Os democratas já estão se mobilizando contra a agenda política de Donald Trump, caso ele venha a derrotar o presidente Joe Biden nas eleições de novembro nos Estados Unidos.
Um dos planos dessa agenda é batizado de Projeto 2025 e foi elaborado pela fundação conservadora Heritage Foundation. Outras entidades também elaboraram planos que servem como plataforma para a campanha de Trump.
Com mais de 900 páginas, o plano prevê a demissão de milhares de servidores públicos, expansão dos poderes do presidente, desmantelamento do ministério da Educação e de outras agências do governo federal e cortes de impostos.
A Heritage Foundation divulgou seu plano em abril do ano passado. A oposição dos liberais americanos ao plano aumentou desde que Trump começou a avançar nas pesquisas — principalmente após o debate presidencial da semana passada, em que Biden teve um desempenho considerado fraco.
Na quarta-feira (3/7), o presidente da Heritage, Kevin Roberts, sugeriu que pode haver violência política durante a campanha presidencial.
"Nós estamos no processo de uma segunda Revolução Americana, que seguirá sem derramamento de sangue, se a esquerda permitir", disse Roberts ao podcast War Room, fundado pelo assessor de Trump, Steve Bannon.
A fala despertou críticas da campanha de Biden, que acusou Trump e seus aliados de "sonhar com uma revolução violenta para destruir a ideia de América".
Essa troca de farpas reascendeu o interesse pelo Projeto 2025.
É comum que fundações e entidades de Washington proponham políticas públicas para futuros governos. Por exemplo, o Center for American Progress, um instituto liberal, já foi chamado de "fábrica de ideias" durante o governo de Barack Obama.
Mas os democratas estão atacando as ideias da Heritage na tentativa de expôr aos eleitores algumas das medidas consideradas mais drásticas.
No mês passado, o parlamentar democrata Jared Huffman, da Califórnia, anunciou uma força tarefa chamada Stop Project 2025 Task Force — cujo objetivo é barrar o Projeto 2025.
"O Projeto 2025 é mais do que uma ideia, é um plano distópico que já está em curso para desmantelar nossas instituições democráticas, abolir pesos e contrapesos, erodir a separação entre Igreja e Estado e impor uma agenda de extrema direita que ataca as liberdades básicas e viola a vontade pública", disse Huffman.
"Nós precisamos de uma estratégia coordenada para salvar a América e impedir esse golpe antes que seja tarde demais."
No passado, a Heritage acusou o partido de Biden de tentar provocar medo nos americanos com "um comunicado de imprensa cheio de equívocos e pouco sério".
"Parlamentares democratas estão gastando dinheiro dos contribuintes para lançar uma campanha de difamação contra um esforço conjunto para reestabelecer a auto-governança para os americanos comuns", disse Roberts em um comunicado no mês passado.
"Sob a gestão Biden, o governo federal virou uma arma contra cidadãos americanos, com nossas fronteiras invadidas e nossas instituições sequestradas pela ideologia woke."
O documento do Projeto 2025 estabelece quatro objetivos principais: restaurar a família como centro da vida americana; desmantelar o Estado intervencionista; defender a soberania e as fronteiras da nação; e assegurar o direito divino dos indivíduos de poderem viver livremente.
O plano é um entre diversos documentos da plataforma conhecida como Agenda 47 — uma referência ao fato de que Trump seria o 47° presidente americano caso vença a eleição.
A Heritage diz que o Projeto 2025 foi escrito por diversos ex-funcionários do governo Trump e reflete sugestões de mais de cem organizações conservadoras.
Confira abaixo algumas das principais propostas.
Governo
O Projeto 2025 propõe colocar toda a burocracia federal — incluindo agências independentes, como o ministério da Justiça — diretamente sob controle do presidente. Essa ideia polêmica é conhecida como "teoria do Executivo unitário".
Na prática, isso agiliza o processo de tomada de decisões, permitindo que o presidente implemente políticas em diversas áreas.
O plano também propõe a eliminação da estabilidade no trabalho para milhares de servidores do governo, que poderiam ser substituídos por indicados políticos.
O documento classifica o FBI como uma "organização inflada, arrogante e cada vez mais fora da lei" — e pede uma reforma drástica nesta e em outras agências federais, inclusive com eliminação do ministério da Educação.
Imigração
Umas das promessas mais famosas de Trump de 2016 — o financiamento do muro na fronteira entre EUA e México — está contemplada no documento.
Além disso, ele propõe a consolidação de diversas agências americanas de imigração e a ampliação de seus poderes.
Outras propostas incluem o aumento de taxas cobradas de imigrantes e a criação de uma via expressa para processos de imigração mediante pagamento de mais dinheiro.
Clima e economia
O documento prevê um corte em dinheiro federal para pesquisa e investimentos em energias renováveis — e pede que o próximo presidente "acabe com a guerra contra o petróleo e o gás natural".
Metas de redução de emissões seriam substituídas por esforços para aumentar produção de energia.
O documento estabelece duas visões contraditórias sobre tarifas de importação — e se mostra dividido sobre se o presidente deve promover um comércio mais livre ou aumentar barreiras comerciais.
Assessores econômicos sugerem que um eventual segundo governo de Trump deveria cortar impostos de renda e sobre negócios, abolir o Federal Reserve (o Banco Central americano) e até mesmo considerar voltar ao padrão ouro no dólar.
Aborto
O Projeto 2025 não pede uma proibição nacional contra o aborto.
Mas defende que o medicamento para aborto mifepristone seja retirado do mercado.
Tecnologia e educação
Pelas propostas, a pornografia seria banida. Empresas de tecnologia e telecomunicações que facilitassem acesso a esses conteúdos seriam fechadas.
O documento pede maior controle dos pais sobre as escolas e ataca o que chama de "propaganda woke".
O plano propõe eliminar diversas expressões de leis e normas federais, como "orientação sexual", "diversidade, igualdade e inclusão", "igualdade de gênero", "aborto" e "direitos reprodutivos".
A Heritage Foundation é um dos institutos mais influentes entre os que estão oferecendo propostas de políticas a Trump.
Desde 1980, a Heritage produz documentos semelhantes. O Projeto 2025 — que faz parte de um plano conservador com orçamento de US$ 22 milhões — estabelece estratégias para implementar o plano já em janeiro de 2025.
Trump vem endossando diversas ideias do Projeto 2025 em seus discursos e em seu site na internet — apesar de que sua campanha deixa claro que ele teria palavra final em todas as políticas.
Muitas das propostas posivelmente seriam contestadas na Justiça caso se tente implementá-las.
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