GUERRA

Entenda primeiro ataque direto do Irã a Israel

Irã lançou ataque contra Israel no sábado, em uma represália que já era esperada

Míssil iraniano durante exercício militar no Irã em 2023 -  (crédito: Reuters)
Míssil iraniano durante exercício militar no Irã em 2023 - (crédito: Reuters)
BBC
BBC Geral
postado em 15/04/2024 18:08 / atualizado em 15/04/2024 20:15

Pela primeira vez, o Irã realizou ataques diretos contra o território de Israel no sábado (13/4).

No meio da noite de sábado, alertas de ataque aéreo dispararam em Israel. Os residentes procuraram abrigo enquanto explosões eram ouvidas e as defesas aéreas eram ativadas.

As interceptações iluminaram o céu noturno em vários lugares do país, enquanto muitos drones e mísseis foram abatidos pelos aliados de Israel antes de chegarem ao território israelense.

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Pelo menos nove países estiveram envolvidos na escalada militar — com projéteis disparados do Irã, Iraque, Síria e Iêmen e abatidos por Israel, pelos EUA e pela França, bem como pela Jordânia.

Uma represália era esperada. O Irã havia prometido retaliar depois de um ataque ao seu consulado na Síria, no dia 1º de abril, que atribuiu a Israel (embora Israel não tenha confirmado ser o autor).

Naquele ataque, 13 pessoas foram mortas, incluindo um general de 63 anos com um longo histórico de serviços prestados ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), o poderoso exército paralelo do Irã — e o mais numeroso dentro das suas Forças Armadas.

A seguir, veja o que se sabe sobre o ataque e entenda as origens da rivalidade entre Israel e Irã, uma das principais fontes de instabilidade no Oriente Médio.

'Permanecer alerta'

As forças israelenses estão em alerta máximo e "monitorando todos os alvos", segundo afirmaram autoridades no fim de semana.

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, contra-almirante Daniel Hagari, disse que o Irã disparou mais de 300 projéteis contra Israel durante a noite, 99% dos quais foram abatidos. Ele acrescentou que alguns dos lançamentos chegaram do Iraque e do Iêmen.

Hagari disse que alguns mísseis iranianos atingiram o interior de Israel, causando pequenos danos, mas sem vítimas.

Um dos mísseis atingiu a base aérea de Nevatim, no sul do país, causando poucos danos.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que "muito poucos danos foram causados", mas alertou que "a campanha ainda não terminou" e disse que Israel deve "permanecer alerta".

O serviço de ambulância de Israel disse que uma menina beduína de sete anos foi ferida por estilhaços de destroços na região sul de Arad.

Hagari disse que o ataque em larga escala foi uma "grande escalada" e disse que Israel e seus aliados operaram com força total para defender Israel.

Após o ataque, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que "juntos venceremos".

O ministro centrista Benny Gantz disse que Israel vai responder "quando chegar a hora" e vai "cobrar o preço" do ataque.

O presidente dos EUA organizou uma reunião online dos líderes do G7, enquanto a Casa Branca insistiu que não quer ver a crise no Médio Oriente aumentar.

O presidente Biden disse ter reafirmado "o firme compromisso da América com a segurança de Israel" mas disse também que os EUA não vão participar de um ataque se Israel decidir retaliar.

Repercussão internacional

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou os membros para não aumentarem ainda mais as tensões com represálias contra o Irã, dizendo que o Oriente Médio já está "no limite".

Ao discursar durante a reunião do Conselho de Segurança no domingo (14/4), ele afirmou: "As pessoas da região enfrentam um perigo real de um conflito devastador em grande escala. Agora é a hora de desarmar e desescalar. Nem a região nem o mundo podem permitir mais guerras".

Na mesma reunião, o enviado de Israel na ONU instou o Conselho de Segurança a impor "todas as sanções possíveis" contra o Irã após os ataques sem precedentes do país.

Já o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, declarou que o Irã sofreu uma "dupla derrota": primeiro, o ataque falhou; segundo, a ação mostrou a verdadeira natureza do país ao mundo

Cameron diz que agora é a hora de diminuir a escalada e exorta Israel a pensar com "a cabeça, não com o coração".

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou uma nota em que diz acompanhar o conflito "com grave preocupação".

"Desde o início do conflito em curso na Faixa de Gaza, o Governo brasileiro vem alertando sobre o potencial destrutivo do alastramento das hostilidades à Cisjordânia e para outros países, como Líbano, Síria, Iêmen e, agora, o Irã", disse o Itamaraty.

"O Brasil apela a todas as partes envolvidas que exerçam máxima contenção e conclama a comunidade internacional a mobilizar esforços no sentido de evitar uma escalada."

'Quase todos'

Ao expressar forte condenação pelo ataque, durante o fim de semana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que os EUA ajudaram Israel "a derrubar quase todos" os mísseis e drones.

"O Irã e os seus representantes que operam a partir do Iêmen, Síria e Iraque lançaram um ataque aéreo sem precedentes contra instalações militares em Israel", disse Biden.

Em um comunicado oficial, o Irã afirmou que o ataque foi nomeado "Operação Promessa Verdadeira" e disse que lançou "dezenas de mísseis e drones contra alvos específicos" em Israel.

A declaração militar do Irã diz que o ataque está relacionado a "crimes repetidos" de Israel, incluindo o ataque em 1º de abril ao consulado iraniano, que Teerã atribuiu a Israel.

Devido aos ataques, os espaços aéreos foram fechados em todo o Oriente Médio no sábado.

A Jordânia, o Líbano e o Iraque, três países localizados na provável trajetória de voo destes drones, fecharam o seu espaço aéreo. O Irã e Israel também fecharam os seus para todos, exceto aeronaves militares.

Desdobramento da guerra em Gaza

Entre os inúmeros desdobramentos da guerra de Israel contra o Hamas na Faixa Gaza, a intensificação da inimizade entre Israel e o Irã é considerada a mais explosiva, escreve a correspondente internacional da BBC Lyse Doucet.

Os países têm uma grande rivalidade há anos, o que já deixou um grande número de mortos, muitas vezes em ações secretas em que nenhum dos governos admite sua responsabilidade.

Desde que a guerra em Gaza eclodiu há seis meses, Israel intensificou os seus movimentos contra o Irã, não apenas atacando o fornecimento de armas e infraestruturas na Síria, mas assassinando altos comandantes do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) do Irã e do Hezbollah (organização política e paramilitar fundamentalista islâmica, criada no Irã e presente no Líbano).

O Irã então apreendeu um navio comercial com ligações a Israel na manhã de sábado (13/4), mas analistas já afirmavam que era pouco provável que Teerã considerasse esta uma "resposta apropriada" aos últimos atos de Israel.

O especialista israelense Raz Zimmt, pesquisador sênior do Instituto de Segurança Nacional em Tel Aviv, alertou que o Irã agiria com força. "A paciência dos iranianos esgotou-se diante dos reveses atribuídos a Israel", disse o pesquisador em rede social.

Origem da Rivalidade

Israel e Irã estão há anos em uma rivalidade sangrenta que virou uma das principais fontes de instabilidade no Oriente Médio e cuja intensidade varia de acordo com o momento geopolítico.

As relações entre Israel e o Irã foram bastante cordiais até 1979, quando a chamada Revolução Islâmica dos aiatolás conquistou o poder em Teerã.

E embora tenha se oposto ao plano de fatiamento da Palestina que resultou na criação do Estado de Israel em 1948, o Irã foi o segundo país islâmico a reconhecer Israel, depois do Egito.

O Irã era uma monarquia na qual reinavam os xás da dinastia Pahlavi e um dos principais aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Assim, o fundador de Israel e seu primeiro chefe de governo, David Ben-Gurion, procurou e conseguiu a amizade iraniana como forma de combater a rejeição do novo Estado judeu de seus vizinhos árabes.

Mas a Revolução de Ruhollah Khomeini, em 1979, derrubou o xá e impôs uma república islâmica que se apresentava como defensora dos oprimidos e tinha como principais marcas a rejeição ao "imperialismo" americano e a Israel.

Teerã então passou a considerar que Israel não tem o direito de existir.

Os governantes iranianos consideram o país o "pequeno Satanás", o aliado no Oriente Médio dos Estados Unidos, que chamam de "grande Satanás".

Já Israel acusa o Irã de "financiar grupos terroristas" e de realizar ataques contra seus interesses, movidos pelo antissemitismo dos aiatolás.

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