No segundo dia de viagem pelo Oriente Médio, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, visitou ontem Israel e fez um apelo aos anfitriões e aos palestinos para distensionarem o conflito. "Agora pedimos a todas as partes que tomem medidas urgentes para recuperar a calma e (iniciar) uma desescalada", declarou o chefe da diplomacia de Washington, ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. "Queremos garantir que haja um ambiente no qual possamos, espero que em algum momento, criar as condições para começar a restaurar um sentimento de segurança tanto para israelenses como para palestinos", acrescentou. No domingo, ele se reuniu, no Cairo, com o presidente do Egito, Abdel Fattah El-Sisi, e com o chanceler, Sameh Shoukry.
Blinken destacou que o compromisso dos EUA com a segurança de Israel permanece inabalável e defendeu a visão de dois Estados — um judeu e outro palestino. "Qualquer coisa que nos afaste dessa visão é, em nosso julgamento, prejudicial para a segurança a longo prazo de Israel e para sua identidade de longo prazo como um Estado democrático e judeu", declarou. "Queremos assegurar que haja um ambiente no qual possamos, em algum momento, criar as condições para restaurar um senso de segurança para os israelenses e os palestinos."
Na última quinta-feira, uma incursão de Israel no campo de refugiados de Jenin, sob o pretexto de frustrar um complô da Jihad Islâmica, deixou nove palestinos mortos. No dia seguinte, um palestino matou sete israelenses em uma sinagoga, em Jerusalém. No sábado, um palestino de 12 anos disparou contra pai e filho judeus, ao lado da Cidade Velha de Jerusalém.
O secretário dos EUA reforçou que concorda com Israel sobre o fato de que o Irã jamais deve ter permissão para adquirir arma nuclear. "Nós discutimos o aprofundamento da cooperação para enfrentar e combater as atividades desestabilizadoras do Irã na região. (...) O regime está fornecendo drones que a Rússia utiliza para matar civis ucranianos inocentes", disse Blinken. Hoje, ele deverá desembarcar em Ramallah (na Cisjordânia), para um encontro com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.
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Pouco efeito
Professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio, Alon Ben-Meir admitiiu ao Correio que o apelo de Blinken pela contenção deve surtir pouco efeito inicialmente. "Não acredito que a violência seja contida, principalmente porque os palestinos não detêm o controle completo sobre muitos grupos extremistas. Israel também carece de domínio absoluto sobre as ações de muitos dos colonos", disse. Ele acredita que a manutenção da calma depende mais do que apelos. "É preciso tomar ações concretas no terreno, o que não acho que ocorrerá enquanto Itamar Ben-Gvir, um 'falcão' na política, permanecer no comando da segurança nacional."
Para Ben-Meir, não existem condições maduras, no terreno, para negociações de paz sérias. "Infelizmente, mesmo os Estados Unidos, com seus melhores esforços, não serão capazes de fazer com que as duas partes se sentem e entrem em um diálogo significativo. O melhor que podem fazer é realizar um esforço supremo para manter a calma por um período de tempo mais longo, a fim de criar ambiente fértil para negociações substantivas. Mais uma vez, não vejo isso acontecendo tão cedo."
Por sua vez, o palestino Bishara Bahbah — vice-presidente do Conselho Palestino dos EUA — concorda que o importante, agora, são as ações tomadas principalmente pelos Estados Unidos e por Israel. "A violência do povo palestino é uma indicação de sua frustração e da descrença em relação ao futuro do processo de paz e à interminável ocupação israelense. O governo de Joe Biden tem sido incapaz de implementar duas promessas feitas durante a campanha: as reaberturas do consulado dos EUA em Jerusalém Oriental e do escritório da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em Washington", lembrou.
Bahbah entende que isso mostra a impotência da Casa Branca. De acordo com ele, a única medida que poderia reduzir tensões é a retomada das negociações de paz. "Sem uma solução baseada em dois Estados, testemunharemos a violência repetidas vezes. A Autoridade Palestina está desamparada e, na minha opinião, deveria se dissolver e se instalar no exílio, em um país vizinho árabe, talvez a Argélia". Segundo o palestino, Biden deixou claro, desde o começo, que o conflito israelo-palestino não é prioridade para Washington.
Eytan Gilboa, professor de comunicação política da Universidade Bar Ilan (em Ramat Gan, subúrbio de Tel Aviv), disse que o principal assunto abordado por Blinken com Netanyahu foi a adoção de medidas para impedir o Irã de se tornar potência nuclear. Ele explicou que, depois dos "violentos confrontos com terroristas da Jihad Islâmica", em Jenin, e de atentados contra judeus em Jerusalém, Israel discute ações de combate ao terror. "Blinken pediu a Israel que se abstenha de retaliações duras e que a Autoridade Palestina renove a coordenação de segurança com o Estado judeu e estabeleça seu domínio sobre Jenin e outras cidades na Cisjordânia."
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"Os EUA não pressionarão Israel a se sentar na mesa de negociações. Mesmo que o fizesse, Israel pode escolher concordar com um número de temas no papel. Quando chegar a hora de implementar qualquer tema acordado com os palestinos, Israel encontrará obstáculos para impedir sua efetivação. Neste momento, Israel está em vantagem e não mostra interesse em compromissos com os palestinos que os forçariam a desistir de uma polegada da terra."
Bishara Bahbah, vice-presidente do Conselho Palestino dos Estados Unidos
"O governo Biden sabe que, ante a debilidade e a impopularidade da Autoridade Palestina e de Mahmud Abbas, e o governo de direita de Israel, não há chance de uma solução negociada para o conflito. Os EUA condenaram fortemente o terrorismo palestino e a incitação ao ódio e à violência, e pediram a Israel que mantenha o status quo sobre o Monte do Templo e a Cisjordânia."