Horror no Oriente Médio

Guerra Israel-Hamas: Hezbollah não descarta escalada da violência

No primeiro discurso desde o início da guerra, o xeque Hassan Nasrallah, líder da milícia xiita, avisa que "todas as opções estão abertas" e exige o fim da "agressão à Faixa de Gaza". Médico relata bombardeio a ambulâncias

Refugiados palestinos do campo de Burj al-Barajneh assistem ao discurso de Nasrallaj, na periferia de Beirute  -  (crédito: Anwar Amro/AFP)
Refugiados palestinos do campo de Burj al-Barajneh assistem ao discurso de Nasrallaj, na periferia de Beirute - (crédito: Anwar Amro/AFP)
postado em 04/11/2023 06:00

Às vésperas de completar um mês, o confronto entre as Forças de Defesa de Israel (IDF) e o grupo extremista palestino Hamas tornou a produzir massacres de civis e cenas de horror, enquanto o líder da milícia xiita libanesa Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, não descartou uma "guerra total" no Oriente Médio. A aviação israelense bombardeou um comboio de ambulâncias diante do portão do Al Shifa, o maior hospital de Gaza, deixando 13 mortos. Houve ataques a outros dois hospitais, também na Cidade de Gaza: Al-Quds e Indonésio.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, defendeu, em Tel Aviv, "pausas humanitárias" na ofensiva aérea e terrestre em Gaza. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou qualquer suspensão da operação militar e exigiu a libertação de todos os 242 reféns em poder do Hamas. 

Em raro discurso, Nasrallah não descartou o espalhamento da violência e responsabilizou as IDF e os Estados Unidos pela guerra em Gaza e pela matança de israelenses nos atentados de 7 de outubro. "A possibilidade de essa frente registrar uma nova escalada ou uma guerra total (…) é realista e pode ocorrer, o inimigo deve se preparar", advertiu, ao afirmar que os ataques do Hamas ao sul de Israel expuseram a "fraqueza" do Estado judeu. "Quem quiser evitar uma guerra regional deve deter rapidamente a agressão em Gaza." 

O chefe do Hezbollah não se intimidou com a presença de navios de guerra e porta-aviões norte-americanos no Mar Mediterrâneo. "Eu digo a vocês com toda a sinceridade. Nós nos preparamos bem para suas frotas, com as quais vocês nos ameaçam", declarou o xeque. 

"Em nossa frente, todas as opções estão abertas. Nós estudamos todas as opções. Devemos estar prontos para todas as opções que podem ocorrer no futuro", insistiu Nasrallah. Nos últimos dias, o Hezbollah tem travado combates com as IDF na região da Alta Galileia, no extremo norte de Israel, e disparado foguetes. O Exército israelense atingiu dois lançadores antitanque e um posto avançado da milícia xiita apoiada pelo Irã. 

Kiryat Shmona, no norte de Israel e a apenas 1,9km da fronteira com o Líbano, convive com o medo de ataques. Na quinta-feira (2/11), foguetes disparados pelo Hamas a partir do território libanês incendiaram carros e lojas e feriram duas pessoas. Em entrevista ao Correio, Avihay Shtern, prefeito da cidade desde 2018, disse que a ameaça real vem do Irã. "O regime iraniano está no controle das organizações terroristas Hamas e Hezbollah. Nós todos vimos os seus crimes cruéis contra a humanidade. Chamá-los de animais seria ofensivo para os bichos. Eles decapitaram bebês e estupraram mulheres e depois os queimaram vivos", disse. "Atos como estes precisam assustar o mundo e não apenas Kiryat Shmona. Hoje é Israel; amanhã, a Europa; depois, todos os que não têm opiniões radicais como eles."

Segundo Shtern, a proximidade entre Kiryat Shmona e o Líbano faz com que o intervalo entre a sirene antiáerea e o impacto seja de menos de 10 segundos. "Ante a presença das forças do Hezbollah na fronteira, sabemos que os ataques de 7 de outubro podem se repetir na nossa cidade, com a possibilidade de serem ainda piores. Por isso, Israel deve agir para removê-los da fronteira ou destruí-los. Temos um exército poderoso. Aqueles que precisam ter medo são nossos inimigos, que estão assustados e vivem nos túneis", comentou o prefeito. Antes da guerra em Gaza, Kiryat Shmona tinha 24 mil habitantes; 21 mil foram retirados às pressas. Hoje, são imigrantes hospedados em hotéis à espera de voltar para casa.

Míssil

Imagem de tevê mostra vítimas de bombardeio próximo a ambulância atingida pelo míssil, a poucos metros do Hospital Al Shifa
Imagem de tevê mostra vítimas de ataque, a poucos metros do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza (foto: AFPTV)
 

Às 18h desta sexta-feira, 3/11 (meio-dia, em Brasília), a aviação israelense disparou um míssil de cruzeiro diante do portão do Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza, o maior do enclave palestino. "Eles bombardearam, mais uma de uma vez, uma ambulância que se dirigia para o sul, depois de sair de nosso hospital. O veículo, que fazia parte de um comboio, foi atingido mais de uma vez e voltou para Shifa. Ao chegar ao portão, a ambulância foi novamente atacada. Ouvi a explosão e fiquei muito preocupado pelos feridos que estavam sendo transportados e pelos funcionários do Shifa. Foi uma visão horrível. Partes rasgadas de corpos de crianças, mulheres e idosos", contou ao Correio Muhammad Abu Salmiya, diretor geral do Hospital Al Shifa. "No local, havia muitos desabrigados, palestinos que se refugiavam em nosso complexo. Pelo menos 13 pessoas morreram e 65 ficaram feridas, incluindo desalojados e o motorista."

Em nota publicada na rede social X, o antigo Twitter, as IDF anunciaram que identificaram uma "célula terrorista" utilizando uma ambulância. "Em resposta, uma aeronave das IDF bombardeou e neutralizou os terroristas do Hamas, que operavam dentro da ambulância. Nós enfatizamos que essa área em Gaza é uma zona de guerra. Os civis são, repetidamente chamados a fugir rumo ao sul para a própria segurança", afirma o texto. 

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