Paquistão

Entenda como ocorreu o atentado que deixou 63 mortos em mesquita no Paquistão

Sob a condição de anonimato, um policial paquistanês que estava de folga ontem contou ao Correio que perdeu cerca de dez amigos no atentado

Rodrigo Craveiro
postado em 31/01/2023 06:00
 (crédito: Maaz Ali / AFP)
(crédito: Maaz Ali / AFP)

O homem-bomba estava na primeira fileira, disfarçado em meio aos cerca de 300 fiéis que oravam, pouco depois do almoço, em uma mesquita localizada dentro do quartel-general das forças de segurança de Peshawar (noroeste) e do departamento de luta antiterrorismo, em uma região conhecida como Linhas da Polícia. A explosão fez com que o teto desabasse, desmoronou uma das paredes do templo islâmico e matou pelo menos 63 pessoas — outras 150 ficaram feridas. O número de mortos deve aumentar nas próximas horas, uma vez que muitas vítimas estão sob os escombros. "Há muitos policiais soterrados nos escombros", anunciou o comandante da polícia de Peshawar, Muhammad Ijaz Khan, citado pela agência de notícias France-Presse. O grupo terrorista Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP ou Talibã paquistanês) reivindicou a autoria do massacre. 

Sob a condição de anonimato, um policial paquistanês que estava de folga ontem contou ao Correio que perdeu cerca de dez amigos no atentado. "Na verdade, quase todos os mortos eram meus colegas, pois a maioria deles era formada por policiais", afirmou. "Perdemos muitos colegas e oramos por eles. Eu escutei a explosão por volta das 13h40 (5h40 em Brasília). Foi uma detonação muito poderosa." Segundo ele, o ataque semeou medo e luto em Peshawar — cidade de 1,97 milhão de habitantes. "As pessoas se sentem bastante inseguras. Muitos moradores correram para ajudar os policiais e a remover os feridos para os hospitais."

Outro policial, identificado como Numan Bacha, não se surpreendeu com o atentado e lembrou que a força alvejada pelo homem-bomba, a Polícia KPK, tem combatido o terrorismo há muito tempo, com "coragem". "Os sacrifícios dos heróis mortos darão frutos um dia e ajudarão a trazer paz à minha terra", disse. Um policial ferido relatou à emissora Geo TV que a explosão ocorreu no momento em que a oração pronunciava a frase "Alá é o maior".

Ao retornar de Peshawar, o primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, disse que "a escala absoluta da tragédia humana é inimaginável". "Isso não é menos do que um ataque ao Paquistão. A nação é dominada por um profundo sentimento de pesar. Não tenho dúvidas de que o terrorismo é nosso principal desafio de segurança nacional", declarou. Ele enviou uma mensagem aos autores do atentado de ontem: "Vocês não podem subestimar a determinação de nosso povo".

"Repugnante" foi o termo utilizado por António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ao repudiar o atentado. "O secretário-geral condenou firmemente a explosão suicida que ocorreu em uma mesquita de Peshawar, no Paquistão, hoje (ontem) cedo", disse à imprensa o porta-voz, Stéphane Dujarric. "É particularmente repugnante que tal ataque tenha ocorrido em um local de culto." 

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Insurgência islâmica

 

Aliado da rede terrorista Al-Qaeda, o grupo extremistaTehrik-i-Taliban Pakistan(TTP) tem atuado como uma insurgência no Paquistão ao longo dos 15 últimos anos. A facção luta pela imposição de leis islâmicas mais rigorosas e pela libertação de prisioneiros. Em um comunicado, o TTP explicou que o ataque de ontem foi uma retaliação à morte de um combatente no Afeganistão, no ano passado. Apesar de ser chamado de Talibã paquistanês, o TTP não tem vínculos com a liderança do Talibã afegão, apesar de compartilhar a ideologia e a mesma origem. Em dezembro de 2014, assassinou 141pessoas, em sua maioria crianças, em uma escola administrada pelo Exército, também em Peshawar.

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