânia, e o governo de Israel ficou desprovido de um parceiro palestino para a paz. "A situação legal 'temporária' e pouco clara de longo prazo deixou de ser sustentável para milhares de israelenses. Netanyahu prometeu normalizar a situação deles, mas não há compromisso para construir assentamentos."

A política de defesa de Israel ficará sob responsabilidade de Yoav Galant, de 64 anos, nomeado ministro. Filho de sobreviventes do Holocausto, ele foi alçado ao posto de general em 2002. No fim da década de 1990, comandou uma divisão militar que controlava a Faixa de Gaza. De acordo com a agência de notícias France-Presse, Bezalel Smotrich, líder da formação de extrema direita Sionismo Religioso, será o ministro encarregado de assuntos civis na Cisjordânia ocupada. Por sua vez, o Knesset (Parlamento de Israel) terá a direção de Amir Ohana, deputado abertamente homossexual. 

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Crédito: Arquivo Pessoal. Gerald M. Steinberg, professor do departamento de estudos políticos da Universidade Bar Ilan, em Israel.
Crédito: Arquivo Pessoal. Gerald M. Steinberg, professor do departamento de estudos políticos da Universidade Bar Ilan, em Israel. (foto: Arquivo pessoal)

"Netanyahu continuará a cooperação econômica e de segurança com a Autoridade Palestina e buscará estabilidade em outras áreas. Em relação a iniciativas de paz, isso dependerá de quem suceder o presidente Mahmoud Abbas e se o Hamas e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) encerrarão o conflito e negociarão com Israel. Embora improvável, se isso ocorrer, o histórico mostra que Netanyhu considerará opções realistas que não exponham os israelenses a riscos maiores de terror."

Gerald Steinberg, professor de ciência política da Universidade Bar-Illan

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