Por Danny KEMP
O presidente americano, Joe Biden, e sua vice, Kamala Harris, colocaram nesta segunda-feira (22) o direito ao aborto no centro da campanha dos democratas contra Donald Trump, favorito à nomeação do Partido Republicano para as eleições presidenciais de novembro.
"Como ele se atreve?", disse Kamala sobre o ex-presidente republicano, que se vangloriou de seu papel na anulação do direito federal e constitucional ao aborto. "Esses extremistas tentam nos fazer recuar. Não aceitaremos", proclamou a vice-presidente, 51, em Big Bend, Wisconsin, para onde viajou hoje, no início de um giro nacional.
Biden, por sua vez, atacou o que chamou de republicanos "extremistas" e "cruéis", em discurso na Casa Branca por ocasião do 51º aniversário da decisão Roe vs. Wade, que garantiu o direito das mulheres americanas de abortar.
O Wisconsin é um "estado pendular" ("swinging state"), ou seja, em que os eleitores mudam seu voto, inclinando-se por um ou outro partido, a depender dos candidatos e das eleições.
A equipe de campanha de Biden promove Kamala como rosto visível dos direitos reprodutivos, com a mensagem de que se Trump voltar à Casa Branca, ele vai tentar restringi-los ainda mais. Os democratas apostam nesse tema, principalmente porque Trump supõe que a revogação do direito ao aborto em nível federal foi possível graças a ele.
"Orgulhoso? Orgulhoso de as mulheres de todo o país estarem sofrendo? Orgulhoso de que tenha sido roubada uma liberdade fundamental das mulheres?", questionou Kamala. "Como se atreve?"
Mulheres que assistiram ao ato ressaltaram a importância das mensagens de Kamala e Biden. "Não sei se existem leis que regulem o que um homem pode fazer com seu corpo, então por que um homem tenta dizer a uma mulher o que ela deveria poder fazer com seu corpo?", disse a líder comunitária Corinda Rainey-Moore.
'Crueldade assombrosa'
Irene Parthum, promotora distrital aposentada, disse que apoia a posição dos democratas por sua filha e pelas gerações futuras. "Quero que tenham os mesmos direitos que eu tive."
Em 2022, a Suprema Corte, de maioria conservadora desde que Trump designou três magistrados durante seu mandato, anulou a sentença do caso Roe vs. Wade e deu a cada estado a liberdade de legislar a respeito.
A campanha de Biden lançou um bombardeio sobre o tema nesta semana, por considerá-lo um potencial ponto fraco de Trump diante de uma provável revanche contra Biden. Em reunião com especialistas em saúde reprodutiva na Casa Branca, Biden descreveu repetidamente os republicanos como "extremistas" na questão do aborto.
"A crueldade é assombrosa. Hoje, em 2024, as mulheres são rejeitadas nas salas de emergência, nos quartos, obrigadas a viajar centenas de quilômetros para receber atendimento básico de saúde", criticou o presidente.
Kamala e Biden farão sua primeira aparição juntos na campanha eleitoral de 2024 em um grande comício na Virgínia, amanhã. Ao lado deles estará a primeira-dama, Jill Biden.
Desde a decisão da Suprema Corte, 14 estados impuseram proibições absolutas ao aborto e outros sete o restringiram, segundo um balanço feito pelo New York Times. O tema, que permitiu aos democratas limitar as perdas nas eleições de meio de mandato, em 2022, continua sendo explosivo na política e na sociedade americana.
Há apenas alguns dias, milhares de ativistas antiaborto se manifestaram debaixo de neve em Washington em uma "Marcha pró-vida" anual em um país onde, segundo as pesquisas, a maioria da população é favorável à interrupção voluntária da gravidez.
Os democratas devem se concentrar em áreas onde esse direito está ameaçado, pois não é um tema em escala nacional, como a migração e a criminalidade, explicou à AFP Melissa DeRosa, estrategista do partido.
"A liberdade reprodutiva será um tema importante em locais onde ainda não está assegurada", afirmou. Também servirá para impulsionar a imagem da vice-presidente que, segundo as pesquisas, têm dificuldades para se conectar com o eleitorado.
Os republicanos fizeram dela um alvo. Consideram que não está apta para assumir a Presidência se algo acontecer com Biden, de 81 anos. Mas a equipe de campanha democrata avalia, ao contrário, que sua voz poderia ser crucial junto às mulheres, às minorias étnicas e aos eleitores jovens.
"O que Kamala está fazendo, bem ou mal, tem muita força entre as mulheres jovens", disse a ex-secretária de imprensa de Trump, Kayleigh McEnany, à emissora de TV conservadora Fox News.
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