Tragédia

Ajuda é lenta para Turquia e Síria, após terremoto que matou mais de 25 mil

O Programa Mundial de Alimentos da ONU pediu US$ 77 milhões para fornecer rações de alimentos a pelo menos 590.000 pessoas deslocadas pelo terremoto na Turquia, e 284.000, na Síria

Agência France-Presse
postado em 11/02/2023 14:52
 (crédito: Karim Sahib/AFP)
(crédito: Karim Sahib/AFP)

Kahramanmaras, Turquia - A ajuda internacional chega lentamente neste sábado (11/2) a partes da Turquia e da Síria devastadas pelo forte terremoto que deixou 25.401 mortos — 21.848 na Turquia, e 3.553, na Síria —, além de centenas de milhares de necessitados e desabrigados.

O frio na região dificulta os resgates e agrava a tragédia de uma população desesperada. Segundo a ONU, pelo menos 870 mil pessoas precisam urgentemente de alimentos e, apenas na Síria, 5,3 milhões de pessoas ficaram sem ter onde morar.

Com medo de voltare para suas casas, ou porque elas não existem mais, milhares de pessoas dormem em barracas de campanha, ou em seus carros, e se reúnem em fogueiras para se aquecerem. Mas, em meio à morte e destruição, as equipes de resgate continuam encontrando sobreviventes.

"O mundo está aí?", perguntou Menekse Tabak, de 70 anos, ao ser retirada dos escombros na cidade turca de Kahramanmaras, epicentro do terremoto, sob aplausos, segundo vídeo divulgado pelo emissora pública TRT Haber.

Na cidade de Hatay, também no sul, uma menina de dois anos foi encontrada viva 123 horas após o terremoto, informou o site do jornal Hurriyet, mas sua família, ainda não.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU pediu US$ 77 milhões para fornecer rações de alimentos a pelo menos 590.000 pessoas deslocadas pelo terremoto na Turquia, e 284.000, na Síria.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, chegou neste sábado à cidade síria de Aleppo, fortemente atingida pelo terremoto, para visitar hospitais e centros de acolhimento, junto com as autoridades locais.

Ao chegar, Tedros disse que viajava com "em torno de 37 toneladas de suprimentos médicos de emergência" e que, amanhã, haverá outra rodada com mais de 30 toneladas de ajuda. A OMS estima que o sismo possa afetar 23 milhões de pessoas nos dois países, "incluindo cinco milhões de pessoas vulneráveis". As organizações humanitárias temem, em especial, a propagação do cólera, que ressurgiu na Síria.

Acesso humanitário

O escritório de direitos humanos da ONU pediu, na sexta-feira (10), a todas as partes na área afetada, onde militantes curdos e rebeldes sírios operam, que permitam o acesso humanitário.

Considerado um grupo terrorista por Ancara e por seus aliados ocidentais, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão anunciou a suspensão de sua luta armada para contribuir com os trabalhos de recuperação.

E, na Síria, o governo anunciou que vai autorizar o fornecimento de ajuda internacional às áreas controladas pelos rebeldes no noroeste do país, atingido pelo terremoto. Damasco afirmou que a distribuição de ajuda terá de ser "supervisionada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha e pelo Crescente Vermelho sírio", com o apoio da ONU.

Até agora, apenas dois comboios humanitários atravessaram a Turquia, esta semana, rumo a esta área controlada pelos rebeldes, onde vivem quatro milhões de pessoas.

Entre os apoios estrangeiros enviados, unidades austríacas e alemãs anunciaram hoje a suspensão das operações em Hatay, devido à pior na "situação de segurança" na área.

Dois socorristas com cães austríacos conseguiram retomar suas tarefas horas depois, conforme um porta-voz militar, "sob proteção do Exército turco".

A ONU pediu um cessar-fogo imediato no país e a abertura de mais pontos de passagem para a ajuda humanitária, como o de Bab al-Hawa.

Pela primeira vez em 35 anos, uma passagem foi aberta na fronteira entre Turquia e Armênia, informou a agência oficial de notícias turca Anadolu neste sábado. Cinco caminhões com ajuda para as vítimas do terremoto cruzaram o posto de Alican, na província de Igdir, neste sábado, conforme a Anadolu.

A diplomacia turca afirmou que está trabalhando para abrir mais pontos de passagem com as regiões sob o controle do governo sírio, "por razões humanitárias".

Segundo a agência turca para situações de emergência e desastres naturais, cerca de 32.000 pessoas estão mobilizadas nas operações de resgate, além de mais de 8.000 socorristas estrangeiros.

O Conselho de Segurança deve se reunir para discutir a situação na Síria, possivelmente no início da próxima semana.

"Os andares estão empilhados"

Após cinco dias do terremoto, o mais mortal na região desde 1939, a comoção inicial dá lugar à raiva e à revolta, na Turquia, pela resposta do governo e pela má qualidade das construções. As autoridades estimam que 12.141 edifícios foram destruídos, ou gravemente danificados.

"Os andares se amontoam uns sobre os outros", relatou o professor da Universidade Bogazici, de Istambul, que atribui isso ao concreto de baixa qualidade e às colunas de aço.

Hoje, a polícia turca prendeu 12 pessoas pelo desabamento de edifícios nas províncias de Gaziantep e Sanliurfa. E mais detenções são esperadas, depois que o promotor de Diyarbakir, outra das dez províncias do sudeste do país atingidas pelo terremoto, emitiu mandados de prisão para 29 pessoas.

Na sexta-feira, a polícia prendeu um incorporador imobiliário no aeroporto de Istambul. Ele tentava fugir do país depois do desabamento de uma das residências de luxo construídas por ele.

Diante das críticas à gestão do governo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, fez uma espécie de "mea-culpa" na sexta-feira.

"Houve tantos edifícios danificados que, infelizmente, não conseguimos acelerar nossas intervenções como gostaríamos", afirmou, durante uma visita a Adiyaman.

Entre as inúmeras tragédias do terremoto, uma delas envolve um grupo de 24 crianças e adolescentes cipriotas, com idades entre 11 e 14 anos, que estavam na Turquia para um torneio de vôlei, quando o terremoto engoliu seu hotel.

A imprensa turca diz que 19 pessoas do grupo, que também incluía 15 adultos, foram confirmadas como mortas. Dez dos corpos já foram repatriados para suas casas no norte do Chipre.

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