Paraguai

Paraguai: após eleições, colorados ampliam hegemonia política

No poder nas últimas sete décadas, salvo um breve intervalo entre 2008 e 2012, agremiação elege, além do presidente, os ocupantes dos principais cargos do país — terá 14 dos 17 governadores e maioria no Senado e na Câmara dos Deputados

Correio Braziliense
postado em 02/05/2023 06:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Os colorados saíram das urnas triunfantes, ao fim de uma campanha eleitoral marcada por acusações de corrupção contra personalidades de primeira grandeza do governo do Paraguai. Além da vitória com folga do economista Santiago Peña na corrida presidencial, o partido conservador elegeu 14 dos 17 governadores de departamentos (estados) e conquistou maioria nas duas casas do Legislativo, ampliando, assim, a hegemonia política no país.

Peña, de 44 anos, substituirá o atual presidente, Mario Abdo Benítez, a partir de 15 de agosto para um mandato de cinco anos, com uma situação bastante confortável no Congresso. O Partido Colorado obteve 23 dos 45 assentos do Senado, segundo cálculos do ABC Color com base nos dados da Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (Trep) do país. Na Câmara dos Deputados, ficou com 48 das 80 cadeiras.

O analista Rubén Ramírez, da consultoria Trade and Investment Paraguay, afirmou que "a linguagem agressiva da oposição contra os candidatos colorados e a qualificação de 'significativamente corrupto' contra seus principais dirigentes pelo governo dos Estados Unidos acabaram por aglutinar o eleitorado, em uma manifestação mais de sentimento do que de raciocínio".

A crescente insatisfação da população com o aumento da pobreza, bem como as falhas nos sistemas de saúde e educação, que ocuparam o centro das atenções durante a pandemia de covid-19, sinalizaram dificuldades. "Os colorados, na adversidade, sabem superar os obstáculos para se manter no poder", disse Roberto Codas, analista político e econômico da consultoria Desarrollo Empresarial, à agência de notícias France-Presse.

O Partido Colorado, cujo nome oficial é Associação Nacional Republicana (ANR), governou o Paraguai durante a maior parte das últimas sete décadas, sob a ditadura e sob a democracia, com uma breve interrupção durante o governo de Fernando Lugo (2008-2012). O esquerdista sofreu um impeachment um ano antes do fim de seu mandato.

Corrupção

A campanha eleitoral deste ano ocorreu simultaneamente com as sanções dos Estados Unidos contra alguns dos mais importantes líderes colorados, como o ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), padrinho político de Peña. Washington classifica Cartes como "significativamente corrupto". O vice-presidente Hugo Velázquez também é alvo das autoridades norte-americanas.

Ao saudar a vitória de Peña, que conquistou 43% dos votos, o Departamento de Estado convidou o futuro presidente a combater a corrupção. "Esperamos trabalhar com o presidente eleito Peña e seu governo para promover os interesses comuns, como combater a corrupção e a impunidade, e promover a segurança e o crescimento econômico em benefício dos dois países", ressaltou, em nota, Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado.

Localizado no centro da América do Sul, o Paraguai é considerado um ponto de trânsito de drogas para Brasil e Argentina antes de sua saída rumo a Europa e Ásia. Em 2022, o promotor Marcelo Pecci e o prefeito José Carlos Acevedo foram assassinados, em crimes atribuídos ao narcotráfico.

Embora o país tenha uma das economias que mais crescem na América Latina — com previsão de 4,5% para o PIB em 2023, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) —, a pobreza atinge 24,7% da população de 7,5 milhões de habitantes, que sofrem com enormes desigualdades. Peña propôs a criação de 500 mil empregos.

A vitória de Peña também confirmou a continuidade das relações do Paraguai com Taiwan, que o opositor Efraín Alegre, candidato de uma coalizão de centro esquerda, pôs em dúvida durante a campanha. Ontem, a presidente de Taiwan, Tsai Iong-wen, cumprimentou Peña pela conquista. "Espero avidamente aprofundar as relações de longa data entre nossos países e ver o governo e o povo do Paraguai prosperar com sua liderança", tuitou.

O presidente eleito também antecipou dias atrás que pretende reconhecer Jerusalém como capital de Israel, ao anunciar a sua vontade de mudar novamente a sede da embaixada paraguaia para aquela cidade, uma medida que, em sintonia com Donald Trump, Cartes tinha tomado no fim de seu governo e que Abdo reverteu.

Ainda na noite de domingo, o Itamaraty cumprimentou Peña, a quem desejou sucesso em seu mandato. "Reafirmando os históricos laços de amizade entre Brasil e Paraguai e a elevada prioridade atribuída à relação bilateral, (o governo brasileiro) manifesta sua disposição de seguir aprofundando a parceria em prol do desenvolvimento econômico e social dos dois países e de toda a América do Sul", manifestou-se o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.

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