Lisboa — Dois cãezinhos da raça chihuahua — ele, nascido em Brasília, ela, originária da Cidade do México — decidiram ir à luta para ajudar crianças e adultos a enfrentarem seus traumas, sejam aqueles provocados pelo bullying, sejam os decorrentes de um grande terremoto. Não só. Os bichinhos dão aulas de educação ambiental, história, cultura e geografia.
Toda essa versatilidade pode ser conferida em As aventuras de Nico e Frida, livro de contos infantis da escritora e jornalista gaúcha Mônica Cabañas, que acaba de chegar à Amazon em quatro versões: português, inglês, espanhol e francês.
“É um livro familiar indicado tanto para crianças que leem sozinhas quanto para pais e educadores. Os contos trabalham com a nossa criança interior, que, às vezes, está doente, sofre bullying, confia em quem não deveria”, diz Mônica.
Ela ressalta que a ideia da publicação, que está na terceira edição, surgiu em 2017, quando morava no México. Naquele ano, o país enfrentou dois terremotos fortíssimos, que provocaram mortes e deixaram muitos feridos. A escritora, que também é terapeuta, se deu conta do tamanho do estresse que aqueles eventos naturais provocavam nas crianças.
A partir dali, Mônica passou a usar todo o conhecimento e a vivência dela para ajudar os pequenos de uma forma lúdica. E Nico e Frida, seus companheiros de vida, se tornaram personagens para chegar ao público que ela quer atingir.
“Trabalhei com muito carinho, combinando o lado jornalista, o de terapeuta, a minha experiência de vida e muita pesquisa e investigação”, destaca. “A meta é fazer com que o leitor de qualquer idade aprenda a lidar com temores e insegurança e consiga superar as dificuldades.”
Além do texto, a escritora fez todas as ilustrações do livro, reativando o talento para o desenho que desenvolveu ainda criança. Nos contos, Mônica fez questão de colocar Nico e Frida como pets adotados para incentivar e promover a proteção dos animais.
Nas próximas aventuras dos cãezinhos, a autora tratará de outro tema muito importante: a migração. Ela, que vive atualmente na Suíça, já morou no México, no Canadá e na França e sabe muito bem as dores e as delícias de ser imigrante.
É preciso muita resiliência para enfrentar os desafios e as diferenças econômicas e culturais. Veja, a seguir, trechos da entrevista que Mônica concedeu ao Correio.
Como surgiu a ideia de fazer o livro?
Em 2017, ocorreram no México, onde eu morava, dois grandes terremotos, um, em 7 de setembro, outro, em 19 de setembro, sendo o primeiro o mais forte em 100 anos. Após esses eventos, a Escola de Psicologia em que eu fazia um mestrado em Terapias Ericksonianas (hipnose), desenvolveu um trabalho para atuar junto à população do país no estresse pós-traumático do terremoto, pois os danos foram muito grandes, tanto físicos quanto psicológicos.
Me engajei de primeira neste trabalho e passei a atender, principalmente, brasileiros residentes no país. Nesses atendimentos, as mulheres sempre relatavam o trauma causado nos filhos pelo terremoto. Foi realizando esse trabalho que me ocorreu escrever um conto com o Nico e a Frida sobre seus medos e traumas com esta força da natureza para a qual nunca estamos preparados totalmente.
Como se deu esse trabalho?
Comecei uma pesquisa sobre como procediam os governos dos países que têm terremotos, sobretudo em relação ao estresse pós-traumático nas populações, e juntei todos esses estudos às técnicas ericksonianas e a minha experiência de muitos anos como jornalista, além, é claro, do meu desejo profundo de escrever para crianças.
Foi aí que surgiu o conto “Nico e Frida e o terremoto”. Esse conto foi utilizado não somente por mim, mas também pelos meus colegas e professores para trabalhar com as crianças e suas famílias na campanha de apoio às vítimas do terremoto.
O texto atingiu tanto o objetivo de apoiar as crianças e suas famílias em um momento tão estressante e tenso, como os pós-terremoto, que decidi publicar, de maneira independente, o livro completo das aventuras dos meus dois chihuahuas, Nico e Frida, desta vez, abordando outros temas, como a confiança nos adultos, o bullying e a proteção animal e ao meio ambiente.
Que mensagem pretende passar?
O livro tem como objetivo auxiliar, com uma linguagem lúdica e simples, na superação de traumas que tanto as crianças quanto as famílias vivem no dia a dia. A publicação é recheada de informações sobre história, geologia, cultura e fenômenos naturais.
Também destaca a importância da proteção animal e, de maneira especial, a ligação de amor e carinho entre os pets e os seus tutores, bem como a importância na preservação e proteção ao meio ambiente, tema tão atual e imprescindível nos dias de hoje.
O livro é escrito em português, inglês, francês e espanhol para possibilitar o acesso a um maior número de pessoas de diferentes lugares do mundo às histórias dos dois chihuahuas que eu tanto amo.
Qual tem sido o retorno dos leitores? Seu objetivo tem sido alcançado?
Quando pessoas de diferentes países e, de modo especial, os brasileiros, comentam sobre meu livro, tenho a certeza de que estou sendo útil, um instrumento para melhorar a vida de todos. Quando as crianças vêm falar comigo e querem saber mais sobre o Nico e a Frida, sobre as borboletas, sobre os países que falo ou sobre o nosso dia a dia, a sensação que tenho é de uma onda de amor e alegria.
Como é a experiência de viver fora do Brasil?
Vivo fora do Brasil desde 2013 e busco aprender muito nos países nos quais tenho a oportunidade de morar. Mesmo com as diferenças culturais que sempre estão presentes, somos todos, em qualquer parte deste planeta, seres Humanos que desejam e querem ser felizes, respeitados e amados. É dentro desta ótica de humanidade que eu me movimento tanto na minha vida pessoal quanto na profissional.
Esta não é a sua primeira publicação, certo?
Sou autora ou coautora de outros oito livros técnicos, vinculados à proteção social. Entre eles, destaco três, um sobre a proteção das trabalhadoras domésticas brasileiras, outro sobre a Previdência Social e um terceiro sobre o acordo de proteção social do Mercosul. “As Aventuras de Nico e Frida” é meu primeiro livro infantil. Sempre tive o desejo de escrever para crianças.
Já tem outros trabalhos em andamento?
Iniciei o ano trabalhando em um novo livro do Nico e da Frida, e um dos contos será sobre migrar, pois todos nós, de alguma maneira, estamos em constante migração. Nico e Frida tanto quanto eu e meu marido, estamos sempre nos movimentando entre países.
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