Aparentemente indiferente à pressão para a desistência de sua candidatura à reeleição, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mostra-se, pelo menos publicamente, determinado a prosseguir na corrida à Casa Branca. Isolado em sua residência em Delaware após diagnóstico de covid-19, o chefe da Casa Branca emitiu, ontem, um comunicado em que disse que vai retomar a campanha na próxima semana e prometeu que os democratas sairão vitoriosos nas urnas em novembro. Na nota, ele classificou como sombrio o discurso de seu rival, Donald Trump, no encerramento da convenção republicana.
"Estou ansioso para voltar à campanha na próxima semana e continuar expondo a ameaça da agenda do Projeto 2025 de Donald Trump, ao mesmo tempo em que defendo meu próprio histórico e a visão que tenho para os Estados Unidos: um país onde salvamos nossa democracia, protegemos nossos direitos e liberdades e criamos oportunidades para todos", escreveu o presidente de 81 anos. "Há muito em jogo e a escolha é clara. Vamos vencer juntos", acrescentou.
- 5 conclusões do discurso de Trump ao aceitar candidatura
- Até Obama? Quem são os democratas pressionando para que Biden desista
Pela manhã, especulou-se que Biden poderia abandonar a corrida pela reeleição neste fim de semana devido à crescente pressão do Partido Democrata, preocupado com sua capacidade física e mental para governar em um segundo mandato. Só ontem, sete parlamentares da Câmara dos Representantes e um terceiro senador se juntaram aos questionamentos e pediram que Biden ceda o lugar a outro candidato.
Quatro desses parlamentares assinaram uma carta instando o presidente a "passar o bastão". No total, já são cerca de 30, incluindo integrantes de grupos afro-americanos e hispânicos, que até agora haviam ficado à margem da polêmica. "O retorno de Donald Trump à Casa Branca representaria um perigo existencial para nossa democracia. Precisamos derrotá-lo em novembro e precisamos de um candidato que possa fazer isso", destacou o senador Martin Heinrich, do Novo México.
No comando
Obstinado e naturalmente otimista, parece não se intimidar. Apesar do desempenho ruim em um debate contra Trump no fim do mês passado, o presidente continua no comando. "O presidente está na corrida absolutamente. Está mais determinado do que nunca a derrotar Donald Trump", reforçou sua diretora de campanha, Jen O'Malley Dillon, à rede MSNBC.
Biden está convencido de que é a pessoa mais qualificada para derrotar o republicano nas urnas, como fez em 2020. "A visão sombria de Donald Trump para o futuro não representa quem somos como americanos", assinalou o líder democrata no comunicado, referindo-se ao discurso que o magnata, de 78 anos, fez para encerrar a convenção republicana na quinta-feira.
Várias pesquisas recentes apontam para a eleição do republicano. Até mesmo nos estados-chave (aqueles em que os eleitores escolhem com base no candidato e em outros fatores e não no partido), que são essenciais para obter a vitória. Citando fontes anônimas, a imprensa norte-americana sustenta que Biden está elaborando um plano para uma desistência digna nos próximos dias.
A pressão aumentou há dois dias, depois que meios de comunicação noticiaram que o ex-presidente Barack Obama, a ex-presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi e os atuais líderes do partido no Congresso expressaram preocupação nos bastidores.
Em entrevista à rádio WNYC, ontem, o líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries, foi evasivo: "A decisão é dele". A NBC News assegura que alguns familiares de Biden têm "discutido" como ele poderia renunciar, mas ainda não tomaram uma decisão. Seria um "plano cuidadosamente calculado" para dar certa dignidade a uma decisão historicamente tardia, a menos de quatro meses das eleições.
Qualquer decisão que ele tome deve evitar um caos no Partido Democrata em torno de seu sucessor como candidato. A vice-presidente Kamala Harris é a favorita, mas a escolha não é automática e ela poderia enfrentar outros nomes de peso do partido.
Aclamação
Enquanto isso, Trump foi mais uma vez aclamado por uma multidão no discurso de encerramento da convenção republicana, na noite de quinta-feira. Cercado por familiares, incluindo sua esposa, Melania, ele descreveu a tentativa de assassinato da qual foi alvo e pediu votos para implementar seu programa e seu lema "Make America Great Again".
No discurso em que aceitou a nomeação republicana para tentar voltar à Casa Branca, o magnata previu uma "vitória incrível" sobre o rival. O ex-presidente falou por mais de 90 minutos — muito acima da média do padrão da convenção — e apresentou um relato profundamente pessoal de sua experiência de quase morte, antes de criticar a maneira como os democratas administram a economia, a imigração e outros temas.
"Teremos uma vitória incrível e começaremos os quatro maiores anos da história do nosso país", disse Trump, no primeiro discurso desde que um homem de 20 anos atirou nele, causando um ferimento em uma orelha e matando um espectador durante um comício há uma semana na Pensilvânia. "Eu não deveria estar aqui esta noite", disse Trump, o que motivou a resposta de seus seguidores: "Sim, você está." Hoje ele retoma os comícios, em Michigan.
Prometendo concluir um muro na fronteira dos EUA com o México, Trump disse que uma "invasão" de imigrantes levou "destruição" e "miséria" a uma "nação em declínio". Ele prometeu acabar com os enormes gastos de Biden no combate às mudanças climáticas, chamando-os de "fraude".
O ex-presidente novamente alegou que os democratas trapacearam em sua derrota para Biden na eleição de 2020. E, apesar de seus assessores prometerem que Trump não mencionaria Biden no discurso, ele se referiu ao seu oponente pelo nome e destacou "os danos" que ele causou.
Saiba Mais
Menos sintomas
Menos sintomas
Os sintomas de covid-19 do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, melhoraram, mas ele continuava sendo medicado ontem, segundo informações do médico da Casa Branca, Kevin O’Connor. "A tosse seca e rouquidão continuam sendo os sinais principais, mas melhoraram significativamente desde ontem (quinta-feira)", informou o O'Connor em uma atualização do estado de saúde do chefe de Estado norte-americano.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br