SAARA OCIDENTAL

Representante da Frente Polisário fala ao Correio sobre busca de reconhecimento do Brasil

De acordo com Ali Hamadi, a Frente Polisário insiste na aplicação da Carta das Nações Unidas no Saara Ocidental, o único país árabe hispânico

Rodrigo Craveiro
postado em 25/03/2023 06:00
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Há quatro décadas, o embaixador Ahamed Mulay Ali Hamadi não vê a família, que vive na parte ocupada pelo Marrocos de Saara Ocidental — também conhecida como República Árabe Saaraui Democrática —, no extremo noroeste do continente africano. "Meu pai e minha irmã faleceram. Minha mãe e meu irmão estão lá. Creio que não as verei mais", lamentou o representante da Frente Polisário no Brasil, durante visita ao Correio.

"O povo saaraui vive dividido. Há um muro de 2.270km que corta o Estado saaraui pelo meio. Lutamos para liberar a parte que está ocupada", acrescentou. Desde 2020, o país trava uma guerra com o Marrocos por sua autodeterminação. A ocupação, no entanto, é bem mais antiga: em outubro de 1975, a antiga colônia espanhola foi invadida pelo Marrocos, de olho na riqueza pesqueira, no fosfato, nos indícios de petróleo e ouro, e na água.  

"Nós nos sentimos um pouco abandonados pela comunidade internacional, que apenas se interessa quando há sangue e mortes. Desde 1991, quando se formou um plano de paz, até 2020, ninguém se moveu a obrigar o Marrocos a cumprir com o prometido. Por isso, regressamos às armas", disse Ali Hamadi. Na zona ocupada e murada de Saara Ocidental, o número de desaparecidos chega a 700 — a maior parte formada por mulheres.

"Queremos que a opinião pública brasileira conheça a nossa luta. O Brasil apoia a nossa autodeterminação, mas esperamos que dê um passo a mais. Que reconheça a República Árabe Saaraui Democrática oficialmente e nos permita abrir uma embaixada. O México instalou uma embaixada em 1971; o Panamá, em 1977. Equador, Colômbia, Venezuela e Bolívia têm embaixadas", acrescentou.

De acordo com Ali Hamadi, a Frente Polisário insiste na aplicação da Carta das Nações Unidas no Saara Ocidental, o único país árabe hispânico. "Nosso povo quer a autodeterminação. Pretendemos realizar um plebiscito para perguntar aos saarauis se querem a autonomia ou a independência, ou se querem retornar ao território marroquino ou à colonização espanhola.

O povo saaraui é quem tem que decidir. Buscamos a solidariedade e o reconhecimento daqueles que ainda não o fizeram", desabafou o embaixador. Mais de 80 países já reconheceram o Saara Ocidental, que é membro fundador da União Africana. "Conclamo a comunidade internacional a prestar atenção para a situação dos direitos humanos na área ocupada por Marrocos."

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FOTOLEG - Herói do 'Hotel Ruanda' é libertado

 (crédito: Simon Wohlfahrt / AFP)
crédito: Simon Wohlfahrt / AFP

Paul Rusesabagina, que inspirou o herói do filme Hotel Ruanda e que estava detido depois de fazer críticas ao governo ruandês, foi libertado no fim da noite de ontem e entregue ao embaixador do Catar, antes de retornar aos Estados Unidos, informou uma fonte oficial americana. Rusesabagina, um cidadão belga e residente permanente dos Estados Unidos, está "agora na residência do embaixador catarense em Kigali. Ele chegou há meia hora. São notícias excelentes, realmente", disse a jornalistas uma autoridade americana logo após a meia-noite, horário de Ruanda.

 

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