Na estação de trem na cidade de Dnipro, no leste da Ucrânia, atendentes em uniformes elegantes e tradicionais ajudam os passageiros a descer os degraus íngremes do vagão.
Apesar da invasão em grande escala da Rússia, os trens aqui nunca pararam de funcionar para os milhões que dependem deles.
Embarcamos e fazemos uma viagem que as pessoas estão sendo instadas a evitar — até a última parada antes do front oriental.
À medida que tentamos achar assentos neste vagão abafado, fica claro que esta não é apenas uma rota para o campo de batalha.
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Sim, há soldados. A maioria olha pela janela — você se pergunta o que eles estão pensando.
Mas também há famílias jovens voltando para casa.
Viktoria Makarova está voltando para a cidade de Pokrovsk com sua bebê, Eva.
A jovem de 20 anos nos diz que está cansada de fugir da guerra, mas não livre de preocupações.
"Temos que seguir com nossas vidas", diz ela. "É impossível viver assim, vagando por toda parte."
Desde fevereiro do ano passado, Viktoria viajou pela Ucrânia e Eslováquia na tentativa de manter ela e sua filha seguras.
Depois de três horas atravessando os campos verdes do interior da Ucrânia, chegamos a Pokrovsk, e Viktoria é recebida pelo marido que deixou para trás.
"Estou emocionado", diz Serhiy, que esperava pacientemente na plataforma com um ramo de flores.
"Estou muito feliz em ver minha linda filha e esposa. Eu só quero que a gente sente, abrace, converse e é isso."
Chegadas como essa fazem parte de uma tendência mais ampla na Ucrânia.
Após as cenas devastadoras da partida do ano passado, 6 milhões de ucranianos já retornaram ao país.
Desses, milhares estão voltando para suas casas ao longo da linha de frente de 965 quilômetros, onde permanece a ameaça de um ataque russo.
Serhiy é um dos muitos que ficaram em Pokrovsk para trabalhar na mina de carvão local — uma indústria arraigada no DNA da região de Donetsk e grande empregadora da região.
'Como um apocalipse'
Isso não apenas levou milhares a ficar, mas também está atraindo pessoas de volta com a oferta de novos empregos.
De madrugada, os mineiros deslocam-se com pressa para os ônibus que os levam até o poço da mina.
Mesmo quando estão a 800 metros de profundidade, podem levar até uma hora caminhando até o local do trabalho.
Volodymyr trabalha aqui há 20 anos. Ele leva a marmita enfiada na frente de seu macacão.
Eles chamam sua comida de "tormozok" por aqui, o que significa uma pausa em seu trabalho na mina.
Ele e alguns colegas não precisaram se alistar porque seu trabalho é visto como essencial para a economia da Ucrânia.
Para Volodymyr, ir para o trabalho é um equilíbrio entre segurança pessoal e economia simples. Ele tem que ganhar a vida de algum jeito.
"Quando você desce para o subsolo, não sabe o que está acontecendo lá em cima com a família. Muitas vezes fico muito preocupado."
A população de Pokrovsk, que era de 65 mil habitantes, está aumentando gradualmente, depois de perder dois terços de seus habitantes no ano passado.
Svitlana, que trabalha na sala de controle da estação, disse que quando a guerra começou em 2022 foi "como um apocalipse, nunca tinha visto tantas pessoas partirem".
Agora a cidade tornou-se um destino para aqueles que escapam da ocupação russa e dos combates.
É um local em pé de guerra. As ruas estão repletas de uma mistura de civis e soldados. Esta área está em guerra desde o início da invasão da Rússia à Crimeia, nove anos atrás.
Outro atrativo foi o restabelecimento do fornecimento de energia e água pelas autoridades locais, apesar de seus alertas para que as pessoas fiquem longe.
Pokrovsk ainda está ao alcance dos sistemas russos de lançamento de múltiplos foguetes (MRLS, na sigla em inglês).
Ao redor da cidade, é possível observar as cicatrizes desse conflito duradouro e o quão indiscriminada é a ameaça de Moscou.
Nos arredores de Pokrovsk, mais perto da ocupação russa, encontra-se a última linha de defesa da cidade. Soldados da defesa territorial estão atentos aos fracos sons da artilharia.
Suas ações obedientes estão permitindo que as pessoas voltem ao local, e parece haver simpatia nas trincheiras.
"Alguns estão salvando seus filhos, alguns ficam porque é sua terra natal", diz Vyacheslav.
"Se é para morrer, é melhor morrer em sua pátria do que em algum lugar no exterior."
Alguns dias depois, nos reunimos com Serhiy, Viktoria e Eva em seu apartamento. Observá-los brincar com a filha é um retrato da inocência.
"Quem sabe quando estaremos seguros aqui?", pergunta Serhiy. "Talvez um ano? Dois? Ou cinco?"
"Não queremos esperar cinco anos, nem mesmo um ano."
Eles claramente se conformaram com a escolha de permanecerem juntos, apesar dos riscos evidentes.
Uma decisão que demonstra não apenas resistência, mas também resignação - e que esta guerra não terminará em breve.
Colaboraram Hanna Chornous e Siobhan Leahy
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