![O filho de Trump fez uma visita à Groenlândia para 'conversar com as pessoas' - (crédito: Getty Images) O filho de Trump fez uma visita à Groenlândia para 'conversar com as pessoas' - (crédito: Getty Images)](https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/01/08/675x450/1_b6375d60_cdae_11ef_b943_e7b3b644fcbf-44370083.jpg?20250108110957?20250108110957)
Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, voltou a manifestar o desejo de tornar a Groenlândia um território americano.
Numa coletiva de imprensa realizada na terça-feira (7/1), Trump reafirmou que a ilha é estratégica para a segurança nacional americana.
A Groenlândia está no caminho da rota mais curta entre a América do Norte e a Europa — e já abriga bases aéreas americanas desde a década de 1950.
A região também possui vastos depósitos de minerais — como carvão, ferro, chumbo, zinco, molibdênio, diamantes, ouro, platina, nióbio, tantalita e urânio — que são vitais para a fabricação de aparelhos eletrônicos e baterias, entre outros fins.
Em conversa com jornalistas, Trump sugeriu que a ilha é crucial para manter os esforços militares americanos de rastrear navios chineses e russos — que, segundo ele, "estão por todos os lados".
"Estou falando aqui de proteger o mundo livre", defendeu o presidente eleito.
Ele também não descartou o uso da força econômica ou militar para atingir esses objetivos, que segundo falas recentes do presidente eleito incluem não apenas a Groenlândia, mas também o Canal do Panamá e o Canadá.
Os comentários foram feitos num momento em que o filho dele, Donald Trump Jr., realiza uma visita à Groenlândia.
Antes de chegar à ilha, Trump Jr. disse que faria "uma viagem pessoal" para conversar com as pessoas e não tinha nenhum compromisso agendado com representantes do governo local.
![Avião de Trump na Groenlândia](https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/cpsprodpb/4ca7/live/25c25b80-cdaf-11ef-b943-e7b3b644fcbf.jpg)
Embora tenha autonomia e um governo próprio, a Groenlândia faz parte do Reino da Dinamarca.
Ao ser questionado sobre os comentários de Trump, a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen afirmou que "a Groenlândia pertence aos groenlandeses" e que apenas a população local poderia determinar o próprio futuro.
Ela reforçou que "a Groenlândia não está à venda", embora tenha ponderado que a Dinamarca busque sempre uma cooperação com os Estados Unidos, um aliado estratégico do país na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Já o primeiro-ministro da Groenlândia, Múte Egede, disse reiteradas vezes que a ilha "não está e nem estará à venda" — e vê o atual momento como uma oportunidade de buscar uma independência total da Dinamarca.
Mas como uma ilha no Atlântico Norte, quase no Ártico, virou um território dinamarquês? Conheça a seguir os detalhes da Groenlândia e de sua história.
![Mute Egede](https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/cpsprodpb/3dda/live/4ca88c60-cdaf-11ef-b943-e7b3b644fcbf.jpg)
Território gelado
Com 2.166.086 km², a Groenlândia é a maior ilha do mundo, considerada um território autônomo com governo e parlamento próprios.
"Apesar de fazer parte da América do Norte, a Groenlândia está politicamente e culturalmente associada com a Europa, particularmente com dois poderes coloniais, a Noruega e a Dinamarca, desde o século 9", diz o texto.
A BBC News estima que dois terços da receita orçamentária groenlandesa vêm da Dinamarca — o restante do dinheiro é obtido principalmente a partir da pesca.
Nuuk é a capital da Groenlândia e a ilha conta com 57 mil habitantes, que possuem uma expectativa de vida de 71 anos para os homens e 76 anos para as mulheres.
![Mapa da Groenlândia](https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/cpsprodpb/0127/live/7a649e00-cdaf-11ef-87df-d575b9a434a4.jpg)
Durante dois meses do ano, a Groenlândia tem luz solar contínua.
No entanto, 80% do território é coberto por gelo permanente, que chega a ter 4 km de espessura em algumas partes — embora as mudanças climáticas provoquem o derretimento dessa camada e aumentem o acesso aos recursos minerais, que são uma pauta importante para a região atualmente.
O rei Frederik 10° da Dinamarca é reconhecido como chefe de Estado da ilha.
Como citado anteriormente, o primeiro-ministro é Múte Bourup Egede.
![O rei Frederik 10° da Dinamarca](https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/cpsprodpb/0d7f/live/95e66550-cdaf-11ef-b943-e7b3b644fcbf.jpg)
Egede chegou ao poder em abril de 2021 após seu partido de esquerda, Inuit Ataqatigiit, ganhar as eleições parlamentares com uma plataforma que defendia paralisar a busca por minerais em reservas ambientais.
Aliás, desavenças sobre projetos de exploração de recursos naturais foram o principal motivo que causou a queda do governo anterior.
Nas últimas semanas, na esteira dos comentários de Trump, Egede anunciou um desejo de desvincular totalmente a ilha da Dinamarca.
"A oportunidade do povo groenlandês surgiu a partir da aprovação da Lei de Autogoverno [que entrou em vigor em 2009] e cria uma base legal para que a independência seja alcançada", declarou ele.
![A bandeira da Groenlândia](https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/cpsprodpb/7696/live/924cfbd0-cdb8-11ef-b943-e7b3b644fcbf.jpg)
História da Groenlândia
O site da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos lembra que os inuítes, povos originários da América do Norte, fizeram uma série de migrações para a Groenlândia ao longo de um período que vai de 2.500 a.C. até o século 11.
A região foi visitada pela primeira vez por povos nórdicos no ano 982, quando o famoso explorador Eric, o Vermelho, aportou na região sul da ilha.
Ele escolheu o nome Groenlândia, que remetia a uma "terra verde", para torná-la mais atrativa para futuros colonos.
Poucos anos depois, em 986, Eric voltou à ilha com mais pessoas para formar as primeiras colônias no local.
Os povoados nórdicos se estabeleceram no território até os séculos 14 e 15, quando sumiram do mapa — a provável explicação para isso foi uma mudança temporária nas condições climáticas do lugar, com uma queda significativa das temperaturas.
![Eric, o Vermelho](https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/cpsprodpb/f274/live/bf311310-cdaf-11ef-b943-e7b3b644fcbf.jpg)
Em 1721, uma expedição liderada pelo missionário norueguês com ascendência dinamarquesa Hans Egede iniciou um novo ciclo de colonização na Groenlândia.
Um povoado foi estabelecido nas proximidades do que é hoje a capital Nuuk — e a ilha passou a ser parte da Dinamarca.
No século 20, durante a Segunda Guerra Mundial, a Dinamarca foi invadida pela Alemanha.
Para evitar um possível ataque das forças nazistas à América do Norte, os Estados Unidos assumiram a defesa da Groenlândia e tiveram controle sobre a ilha entre 1941 e 1945.
Com o fim da guerra, o presidente dos EUA, Harry Truman, fez uma primeira proposta de compra da Groenlândia com uma oferta de 100 milhões de dólares, mas a Dinamarca rejeitou a oferta.
Na década de 1950, o país escandinavo (que havia retomado controle total sobre a Groenlândia) permitiu a instalação de bases aéreas americanas, que foram expandidas e aprimoradas durante a Guerra Fria como uma linha de defesa da Otan.
![Nuuk](https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/cpsprodpb/5e1f/live/4578ab20-cdb7-11ef-b943-e7b3b644fcbf.jpg)
Em 1953, a ilha deixou de ser classificada como uma colônia e foi oficialmente reconhecida como parte integral do reino da Dinamarca.
A partir dos anos 1970, surgiram os primeiros movimentos para que a ilha ganhasse mais autonomia. Um referendo de 1979 ratificou a possibilidade de um governo local. Já em 1985, a Groenlândia saiu da Comunidade Econômica Europeia.
Em 2008, um novo referendo garantiu ainda mais liberdade política para a região, com maior controle sobre as fontes de energia e um reconhecimento do Kalaallisut como uma língua oficial.
A Dinamarca segue responsável por questões como política internacional, segurança e aspectos da economia (a coroa dinamarquesa é a moeda oficial da Groenlândia), embora o governo local tenha possibilidade de assinar acordos e tratados próprios.
Nos últimos anos, a descoberta de reservas de petróleo, gás e minerais raros atraíram os interesses de empresas do setor, embora isso seja motivo de grande debate na região.
![Montanha na Groenlândia](https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/cpsprodpb/cebd/live/66ee7eb0-cdb7-11ef-b943-e7b3b644fcbf.jpg)
Em 2013, a Groenlândia acabou com um veto sobre a exploração de materiais radioativos, como o urânio, o que gerou um aumento nas exportações desses recursos.
No ano de 2019, ainda em seu primeiro mandato, Trump fez insinuações de compra da Groenlândia pelos EUA.
Já em 2021, o novo governo groenlandês baniu novos empreendimentos de exploração de óleo e gás na ilha sob a justificativa de que o preço dessas atividades era "muito alto".
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