Pela quarta noite consecutiva, a França enfrentou, nesta sexta-feira (30/6), confrontos entre manifestantes e policiais em várias cidades, durante protestos após a morte de Nahel, 17 anos. O jovem descendente de mãe argelina e pai marroquino foi executado com um tiro à queima-roupa por um agente durante blitz em Nanterre, a oeste de Paris, por volta das 9h de terça-feira (27). Filho único, Nahel trabalhava como entregador de comida e não tinha ficha criminal. Na noite de ontem, novos distúrbios eclodiram em Nantes (oeste), Estrasburgo (leste), Montpellier e Marselha (sul), Lyon (sudeste), Bordeaux (sudoeste), além de Paris.
Em Nanterre, local do crime, manifestantes incendiaram um ônibus. O presidente da França, Emmanuel Macron, se reuniu com uma célula de crise. Após a expectativa de convocar estado de emergência ou toque de recolher, limitou-se a reforçar as medidas de segurança e apelou aos pais dos menores que participam dos protestos.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, convocou mais 5 mil policiais, que se somam aos 40 mil mobilizados para patrulhar as ruas. "A França enfrenta distúrbios de uma violência inusitada", declarou. Ele ordenou a suspensão de grandes eventos; e do serviço de bondes e de ônibus após as 21h. A venda de foguetes, produtos inflamáveis e galões de combustíveis está proibida.
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A premiê Élisabeth Borne determinou o uso de blindados e não descartou o estado de emergência. Desde o início dos protestos, 875 pessoas foram detidas, incluindo 408 em Paris e em seus subúrbios. Um total de 492 prédios foram depredados e 2 mil carros, incendiados. Nesta sexta-feira, um jovem morreu após cair do teto de um supermercado em Rouen (noroeste), durante os protestos.
Sebastian Roché, professor da Faculdade de Estudos Políticos da Université Grenoble Alpes e autor de A polícia na democracia, admitiu ao Correio que existe um grau de risco de generalização de tumultos, mas até certo ponto. "Quanto mais cidades forem afetadas, mais difícil será para a polícia cobrir os eventos com forças suficientes. Afinal, cada ponto de tumulto é como uma fogueira que queima, em média, por cinco dias. Isso é muito tempo. Muitas cidades francesas estão afetadas pelos distúrbios. Um próximo passo da mobilização depende da ampliação do protesto contra a polícia para outros grupos, de outras camadas sociais", explicou. Ele lembrou que, durante os motins de 2005, os subúrbios chamados de banliues, povoados por minorias, se rebelaram após a morte dos adolescentes Zyed Benna e Bouna Traoré — eletrocutados ao se esconderem da polícia em uma subestação elétrica da comuna de Clichy-sous-Bois. Na ocasião, três semanas de protestos terminaram com 2.888 manifestantes detidos.
De acordo com Roché, o governo Macron está sob pressão popular e não possui uma estratégia. "A tática que vejo é não piorar as coisas, não matar um manifestante ou um desordeiro. E reunir mão de obra suficiente para cobrir o terreno e proteger edifícios sensíveis, como delegacias e prefeituras."
Para ele, Macron está em uma enrascada. "Se for muito duro, pode provocar a morte de manifestantes, o que alimentará ainda mais a revolta. Se for leniente demais, provocará críticas da direita e da extrema-direita." Cientista político do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, em Paris, Jean-Yves Camus disse ao Correio ser preciso observar se os protestos se espalharão para outras cidades e se ficarão mais violentos. "Se Macron lançasse mão de um estado de emergência, isso seria admitir que não tem controle sobre a situação", comentou. A resposta para o caos atual, segundo ele, seria tratar dos temas centrais que levaram a esses tumultos. "Um segmento da juventude desdenha de toda a autoridade. Jovens policiais não estão devidamente treinados para confronto."
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