Anunciada pelo líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, como uma operação decisiva na guerra contra Moscou, a contraofensiva preparada durante meses parece não estar avançando. Ontem, a Ucrânia admitiu que seus homens estão em posição defensiva na frente de batalha no leste do país diante das tropas de Vladimir Putin. O presidente russo, por sua vez, afirmou que o plano ucraniano "não teve sucesso" e ameaçou lançar mão de bombas de fragmentação caso Kiev comece a usar o artefato.
"Todas as tentativas do inimigo de romper nossas defesas (...) não tiveram sucesso desde que a ofensiva começou. O inimigo não teve sucesso", declarou Putin, em uma entrevista ao canal Rossiya-1. Segundo Putin, as tropas estão atuando de "forma heroica" e surpreendendo os adversários. "Estão, inclusive, passando à ofensiva em certos setores e capturando posições mais vantajosas", completou.
De acordo com a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Maliar, estão ocorrendo "batalhas violentas" em Kupiansk, na província de Kharkivm, com posições mudando "várias vezes ao dia". "Durante dois dias seguidos, o inimigo atacou ativamente a área (...) Estamos nos defendendo", relatou.
Em outra frente, nas proximidades de Bakhmut, também no leste, as tropas avançam, segundo Maliar. A cidade foi capturada, em maio, pela Rússia na batalha mais longa e violenta desde o início dos conflitos. Na linha de frente norte dessa área, um comandante do batalhão de artilharia da 22ª brigada mecanizada ucraniana admitiu à agência France-Presse de notícias (AFP) que cada metro de terreno é conquistado por meio de duros combates. "Cada dia em que ganhamos 10, 20, 100 metros é uma grande vitória", disse o militar identificado pelo seu nome de guerra Bulat.
Kiev havia reconhecido que a contraofensiva enfrenta dificuldades e tem pedido aos aliados ocidentais que forneçam mais armas de longo alcance. A missão foi iniciada no mês passado, depois de as forças ucranianas acumularem armas fornecidas pelo Ocidente e reforçarem suas capacidades de ataque. Os russos tiveram tempo de estabelecer defesas sólidas, incluindo campos repletos de minas, e dizem ter poder de fogo significativo para atacar os adversários.
Cluster
Um deles são as bombas de fragmentação. Na entrevista ao canal Rossiya-1. Putin afirmou que seu país tem uma "boa reserva" do armamento e que, até o momento, não o utilizou mesmo em momentos em que enfrentaram falta de munição. Os Estados Unidos ofereceram o artefato, também chamado de cluster, para Kiev. Segundo o Pentágono, as munições chegaram à Ucrânia na última quinta-feira. "Se forem utilizadas contra nós, nos reservamos o direito de adotar represálias", disse Putin.
Quando lançados, esses projéteis se abrem no ar e liberam dezenas de outras pequenas bombas. O uso desse artefato bélico é criticado por grupos humanitários e por alguns aliados dos EUA. Isso porque, em muitas vezes, elas deixam para trás pequenas bombas não detonadas que podem prejudicar civis a longo prazo. Mais de 100 países proíbem o uso de clusters.
Os proponentes argumentam que a Rússia já está usando esse tipo de munição na Ucrânia e que as armas fornecidas pelos EUA foram aprimoradas para deixar menos cartuchos não detonados. Além disso, Kiev teria se comprometido a usar bombas de fragmentação longe de áreas densamente povoadas. Kiev acusa Moscou de estar usando cluster no confronto e de forma disseminada. Em Março, as Nações Unidas compilaram relatórios com dados confiáveis de que as forças russas usaram esses artefatos em áreas povoadas pelo menos 24 vezes.
Sul Global
Também ontem, os Estados Unidos foram questionados sobre um apoio ocidental em larga escala à Ucrânia em detrimento da ajuda aos países em desenvolvimento. A questão foi levantada na Índia, durante uma reunião do G7, grupo que reúne as maiores economias do mundo, e criticada pela secretária do Tesouro americana, Janet Yellen. "Rejeito a ideia de uma troca entre as duas questões", argumentou.
Segundo Yellen, é prioritário redobrar o apoio a Kiev porque "acabar com a guerra é, antes de mais nada, um imperativo moral, mas também o melhor que podemos fazer para a economia mundial". Na mesma linha, o ministro japonês das Finanças, Shunichi Suzuki, prometeu manter "apoio inabalável" à Ucrânia e afirmou que Moscou deve "pagar os custos de reconstrução de longo prazo" do país vizinho.
Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, expressou preocupação, durante a semana passada, com a "profunda desconfiança" entre os países do Norte e do Sul em relação ao apoio a Kiev. "A frustração do Sul Global é compreensível", escreveu em um artigo recente. "Em muitos aspectos, os países estão pagando o preço da prosperidade de outros. Estão preocupados que os recursos prometidos sejam desviados para a reconstrução da Ucrânia", acrescentou.
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