FRANÇA

Protestos contra a reforma previdenciária ganham força na França

As medidas que cristalizam a insatisfação social são o progressivo adiamento, até 2030, da idade da aposentadoria, que passaria de 62 para 64 anos, além de antecipar para 2027 a obrigatoriedade de contribuição por 43 anos

Agence France-Presse
postado em 31/01/2023 19:01 / atualizado em 31/01/2023 19:01
 (crédito: STEPHANE DE SAKUTIN / AFP)
(crédito: STEPHANE DE SAKUTIN / AFP)

A França foi palco para os maiores protestos contra uma reforma social nas últimas décadas, nesta terça-feira (31), a pedido dos sindicatos, que convocaram novas manifestações na semana que vem para forçar o governo a abandonar seu plano de adiar a idade de aposentadoria.

"O governo precisa ouvir a rejeição em massa a este projeto e retirá-lo", disse Patricia Drevon, sindicalista do FO, após uma reunião das centrais sindicais, convocando novos protestos na próxima semana, na terça-feira (7/2) e sábado (11/2).

As duas medidas que cristalizam a insatisfação social são o progressivo adiamento, até 2030, da idade da aposentadoria, que passaria de 62 para 64 anos, além de antecipar para 2027 a obrigatoriedade de contribuição por 43 anos – e não 42, como agora – para receber o valor integral.

"Não quero trabalhar mais tempo. Tenho um trabalho duro e estarei destruída aos 62 anos. Não é física, nem moralmente, viável", disse à AFP Sylvie Dieppois, uma ajudante de cozinha que protestou em Rouen (noroeste).

A mobilização foi maior que a de 19 de janeiro e que o recorde anterior registrado em 2010, quando o governo do então presidente conservador Nicolas Sarkozy acabou com a idade de aposentadoria aos 60 anos.

As autoridades indicaram que 1,272 milhão de pessoas saíram às ruas nesta terça-feira, número que o sindicato CGT estimou em 2,8 milhões. Segundo o jornal Le Monde, trata-se, de qualquer forma, de "um recorde contra uma reforma social desde 1995".

Paris, onde 30 pessoas foram detidas por confrontos com as forças de segurança, registrou a maior manifestação com 87 mil pessoas (500 mil segundo a CGT). A participação também aumentou na maioria das outras cidades francesas: 40 mil em Marselha; 28 mil em Nantes; 23 mil em Rennes, entre outros, segundo a polícia.

Em contrapartida, os funcionários públicos em greve foram em menor número na educação – um em cada quatro professores, de acordo com o governo; o dobro, segundo os sindicatos –, assim como na ferroviária SNCF (36,5%), segundo uma fonte sindical.

A ponta de lança veio, desta vez, do setor de energia. As centrais nucleares registraram uma queda de produção de cerca de 3.000 MWh, informou a empresa EDF. De acordo com a CGT, entre 75% e 100% do pessoal das refinarias e dos depósitos da TotalEnergies aderiram à paralisação.

"Dúvidas" 

Os manifestantes querem que o governo do presidente liberal Emmanuel Macron desista de endurecer as condições de acesso à aposentadoria integral. Desde que chegou ao poder em 2017, Macron, de 45 anos, defendeu a vontade de "sacudir" o sistema com suas reformas liberais, como a da Previdência, fundamental em sua agenda.

A idade de aposentadoria na França é uma das mais baixas da Europa e aproximá-la dos vizinhos no continente é uma tentativa de garantir o equilíbrio futuro nas contas da Previdência, segundo o presidente, um ex-banqueiro.

Embora a sua primeira-ministra, Élisabeth Borne, tenha advertido no domingo que o adiamento para 64 anos "já não era negociável", na sua primeira reação aos protestos desta terça-feira, ela disse compreender que havia "dúvidas" e pediu o "enriquecimento" do projeto no Parlamento.

No entanto, depois que a pandemia obrigou a cancelar uma primeira tentativa de aprovar o projeto, o governo optou por um polêmico procedimento parlamentar que lhe permite aplicar o plano atual se as duas casas do Parlamento não chegaram a um veredicto até o final de março.

Com a já anunciada rejeição da frente de esquerda do Nupes e da extrema direita, o governo espera obter apoio importante no Parlamento do partido de direita Os Republicanos (LR), a favor de uma reforma, mas dividido sobre se deve apoiar o projeto atual.

A rejeição popular, atualmente em torno de 70% segundo as pesquisas, aumenta a pressão. Além disso, segundo uma pesquisa da Odoxa, dois em cada três franceses têm uma opinião negativa sobre o presidente e sua primeira-ministra.

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