No primeiro dia de cúpula em Vilnius, capital da Lituânia, os 31 países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) apoiaram facilitar os procedimentos para a entrada da Ucrânia na aliança militar ocidental. No entanto, negaram-se a estabelecer um cronograma de adesão, uma demanda feita pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Também avalizaram o maior plano de defesa firmado em três décadas pelo bloco. O secretário-geral Jens Stoltenberg afirmou que os aliados tomaram "decisões cruciais em um momento crítico" para a segurança da Europa. "Nós concordamos com um pacote para fortalecer a Ucrânia e fornecer um claro caminho rumo à Otan. Também aprovamos nossos planos de defesa mais abrangentes desde a Guerra Fria, apoiados por um compromisso duradouro de investir em mais defesa", escreveu Stoltenberg.
Antes de embarcar para Vilnius, Zelensky intensificou a pressão e criticou amargamente a "incerteza" e a "fraqueza" da Otan na definição do caminho da Ucrânia para a adesão. O líder ucraniano também sugeriu que sua atitude estimula o "terror" russo. Neil MacFarlane, especialista em política externa russa e professor de relações internacionais da Universidade de Oxford, reconheceu que a Otan está dividida em relação a um cronograma específico para a adesão da Ucrânia. "Alguns países queriam um calendário transparente. Outros, não, por medo de uma escalada no conflito. Caso a Otan fornecesse uma adesão imediata a Kiev, ela entraria em guerra com a Rússia", observou ao Correio. O estudioso assegura que Zelensky sabia que o ingresso imediato na Otan não aconteceria. "Ele trata de ser político, ao cutucar as coisas. Como fez com suprimentos de artilharia, foguetes, tanques e aeronaves. Sua recompensa será a aceleração da adesão à Otan, assim que a aliança estiver satisfeita com o perigo de escalada. Até lá, ele receberá foguetes de longo alcance e bombas de fragmentação", previu.
De acordo com MacFarlane, está claro que a Ucrânia se unirá à Otan. "O momento está relacionado a um cessar-fogo ou a um acordo de paz. Espero que, se qualquer uma dessas coisas ocorrer, a adesão da Ucrânia será acelerada. O importante, agora, é que a Otan continue a fornecer os sistemas de armas de que a Ucrânia precisa", disse. Ele sublinhou que, depois de 30 anos, a Otan terá um plano de defesa abrangente para lidar com a situação provocada pela guerra. "O simbolismo disso está na unidade em lidar com a ameaça russa. O plano é confidencial. Mas espero que seja um relato forense do que a Otan fará em resposta a contingências em evolução. Portanto, os países-membros da Otan terão esse modelo nas decisões de treinamento, exercício e implantação", acrescentou MacFarlane.
Professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, Olexyi Haran afirmou ao Correio que prefere esperar a declaração final da cúpula. "O que temos é uma declaração de Stoltenberg, mas precisamos ver as formulações exatas do documento dos países-membros, que será divulgado nesta quarta-feira (12/7)", lembrou. "Não esperávamos que, durante a cúpula, a Otan convidasse a Ucrânia a se associar. Temos batalhado por isso. No entanto, sabíamos que alguns países-membros, inclusive os EUA, não estavam prontos para oferecer um convite aberto."
Para Haran, o fato de não existir um convite aberto pode soar como algo negativo. No entanto, ele reforçou a necessidade de avaliar cada palavra que constará na declaração final. Por sua vez, Anton Suslov — especialista da Escola de Análise Política (em Kiev) — descarta que a ausência de um cronograma para a adesão da Ucrânia representaria um fracasso da política externa de Zelensky. "Vejo uma relutância da Otan em responder aos desafios atuais de forma adequada. Após o início da invasão russa, o índice de apoio pela adesão à aliança militar disparou para 89%. Embora as condições tenham mudado drasticamente nos últimos 15 anos, não houve evolução entre 'a Ucrânia se tornará membro da Otan', em 2008, e 'O futuro da Ucrânia é na Otan', em 2023. A sociedade e as autoridades ucranianas esperavam formulações mais fortes e um 'convite político'", admitiu.
Ainda segundo Suslov, a posição da Otan sobre convidar a Ucrânia para aderir à aliança "quando as condições forem aceitas" torna esse processo ambíguo. "A questão é quais são essas condições. A formulação atual levanta mais perguntas do que respostas." Ele suspeita que os EUA e a Alemanha não estavam prontos para "convidarem politicamente" a Ucrânia a fazer parte da aliança.
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