Demorou 385 dias para a Ucrânia conseguir uma de suas principais demandas na guerra contra a Rússia. A Polônia quebrou uma promessa feita ante a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da qual faz parte, e anunciou o envio de quatro caças soviéticos MiG-29 para Kiev, em um gesto de forte simbolismo. Horas depois, os Estados Unidos afirmaram que a remessa de aviões de combate para o governo de Volodymyr Zelensky não está sobre a mesa. Com a decisão, Varsóvia ultrapassa uma linha vermelha traçada pelo presidente russo, Vladimir Putin.
"No que diz respeito aos caças MiG-29, que ainda operam na defesa do espaço aéreo polonês, uma decisão foi tomada nos mais altos níveis. Podemos dizer, com confiança, que estamos enviando MiGs para a Ucrânia", declarou o presidente polonês, Andrzej Duda, ao receber o homólogo tcheco, Petr Pavel. "A República Tcheca e a Polônia são nações que estão na absoluta vanguarda quando se trata de apoiar a Ucrânia, tanto no nível humanitário, quanto no militar", acrescentou. Segundo Duda, "outros dispositivos estão em manutenção neste momento e, provavelmente, serão entregues depois".
Especialista da Escola de Análise Política (em Kiev), Anton Suslov vê como ponto positivo o fato de os MiG-29 serem de fabricação soviética. "Os pilotos ucranianos não precisarão de tempo adicional para aprendizado. Por isso, a transferência de caças desse tipo é mais fácil do que os modernos F-16. A propósito, a Eslováquia também prometeu fornecer vários MiGs no ano passado, mas não o fez", disse ao Correio. "Se os caças forem realmente cedidos a Kiev por Varsóvia, isso será definitivamente um passo crucial na assistência militar do Ocidente."
Para Suslov, isso significará que o acordo sobre os caças terá sido alcançado, e que a Ucrânia poderá esperar por mais aeronaves. "Isso também abrirá o caminho para aviões de guerra mais modernos e sofisticados, de que a Ucrânia necessita, graças ao fato de que a aviação militar russa está mais desenvolvida do que a nossa", acrescentou o ucraniano.
Em visita a Varsóvia, ontem, Peter Zalmayev — diretor da organização não governamental Eurasia Democracy Initiative (em Kiev) — contou ao Correio que se reuniu com Bogdan Borusewicz, vice-presidente do Senado polonês. "Ele me disse que o acordo envolve aviões MiG-29, mais antigos. A Polônia está liderando a iniciativa dos caças, assim como a Alemanha fez com os tanques de guerra. Trata-se de uma decisão simbólica, que pode motivar outras nações a seguirem a iniciativa polonesa. Isso abre um precedente e deverá ter um efeito dominó. Será muito difícil ganhar a guerra sem o domínio do poderio aéreo", ressaltou, ao admitir a superioridade da Rússia nesse setor. "A Ucrânia precisa se equivaler à presença russa nos céus para liberar o maior número possível de territórios."
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Crianças
Um grupo de investigadores da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou, ontem, que a transferência de crianças ucranianas para regiões da Ucrânia sob o controle militar de Moscou e para o território da Rússia é "um crime de guerra". De acordo com Kiev, 16.221 crianças foram deportadas para a Rússia até o fim de fevereiro deste ano. No entanto, os investigadores não puderam comprovar esse número. Eles também veem indícios de crimes contra a humanidade. "A comissão constatou que as ondas de ataques executados pelas Forças Armadas das Rússia desde 10 de outubro de 2022 contra as infraestruturas de energia ucranianas e o recurso à tortura por parte das autoridades russas podem constituir crimes contra a humanidade", afirma o relatório.
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EUA divulgam vídeo de colisão com drone no Mar Negro
Dois dias depois do incidente que escalou a tensão entre Washington e Moscou, os Estados Unidos tornaram público um vídeo que mostra que a interceptação de um drone norte-americano por caças russos sobre o Mar Negro foi "insegura" e "pouco profissional". Por sua vez, a Rússia nega ser a responsável pelo episódio, em que, segundo os EUA, a hélice do drone MQ-9 Reaper foi danificado, ocasionando sua queda no mar. De acordo com o Exército americano, o vídeo de 42 segundos foi editado para manter seu caráter sequencial, mas ainda mostra uma aeronave Su-27 se aproximando do drone e liberando combustível à medida que passa (foto). Em seguida, o caça russo faz outra passagem e despeja combustível novamente. O vídeo é interrompido por 60 segundos devido à colisão do avião russo com o drone dos EUA, segundo os militares americanos. Quando as imagens voltam, nota-se que o drone perdeu parte da hélice.