Em um discurso de pouco mais de três minutos, nas escadarias do Palácio La Moncloa, em Madri, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, anunciou que comunicou ao rei Filipe VI as decisões de dissolver o Parlamento, convocar o Conselho de Ministros e antecipar as eleições legislativas para 23 de julho. As medidas são uma resposta ao triunfo da direita nas votações municipais e regionais do último domingo (28/5) — o Partido Popular (PP), de Alberto Núñez Feijóo, obteve mais de 7 milhões de votos (31,5%) contra 6,2 milhões (28,1%) para o Partido Socialista, de Sánchez.
"Tomei esta decisão à vista dos resultados das eleições regionais e municipais. Muitos presidentes e prefeitos socialistas com gestões impecáveis serão destituídos, mesmo vendo seu apoio aumentar. Essas instituições passarão a ser governadas pelo PP e pelo Vox (extrema direita). O significado do voto transmite uma mensagem que vai além", declarou o premiê. "Assumo, em primeira pessoa, os resultados e creio ser necessário dar uma resposta e submeter nosso mandato à vontade popular."
Sánchez destacou que seu governo levou adiante as "grandes reformas prometidas". "Só existe um método infalível, a democracia. O melhor é que os espanhóis tomem a palavra para definir, sem demora, o rumo político da nação", disse. Por sua vez, Feijóo celebrou os resultados e garantiu que a antecipação das eleições legislativas "não esconde o que ocorreu no domingo (28/5)". "Os espanhóis disseram basta. Insisto em que somente começamos. Os cidadãos votaram, em sua maioria, em meu partido. Mas o 'sanchismo' não foi revogado", afirmou o opositor, segundo o qual o modelo de governo atual está "esgotado" e deve "terminar para sempre".
Ainda de acordo com Feijóo, a Espanha deseja "passar a página" e "começar um tempo novo". "Há pouco mais de um ano, obtive a confiança do meu partido para ser o presidente do mesmo. Hoje, peço a confiança dos cidadãos para ser o próximo presidente do governo da Espanha (primeiro-ministro)", afirmou.
Professor de ciência política da Universidad de Málaga, Ángel Valencia Sáiz explicou ao Correio que o triunfo da direita é resultado de vários fatores. "A campanha eleitoral foi condicionada por uma conjuntura nacional e pouco relacionada com o contexto específico das eleições regionais e municipais. Também é preciso levar em conta a questão do ETA (grupo separatista basco) e das listas de candidatos com crimes de sangue, além da compra de votos em Melilla."
Sáiz ressaltou que alguns meios amplificaram esses temas, dentro de uma linha de crítica ao governo e a Sánchez. Ele citou também o mau funcionamento da coalizão governista com o Unidas Podemos. "O governo não consegiu capitalizar sucessos, como a melhora da economia ou do emprego."
Ascensão
O especialista de Málaga reconheceu a franca ascensão da extrema direita no panorama nacional. "Nas eleições de domingo, o PP ganhou quase 10 pontos percentuais, e o Vox quase quatro pontos, em relação ao pleito de 2019. Os 7 milhões de votos do PP estão distantes dos 11 milhões das eleições nacionais de 2011, mas tivemos um ciclo político de várias eleições ganhas", observou Sáiz. Ele vê o Vox como uma força política que se mantém e cresce ligeiramente. "Há um clima político de desgaste do premiê e do governo, e isso pode acarretar essa mudança política."
Por e-mail, Miguel Martorell Linares, diretor do Departamento de História Social e do Pensamento Político da Universidad Nacional de Educación a Distancia (Uned), ressaltou ao Correio que, na Espanha, a divisão costuma castigar as grandes correntes políticas, tanto da direita quanto da esquerda.
Segundo ele, nas eleições de domingo, a divisão da direita entre PP, Ciudadanos e Vox, e a extinção do partido Ciudadanos, penalizaram a esquerda e fortaleceram os populistas. "O PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) caiu em número de votos, mas não tanto quanto parece. O verdadeiro problema está no fato de que os partidos à esquerda do PSOE parecem divididos. Isso significa que, em seu conjunto, a esquerda tenha perdido a maioria das comunidades autônomas e as grandes prefeituras nas quais governava."
Linares afirmou que o Vox nasceu do PP, e a extrema direita sempre existiu dentro do partido de Feijóo. "O problema do Vox é que ele está mais visível, e seus discursos xenófobos e homofóbicos tendem a se normalizar. Não vejo o perigo de ele se tornar mais importante do que o PP. O Vox tem a vantagem de ser um partido quase virgem, praticamente sem experiência de governo. Não cometeu erros de poder nem sofreu punições do cidadão", observou. Por isso, o professor da Uned não vê risco de avanços substanciais da extrema direita no espectro político da Espanha.
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