Horror no Oriente Médio

Guerra Israel-Hamas: Tanques estão às portas da Cidade de Gaza

Forças de Defesa de Israel intensificam a operação terrestre, com blindados e infantaria apoiados por bombardeios. Netanyahu descarta cessar-fogo e diz que "é tempo para a guerra". Diretor de hospital relata drama

Motorista tenta manobrar após se deparar  com tanque israelense, na periferia leste da Cidade de Gaza...  -  (crédito: Fotos: Reprodução)
Motorista tenta manobrar após se deparar com tanque israelense, na periferia leste da Cidade de Gaza... - (crédito: Fotos: Reprodução)
postado em 31/10/2023 06:00

As Forças de Defesa de Israel (IDF) ampliaram a ofensiva terrestre na Faixa de Gaza e utilizaram dezenas de tanques de guerra em uma incursão perto do bairro de Al-Zeitun, na periferia leste da Cidade de Gaza. Vídeos divulgados pelas redes sociais mostram um dos blindados explodindo um carro no momento em que o motorista tentava manobrar para evitar ficar na linha de tiro. Segundo as IDF, dezenas de "terroristas" foram eliminados durante os combates e mais de 600 alvos relacionados à infraestrutura do grupo extremista Hamas acabaram atingidos pelos bombardeios.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou um cessar-fogo e admitiu que "mesmo as guerras mais justas têm vítimas civis não intencionais". "Quero deixar clara a posição de Israel. Assim como os EUA não concordariam com uma trégua depois do bombardeio a Pearl Harbor ou do ataque terrorista de 11 de setembro, Israel não aceitará a cessação de hostilidades com o Hamas", disse. "A Bíblia diz que há um tempo para a paz, e um tempo para a guerra. Este é o tempo para a guerra", reforçou. O premiê defendeu que um cessar-fogo seria uma rendição à barbárie. 

Motorista tenta manobrar após se deparar  com tanque israelense...
Motorista tenta manobrar após se deparar com tanque israelense, na periferia leste da Cidade de Gaza... (foto: Reprodução)

...e é destruído: vídeo circulou pelas redes sociais e causou revolta
...e é destruído: vídeo circulou pelas redes sociais e causou revolta (foto: Reprodução)

O governo dos Estados Unidos afirmou que não apoia um cessar-fogo "neste momento". Para John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, esta não seria "a resposta adequada neste momento". A Casa Branca defende pausas humanitárias temporárias, para permitir que os carregamentos de ajuda cheguem a Gaza. Porta-voz das IDF, Daniel Hagari anunciou que uma "atividade intensa de blindados e de infantaria se expande pela Faixa de Gaza. Os objetivos são desmantelar o Hamas e trazer os reféns para casa", declarou. 

Muhammad Abu Salamiya, diretor geral do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza, admitiu ao Correio que a situação "é ruim e tem piorado hora após hora". "São mais de 8.350 mártires (mortos) e 10 mil feridos. Não há leitos. Alguns desses feridos morrem sem que possamos nem sequer atendê-los", lamentou. O médico acrescentou que várias estradas que levam aos hospitais estão destruídas ou bloqueadas por escombros. "Estamos sem água. A eletricidade vai e volta por horas, e o nosso hospital tem sido ameaçado pela ocupação. Além disso, 60 mil deslocados estão abrigados em nossas instalações, em péssimas condições sanitárias", afirmou Abu Salamiya. Entre os 8.350 mortos, estão 3.457 crianças.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima em 420 o número de menores feridos ou mortos diariamente. "O verdadeiro custo desta última escalada será medido nas vidas das crianças, das que foram perdidas pela violência e das que foram mudadas para sempre por ela", disse a diretora executiva Catherine Russell. Por sua vez, a ONG Save the Children alertou que, a cada 10 minutos, uma criança morre em Gaza. 

Passava das 23h desta segunda-feira (30) em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza. Em notas de áudio enviadas pelo WhatsApp, a palestina Huda Al Assar, 57 anos, desabafou ao Correio: "Os bombardeios não param; as noites, aqui em Gaza, são longas e assustadoras". "Os últimos dias foram muito difíceis para nós. Estamos sem energia elétrica há duas semanas; a água e os alimentos estão no fim. A internet oscila bastante e não podemos nos comunicar nem com nossos parentes em Gaza", disse a professora que viveu 15 anos no Brasil. De acordo com ela, se a situação não mudar, muitas pessoas começarão a morrer de sede e de fome. "As crianças não aguentam mais, e não há mais leite para elas."

Huda garante que tudo o que tem ocorrido em Gaza "ultrapassa a imaginação". "Muitos prédios se tornaram túmulos. Não temos mais material para remover o concreto e tirar as pessoas de lá. Todo mundo espera ser a próxima vítímas. Não há lugar seguro na Faixa de Gaza."

EU ACHO...

Muhammad Abu Salamiya, diretor geral do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza
Muhammad Abu Salamiya, diretor geral do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza (foto: Arquivo pessoal )

"A alegação de que nosso hospital seria um centro de comando do Hamas é totalmente incorreta. Não há QG do Hamas aqui. Recebemos todas as organizações internacionais no Complexo Médico de Al-Shifa. Fornecemos serviço apenas aos feridos e aos doentes. A Cruz Vermelha, a Organização Mundial da Saúde e o Unicef vêm ao nosso hospital. Mais de 60 mil desabrigados estão aqui, agora. Se houvesse qualquer presença militar no hospital, essas pessoas não teriam se refugiado aqui."

Muhammad Abu Salamiya, diretor geral do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza

 

"Deixem-nos ir agora!"

ANA PAULA SOUSA / ESPECIAL PARA O CORREIO

Yelena Trupanob, Danielle Aloni e Rimon Kirsht foram capturadas em 7 de outubro: pressão sobre o governo
As reféns Yelena Trupanob, Danielle Aloni e Rimon Kirsht: cobranças (foto: Hamas)

No dia em que foi confirmada a morte da DJ alemã-israelense Shani Louk, 23 anos, capturada pelo Hamas durante uma rave no kibbutz de Re'im, em 7 de outubro, o movimento extremista divulgou um vídeo em que três reféns pedem ao premiê Benjamin Netanyahu que conclua uma troca de prisioneiros com o grupo para obter sua libertação. No vídeo de 76 segundos, Yelena Trupanov, Danielle Aloni e Rimon Kirsht aparecem sentadas em cadeiras de plástico. Uma delas, ao fim da gravação, visivelmente nervosa, grita: "Vocês querem nos matar todos. Não é o bastante que cidadãos israelenses tenham sido assassinados? Deixem-nos ir agora! Deixem os prisioneiros deles partirem. Libertem-nos! Deixe que voltemos para nossas famílias agora!", disse a mulher ao centro. Netanyahu descreveu o vídeo como uma "propaganda psicológica cruel".

Ao Correio, Ali Barakeh — chefe do Departamento de Relações Nacionais do Hamas — explicou que a publicação do vídeo é uma mensagem para a comunidade israelense pressionar Netanyahu a concluir a troca de prisioneiros de ambos os lados. "Também é uma mensagem humanitária do movimento Hamas às famílias das prisioneiras (reféns), para que as vejam e para confirmar à comunidade internacional que não matamos nem torturamos prisioneiros, mas os preservamos e os protegemos dos ataques áereos", afirmou. Ele adverte: "A opção militar poderá levar ao assassinato de prisioneiros devido a ataques".

Morte e resgate

A confirmação da morte de Shani Louk foi feita pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel. De acordo com as autoridades israelenses, a jovem teria sofrido "horrores insondáveis". Um vídeo divulgado pelo Hamas mostrava a jovem seminua, na traseira de uma caminhonete, cercada por homens armados. As Forças de Defesa Israel e o Shin Bet, serviço de segurança interna, anunciaram a libertação da militar Ori Megidish, levada pelo Hamas em 7 de outubro. Ontem, o número de sequestrados foi atualizado para 239.

Colaborou Rodrigo Craveiro 

 

  • Corpo de menina retirado dos escombros no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza
    Corpo de menina retirado dos escombros no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza Foto: Mohammed Abed/AFP
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