Por volta das 8h30 (9h30 em Brasília) desta quarta-feira (13/9), a mensagem foi transmitida para os aparelhos de rádio da polícia do condado de Chester, na Pensilvânia. "A sala de rádio, o governo do condado de Chester e várias outras agências trabalhando na fuga do prisioneiro têm o orgulho de anunciar que o sujeito está sob custódia. Repetindo: está sob custódia". Era o fim de uma caçada de 14 dias a Danilo Cavalcante, o brasileiro de 34 anos que fugiu da penitenciária do mesmo condado, em 31 de agosto, escalando as paredes de um corredor do pátio, durante o banho de sol.
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Danilo foi condenado à prisão perpétua por matar a ex-namorada Deborah Brandão, 34, com 38 facadas, na frente dos dois filhos dela, em 2021. A captura do assassino foi possível graças à tecnologia e à ação de Yoda, um K9 (cão policial) da raça pastor belga malinois de 4 anos que localizou e o imobilizou com uma mordida no couro cabeludo.
Na noite desta quarta-feira (13), ele foi levado a uma penitenciária de segurança máxima e formalmente acusado de fuga da prisão. "Nosso pesadelo finalmente acabou", desabafou Deb Ryan, promotora distrital do condado de Chester. A pista que permitiu a prisão de Danilo veio do acionamento de um alarme contra roubo, na noite de terça-feira (12). Os agentes cercaram o perímetro, na parte norte do condado de Chester, e um helicóptero da Drug Enforcement Administration — agência de repressão às drogas nos EUA — foi enviado para a região. À 1h (2h em Brasília), a aeronave sobrevoou o perímetro e detectou um ''sinal de calor". No entanto, uma tempestade forçou a suspensão do sobrevoo. Enquanto isso, 20 agentes da equipe tática da policia fecharam o cerco a Danilo e aguardaram o amanhecer.
Quando foi encontrado, o brasileiro dormia ao lado de um rifle roubado na noite de segunda-feira (11). Ao ser surpreendido, tentou rastejar pela vegetação rasteira, carregando a arma. Então, Yoda entrou em cena. Nas últimas duas semanas, 500 policiais se envolveram nas buscas, que também contaram com drones e helicópteros. Escolas chegaram a ser fechadas, moradores se trancaram em casa. O clima era de medo e de apreensão em toda a Pensilvânia.
O tenente coronel da polícia da Pensilvânia, George Bivens, explicou que os agentes queriam pegar Danilo "de surpresa". "Isso não o impediu de tentar escapar, começando a se arrastar pela espessa grama com seu rifle, antes de se dar conta de que estava cercado."
Recompensa
Testemunha do momento em que o brasileiro saiu levado da mata pelos policiais, Mary Anne Yackel (Leia entrevista), 57, disse ao Correio que não temia pela presença de Danilo na região até perceber que ele estava armado. "Na noite de ontem (terça-feira, 12), cheguei a pensar em ir até a mata para encontrá-lo. Eu sabia que muita gente estava atrás dele, e as autoridades ofereceram US$ 25 mil como recompensa", relatou. "Algumas pessoas perambulavam entre a mata, e a polícia estava frustrada. Na condição de mãe de sete crianças, pensei no dinheiro. Fiquei chocada e surpresa com a capacidade dele de fugir."
Yackel contou que chegou a conversar com o homem que teve o rifle roubado por Danilo. "Ele me disse que se sentiu em 'perigo incrível'. Também afirmou que o modo com que o assassino olhou para ele foi muito sombrio", lembra. Ela acredita que nem o brasileiro esperava que a fuga duraria tanto tempo. "Trata-se de um homem pequeno, que usou o comportamento e o conhecimento para gerenciar a situação de um modo muito melhor do que imaginávamos."
A família de Deborah Brandão reagiu com alívio à captura. "Pode voltar a descansar, minha irmã, não se preocupe com os bebês. Eles estarão sempre comigo. Só descanse em paz", escreveu no Instagram Sarah Brandão. Poucas horas depois da prisão de Danilo, a irmã de Deborah também divulgou nota à imprensa. "Estamos profundamente gratos pelo apoio e trabalho árduo desenvolvido pelas autoridades policiais dos EUA ao longo destes últimos dias. Minha família e eu precisamos nos reagrupar e focar em processar tudo o que aconteceu enquanto cuidamos de nós. As últimas duas semanas foram extremamente dolorosas e aterrorizantes, pois trouxeram de volta todos os sentimentos de perder a minha irmã, e a ideia de que o criminoso pudesse nos machucar novamente", escreveu.
Entrevista / Mary Anne Yackel
"Ele estava molhado e cansado"
Moradora de Phoenixville, cidade do condado de Chester (Pensilvânia) onde a brasileira Deborah Brandão foi assassinada, Mary Anne Yackel, 57 anos, foi uma das primeiras pessoas a chegarem à área de captura de Danilo Cavalcante. Ela presenciou o momento em que o foragido saiu da mata escoltado pelos policiais. Em entrevista ao Correio, por telefone, ela disse que tinha certeza de que o assassino estava escondido naquele local. "Eu disse aos policiais inúmeras vezes", contou. De acordo com Yackel, mãe de sete, Danilo estava "molhado e cansado" e sangrava, minutos depois da captura.
Como a senhora chegou até o local onde Danilo estava?
Eu estava lá e me escondi quando os policiais o tiraram da mata, na área que faz parte do município de South Coventry, atrás da loja de tratores Little's John Deere at Prizer. Estive lá por toda a manhã e ontem (terça-feira). Conheço a área e eu sabia onde ele se escondia. Eu disse aos policiais inúmeras vezes que ele possivelmente se escondia ali. É uma região de muitas árvores, com terreno acidentado e rochoso. Ele estava lá. Os agentes estabeleceram um perímetro.
Por que imaginava que ele se esconderia ali?
Somos todos familiarizados com a área. Na verdade, ali era o local perfeito para ele se esconder. Há água, uma trilha e a possibilidade de sair dali rapidamente. Ele poderia se esconder bem no fundo da mata. Algumas pessoas têm casas lá. Parecia o local mais provável. Eu apenas tinha a sensação, sabe? Ontem (terça-feira), a polícia manteve o mesmo tipo de vigilância aérea e tentou fechar o cerco no solo. Mas não tinha nenhum conhecimento sobre onde, de fato, ele estava no perímetro. Eu estava perto do local onde ele foi capturado nesta manhã. A cerca de 800m. Durante a noite passada, entendi que seria comum se ele caminhasse e se movesse na escuridão. Eles o pegaramcom a ajuda de uma câmera infravermelho de um avião. O tempo mudou rapidamente, na última madrugada. Os raios levaram os helicópteros a suspenderem a busca. O alarme de uma das casas à beira da estrada disparou. Creio que ele se deslocava ao longo de um curso d'água, que é muito próximo da rodovia. A polícia obteve o reforço da Patrulha Fronteiriça e da Guarda Florestal, e todos esperaram até o amanhecer. O cão policial localizou o assassino, o mordeu e o dominou rapidamente.
O que a senhora viu durante a prisão do brasileiro?
Eu estava lá, na estrada em frente à loja de tratores Little's John Deere at Prizer. Ele estava molhado, cansado e estava sangrando quando foi retirado da mata pela polícia. Retornei lá depois que a polícia o levou e filmei o local. Nos últimos dias, eu dizia as policiais: "Vocês têm que ir à estrada onde fica a loja de tratores". Havia mais de 50 policias durante a captura dele. Eu estava na parte de trás da loja, quando eles o tiraram e o colocaram dentro de um carro blindado.
A senhora avisou a polícia várias vezes. Espera receber o resgate de US$ 25 mil pela captura dele?
Não, não. Seria legal (risos). Mas, você sabe? Eu não fiquei lá esperando por ele com uma arma. Eu só quis ajudar a polícia a entender sobre o que sabíamos em relação ao local e às casas da região. O que realmente queríamos é que eles usassem o infravermelho para localizá-lo, na noite de ontem (terça-feira). Isso foi decisivo para a captura dele. (RC)
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