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Por que redução da população da China pelo 2º ano seguido traz preocupação

Especialistas dizem que a queda já era esperada, considerando a classe urbana em expansão e a baixa recorde na taxa de natalidade do país.

Pequim diz que a taxa de natalidade caiu para 6,39 a cada 1.000 pessoas -  (crédito: Getty Images)
Pequim diz que a taxa de natalidade caiu para 6,39 a cada 1.000 pessoas - (crédito: Getty Images)
Bebê chinês recém-nascido
Getty Images
Pequim diz que a taxa de natalidade caiu para 6,39 a cada 1.000 pessoas

A população da China diminuiu pelo segundo ano consecutivo, causando ainda mais preocupações sobre o crescimento futuro da segunda maior economia do mundo.

Dados divulgados nesta quarta-feira (17/01) mostraram uma população de 1,409 bilhão no final de 2023 – uma redução de 2,08 milhões em relação a 2022.

O declínio mais recente é o dobro do registrado no ano anterior, que marcou a primeira queda populacional no país em 60 anos.

Mas especialistas dizem que a queda já era esperada, considerando a classe urbana em expansão e a baixa recorde na taxa de natalidade do país.

Pequim disse nesta quarta-feira que a taxa de natalidade caiu para 6,39 para cada 1.000 habitantes, se igualando à de outras nações do Leste Asiático, como Japão e Coreia do Sul.

Custo de vida

As taxas de natalidade do país vêm caindo há décadas - depois de impor a controversa política do filho único na década de 1980 para controlar a superpopulação da época.

O governo suspendeu a política em 2015 para tentar conter a queda populacional e criou também uma série de incentivos, como subsídios e pagamentos para encorajar as pessoas a constituir famílias.

Em 2021, flexibilizou ainda mais o limite para permitir que casais tenham até três filhos.

No entanto, as políticas tiveram pouco impacto, com os jovens das cidades modernas afirmando que fatores como o custo de vida e as prioridades profissionais após um período de três anos da covid-19 os dissuadem de ter filhos.

"Meu marido e eu queremos ter um filho, mas não podemos pagar por isso no momento", diz Wang Chengyi, uma mulher de 31 anos de Pequim.

Ela disse à BBC que ela e seu parceiro precisariam economizar dinheiro por mais três anos para arcar com os custos de ter um filho – levando em conta especialmente as despesas escolares.

"Eu quero engravidar enquanto sou jovem, pois é melhor para minha saúde. No entanto, não tenho dinheiro suficiente por enquanto, então tenho que adiar. É uma pena e às vezes sinto pânico por causa disso", conta.

Especialistas apontam o impacto da pandemia na aceleração do declínio de novos nascimentos. No entanto, avaliam que as questões econômicas subjacentes são um fator mais importante.

Gráfico mostra taxa de natalidade da China desde 1979
BBC

Nas redes sociais, internautas também apontaram o custo de vida como um dos fatores por trás da tendência.

"Se você permitir que as pessoas vivam com mais facilidade, com mais segurança, é claro que haverá mais pessoas querendo filhos", escreveu um usuário em um comentário com muitas curtidas no Weibo, uma das redes sociais mais populares no país.

A China está seguindo o caminho de outros países que se desindustrializaram rapidamente, dizem os especialistas, embora o ritmo da mudança tenha sido mais rápido.

"Não é uma surpresa. Eles têm uma das taxas de atalidade mais baixas do mundo, então é exatamente isso que acontece: a população para de crescer e começa a diminuir", diz o professor Stuart Gietel-Basten, especialista em política populacional da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong.

"Está meio que fechado agora... este é apenas o segundo ano nesta nova era de estagnação ou declínio populacional para a China."

Trabalhador de fábrica
Getty Images
A recuperação da China no pós-covid tem sido devagar

Os problemas econômicos da China vieram à tona em 2023, com o país lutando contra uma crise imobiliária generalizada, a queda nos gastos dos consumidores e o desemprego recorde entre os jovens como consequências da pandemia.

Os dados anuais divulgados nesta quarta-feira confirmaram as dificuldades, mostrando que a economia cresceu a uma das taxas mais lentas em mais de três décadas.

Segundo o que foi divulgado, o PIB chinês cresceu a uma taxa de 5,2%, atingindo 126 bilhões de yuans (R$ 87,3 bilhões).

Os dados apontam para o desempenho mais fraco desde 1990 da economia chinesa – excluindo os anos de pandemia.

Ainda de acordo com os dados divulgados por Pequim, a taxa de desemprego entre os jovens em dezembro de 2023 era de 14,1%. Esse índice havia chegado a 21,3% em junho, mas caiu depois da China suspender temporariamente a divulgação dos números mensais.

E os dados populacionais recentes reforçam ainda mais as preocupações sobre a economia – já que a China depende há muito tempo de uma mão de obra mais velha como principal motor da sua economia.

O país enfrenta uma pressão crescente nos seus sistemas de saúde e de previdência à medida que a população de aposentados cresce - a previsão é que esse grupo se expanda em até 60%, para 400 milhões de pessoas, até 2035.

Mas especialistas dizem que o país tem tempo e recursos para gerir a transição da sua força de trabalho.

"A China não é diferente de outros países que se desindustrializaram e passaram para o setor dos serviços. A população se torna mais instruída, qualificada e saudável, e quer ocupar outros empregos em vez de trabalhar em fábricas ou na construção", diz Gietel-Basten.

"O governo está ciente disso e se planejou ao longo da última década, por isso espera-se que continue nessa direção."

A China, que já foi a nação mais populosa do mundo, foi ultrapassada pela Índia no ano passado, segundo a ONU. A população da Índia é hoje de 1,42 bilhão de pessoas.

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BBC
Frances Mao - BBC News
postado em 17/01/2024 15:23 / atualizado em 17/01/2024 22:04
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