Política Internacional

Vitória de Santiago Peña reafirma hegemonia do Partido Colorado no Paraguai

Após uma campanha eleitoral marcada por acusações de corrupção contra personalidades de primeira grandeza da situação, Peña, de 44 anos, obteve 42% dos votos

Agence France-Presse
postado em 01/05/2023 16:12
 (crédito: NORBERTO DUARTE/AFP)
(crédito: NORBERTO DUARTE/AFP)

O economista Santiago Peña venceu as presidenciais do Paraguai com o Partido Colorado, que também terá o controle do Congresso, ratificando sua hegemonia neste país, onde governou por mais de 70 anos.

Após uma campanha eleitoral marcada por acusações de corrupção contra personalidades de primeira grandeza da situação, Peña, de 44 anos, obteve 42% dos votos.

O opositor Efraín Alegre, à frente de uma coalizão de centro esquerda, ficou com 27% dos votos. O ex-deputado de direita antissistema Paraguayo Cubas ficou em terceiro lugar, com 22% dos votos. A participação do eleitorado foi de 63%.

Peña substituirá o atual presidente, Mario Abdo Benítez, a partir de 15 de agosto para um mandato de cinco anos.

Em suas primeiras palavras como presidente eleito, Peña agradeceu o apoio do ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), seu padrinho político, alvo de sanções dos Estados Unidos, que o classificam como "significativamente corrupto".

"Muito obrigado, meu querido presidente da Associação Nacional Republicana (ANR, Partido Colorado), Horacio Cartes. Admiro a imensidão de sua obstinada dedicação ao partido", discursou Peña ao lado do ex-presidente, diante dos aplausos de apoiadores na sede de campanha.

Hegemonia colorada

Os colorados também tiveram a maior votação no Congresso. Eles serão a maioria no Senado, com 23 dos 45 assentos, e na Câmara dos Deputados, com 48 dos 80 assentos. Dos 17 governos estaduais, 14 ficaram com a situação.

O analista Rubén Ramírez, da consultoria Trade and Investment Paraguay, afirmou que "a linguagem agressiva da oposição contra os candidatos colorados e a qualificação de 'significativamente corrupto' contra seus principais dirigentes pelo governo dos Estados Unidos acabaram por aglutinar o eleitorado colorado, em uma manifestação mais de sentimento do que de raciocínio".

O Partido Colorado governou o Paraguai durante a maior parte das últimas sete décadas, sob a ditadura e sob a democracia, com uma breve interrupção durante o governo do esquerdista Fernando Lugo (2008-2012), que sofreu um impeachment um ano antes do fim de seu mandato.

"Significativamente corruptos"

A campanha eleitoral ocorreu simultaneamente com as sanções dos Estados Unidos contra alguns dos mais importantes líderes colorados, como Cartes e o vice-presidente Hugo Velázquez.

Ao saudar a vitória de Peña, o Departamento de Estado o convidou a combater a corrupção.

"Esperamos trabalhar com o presidente eleito Peña e seu governo para promover os interesses comuns, como combater a corrupção e a impunidade, e promover a segurança e o crescimento econômico em benefício dos dois países", ressaltou, em nota, Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado.

O Paraguai, no centro da América do Sul, é considerado um ponto de trânsito de drogas para Brasil e Argentina antes de sua saída rumo a Europa e Ásia.

Em 2022, o promotor Marcelo Pecci e o prefeito José Carlos Acevedo foram assassinados, em crimes atribuídos ao narcotráfico.

Embora o Paraguai tenha uma das economias que mais crescem na América Latina – com previsão de +4,5% para o PIB em 2023, segundo o Fundo Monetário Internacional –, a pobreza atinge 24,7% da população, que sofre com enormes desigualdades.

Peña propôs a criação de 500 mil empregos. "A partir de amanhã (esta segunda) vamos começar a desenhar o Paraguai que todos queremos, sem as desigualdades grosseiras, nem as injustas assimetrias sociais. Temos muito a fazer", disse Peña em seu discurso da vitória.

Entre Taiwan e Jerusalém

A vitória de Peña também confirmou a continuidade das relações do Paraguai com Taiwan, que o opositor Alegre pôs em dúvida durante a campanha.

Nesta segunda, a presidente de Taiwan, Tsai Iong-wen, cumprimentou Peña.

"Espero avidamente aprofundar as relações de longa data entre nossos países e ver o governo e o povo do Paraguai prosperar com sua liderança", reagiu pelo Twitter.

Peña tem sido enfático na defesa das relações estabelecidas há mais de 60 anos. "Um laço de princípios e valores democráticos no une", disse em entrevista à AFP.

O Paraguai é um dos 13 países que reconhece oficialmente Taiwan e não a China, apesar das reivindicações do setor agropecuário.

O presidente da Associação Rural, Pedro Galli, tem insistido em que para seu setor, "o entrave que temos é nosso relacionamento com Taiwan. Não há possibilidades de acessar o mercado chinês se não reconhecermos a China. Estamos nadando contra a correnteza".

O Paraguai está entre os principais produtores do mundo de carne bovina e de soja, mas suas exportações vão principalmente para o Chile, o Brasil, a Argentina e a Rússia.

O presidente eleito também antecipou dias atrás que pretende reconhecer Jerusalém como capital de Israel, ao anunciar a sua vontade de mudar novamente a sede da embaixada paraguaia para aquela cidade, uma medida que, em sintonia com Donald Trump, Cartes tinha tomado no final de seu governo e que Abdo reverteu.

Na noite de domingo, o Itamaraty cumprimentou Peña, a quem desejou sucesso em seu mandato.

"Reafirmando os históricos laços de amizade entre Brasil e Paraguai e a elevada prioridade atribuída à relação bilateral, [o governo brasileiro] manifesta sua disposição de seguir aprofundando a parceria em prol do desenvolvimento econômico e social dos dois países e de toda a América do Sul", manifestou-se o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.

Peña também foi cumprimentado pelos presidentes argentino, chileno, equatoriano, boliviano, entre outros.

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