Operação

Quem são os aliados de Bolsonaro alvos da operação da PF que investiga suposta tentativa de golpe de Estado?

Ex-ministros generais Braga Netto e Augusto Heleno estão entre os investigados

Ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Braga Netto é um dos alvos da operação -  (crédito: Presidência da República)
Ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Braga Netto é um dos alvos da operação - (crédito: Presidência da República)
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postado em 08/02/2024 11:59 / atualizado em 08/02/2024 13:11

Ex-integrantes da cúpula do governo de Jair Bolsonaro, inclusive ex-comandantes das Forças Armadas, foram alvos de uma operação da Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (8/2) que investiga uma organização criminosa acusada de "tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito" nos períodos que antecederam e se seguiram às eleições presidenciais de 2022.

O objetivo do grupo, segundo comunicado da PF, seria tentar garantir a "manutenção do então presidente da República (Jair Bolsonaro) no poder".

Ao menos duas fontes confirmam à BBC News Brasil que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) éalvo da operação Tempus Veritatis e que foi expedido um pedido para que entregue seu passaporte às autoridades.

Em um post na rede social X (antigo Twitter), o assessor de Bolsonaro Fabio Wajngarten afirmou que o ex-presidente cumprirá as ordens da PF de entregar o passaporte e de não manter contato com os demais investigados.

Policiais federais cumprem as medidas judiciais, expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, nos Estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.

Pelo menos nove aliados e ex-ministros de Bolsonaro também são alvo da PF na investigação.

Os militares general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e General Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, além de Valdemar da Costa Neto (presidente do PL), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça) e Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) — todos aliados próximos de Bolsonaro — foram alvos de mandados de busca e apreensão, segundo fontes da PF ouvidas pela BBC.

Saiba mais a seguir quem são os principais.

General Braga Netto

Militar da reserva e político filiado ao PL, o general de Exército Walter Souza Braga Netto foi um dos mais importantes nomes do governo Bolsonaro.

Primeiro, assumiu o comando da Casa Civil em fevereiro de 2020. Depois, em abril de 2021, passou a comandar o Ministério da Defesa, quando Bolsonaro trocou toda a cúpula das Forças Armadas em busca de um maior alinhamento dos militares com seu governo.

As trocas teriam ocorrido porque Bolsonaro estaria insatisfeito com a postura do então comandante do Exército, Edson Pujol, de manter os militares distantes da política.

A confiança de Bolsonaro o levou a ser candidato a vice-presidente em sua chapa em 2022, quando ambos foram derrotados por Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo reportagem de outubro do jornal O Globo, Braga Netto é investigado pela Polícia Federal como possível elo entre o Bolsonaro e integrantes dos acampamentos montados em frente aos quartéis do Exército que pediam intervenção militar após a vitória do petista.

Essa investigação, diz ainda o jornal, foi baseada na delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Uma fala pública de Braga Netto gerou repercussão pouco após a derrota nas eleições. Quando Bolsonaro estava recluso, o general conversou com apoiadores do presidente após visitá-lo no Palácio da Alvorada, no dia 18 de novembro.

Na ocasião, disse: "Presidente está bem, está recebendo gente. Vocês não percam a fé, tá bom?! É só o que eu posso falar agora".

Essa fala foi disseminada entre bolsonaristas radicais e interpretada na época como uma mensagem para não desmobilizarem os acampamentos em frente aos quartéis.

Antes de integrar o governo Bolsonaro, Braga Netto se projetou ao comandar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro no governo de Michel Temer.

Também foi coordenador geral de Defesa dos Jogos Oli?mpicos e Parali?mpicos em 2016.

General Augusto Heleno

O general Augusto Heleno foi ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante todo o governo Bolsonaro.

Conheceu o ex-presidente ainda na década de 70, quando foi seu instrutor na Academia Militar das Agulhas Negras.

Foi apoiador de primeira hora das intenções presidenciais de Bolsonaro. Antes mesmo do começo da disputa eleitoral de 2018, comandou reuniões do grupo de formuladores do programa de governo do então candidato do PSL.

Quase foi candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, no lugar de Hamilton Mourão – o que só não aconteceu porque o então partido de Heleno, o PRP, não topou.

Além de ser investigado por possível envolvimento em tentativa de golpe, Heleno é alvo do inquérito que apura o suposto uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para fins políticos durante o governo Bolsonaro, já que se trata de um órgão subordinado ao GSI, então comandando pelo general.

Conheceu Jair Bolsonaro ainda na década de 70, quando foi seu instrutor na Academia Militar das Agulhas Negras.

Hoje na reserva, Heleno chegou a general de quatro estrelas, o topo da hierarquia do Exército.

Na força, ocupou cargos de grande visibilidade: foi o primeiro comandante militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (ou Minustah, conforme sua sigla) de 2004 a 2005 e liderou o Comando Militar da Amazônia de 2007 a 2009.

Em 2011, ao encerrar a carreira no Exército, elogiou o golpe militar de 1964 ao se referir à memória do pai, que também serviu às Forças Armadas: "Lutastes, em 1964, contra a comunização do país e me ensinastes a identificar e repudiar os que se valem das liberdades democráticas para tentar impor um regime totalitário de qualquer matiz".

Depois de ir para a reserva, se aproximou de funções ligadas à comunicação. Foi consultor de segurança e assuntos militares da TV Bandeirantes e dirigiu a Comunicação e a Educação Corporativa do Comitê Olímpico Brasileiro.

General Paulo Sérgio Nogueira

O general Paulo Sérgio Nogueira foi ministro da Defesa no final do governo Bolsonaro, a partir de abril de 2022. Antes, foi comandante do Exército por cerca de um ano.

Como ministro da Defesa, esteve à frente da interlocução das Forças Armadas com o Tribunal Superior Eleitoral. Apesar do envolvimento militar em questões eleitorais ser controverso, o diálogo foi aberto pela Corte em resposta às pressões do governo sobre a lisura do processo eleitoral.

Foi nesse contexto que Nogueira enviou um ofício em junho de 2022 com queixas ao TSE de que sete propostas feitas pelas Forças Armadas não estariam sendo devidamente consideradas.

"Até o momento, reitero, as Forças Armadas não se sentem devidamente prestigiadas por atenderem ao honroso convite do TSE para integrar a CTE (Comissão de Transparência das Eleições)", dizia o ofício enviado ao TSE.

"Por fim, encerro afirmando que a todos nós não interessa concluir o pleito eleitoral sob a sombra da desconfiança dos eleitores. Eleições transparentes são questões de soberania nacional e de respeito aos eleitores", dizia ainda o documento.

Segundo reportagem do jornal O Globo de julho de 2022, o então ministro a Defesa compartilhou naquela ocasião, via WhatsApp, um artigo dizendo que a eventual vitória de Lula nas eleições "será o desastre e a ruína moral da nação e de suas instituições".

Ainda de acordo com o jornal, o artigo era assinado pelo general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e diretor de geopolítica e conflitos do Instituto Sagres, entidade composta por militares da reserva.

Almirante Almir Garnier Santos

O Almirante Almir Garnier Santos foi comandante da Marinha no governo Bolsonaro.

Segundo reportagens do portal UOL e do jornal O Globo de setembro de 2023, ele foi citado na delação de Mauro Cid como o único chefe de uma Força a apoiar a intenção golpista de manter Bolsonaro no poder.

Garnier teria dito em reunião no Palácio da Alvorada que sua tropa estava pronta para atender a um chamamento de Bolsonaro.

Valdemar da Costa Neto

Valdemar da Costa Neto é presidente do PL, partido de Bolsonaro.

Sob seu comando, a sigla ingressou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), junto com PP e Republicanos, em novembro de 2022, pedindo a invalidação de 59,18% dos votos do segundo turno das eleições presidenciais vencidas por Lula.

Pouco depois de a coligação ter movido essa ação, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, assinou um despacho determinando que o processo movido pelo partido abrangesse, também, os votos do primeiro turno, o que poderia afetar potencialmente os votos para o Congresso Nacional, em que o PL obteve forte bancada.

Após a recusa da coligação, Moares negou a ação que colocou em questão a confiabilidade das eleições e decidiu também multar os partidos em R$ 22,9 milhões por "litigância de má-fé".

Segundo decisão de Moraes que autorizou a operação desta quinta-feira, a investigação da PF sustenta que houve instrumentalização do Partido Liberal "para financiar a estrutura de apoio às narrativas que alegavam supostas fraudes às urnas eletrônicas, de modo a legitimar as manifestações que ocorriam em frentes as instalações militares".

Ainda segundo a decisão, o ápice dessa estratégia teria "ocorrido no dia 22.11.2022, quando a Coligação PELO BEM DO BRASIL (formada à época pelo Partido Liberal, Republicanos e Progressistas), ingressou com ação judicial 'Representação Eleitoral para Verificação Extraordinária' com pedido que, na prática, anularia os votos computados pelas urnas fabricadas antes de 2020".

Antes de se aliar a Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto foi condenado no processo do Mensalão, escândalo de corrupção que marcou o primeiro governo de Lula.

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