
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assumiu, ontem, pessoalmente a condução de uma estratégia para pôr fim a quase três anos de guerra na Ucrânia. Após conversa telefônica com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o republicano anunciou que ambos concordaram em iniciar negociações "imediatas" encerrar o conflito. No fim da tarde, em declarações a jornalistas na Casa Branca, ele previu um cessar-fogo "em um futuro não muito distante". "É improvável que a Ucrânia tenha suas terras de volta", acrescentou.
Na ligação para Putin, ficou acertado que os dois presidentes devem se encontrar em breve. "Ele virá aqui, eu irei para lá e, provavelmente, nos encontraremos na Arábia Saudita na primeira vez", disse o republicano aos jornalistas, sem especificar uma data.
Na avaliação do republicano, a Ucrânia precisa de novas eleições "em algum momento". O pleito deveria ter ocorrido em março do ano passado, mas a lei marcial, em vigor desde fevereiro de 2022, impede sua realização. Trump também assinalou que a entrada do país na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), solicitada por Kiev, mas rejeitada por Moscou, não seria "funcional".
Entre a conversa com chefe do Kremlin e as declarações aos jornalistas, o norte-americano entrou em contato com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, para informar sobre a abertura do diálogo. "A conversa transcorreu muito bem. Ele (Zelensky), assim como o presidente Putin, quer alcançar a PAZ", escreveu Trump em sua rede social, a Truth Social.
O republicano informou que o ucraniano se reunirá com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, e o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, amanhã, em Munique (Alemanha). "Falamos longamente sobre as possibilidades de alcançar a paz", confirmou Zelensky na rede social X.
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Trump, que até agora havia se mantido em silêncio sobre suas intenções em relação à Ucrânia, comprometeu-se a pôr fim rapidamente à "carnificina" da guerra, até mesmo pressionando Kiev, que recebeu bilhões de dólares em ajuda militar de Washington durante o governo de seu antecessor, o democrata Joe Biden.
Territórios
As negociações não devem ser fáceis. Em Bruxelas, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, delineou as linhas vermelhas da Casa Branca sobre Kiev e a Otan. Como Trump, o chefe do Pentágono considerou "pouco realista" cogitar que a Ucrânia voltará às suas fronteiras anteriores a 2014, ou seja, incluindo a Crimeia. Tampouco lhe parece plausível a adesão do país à Aliança Atlântica.
Antes mesmo da conversa entre Trump e Putin, Moscou rejeitou a possibilidade de uma troca de territórios ocupados com a ex-república soviética, como parte de um possível acordo de paz. Na véspera, em entrevista publicada no jornal britânico The Guardian, Zelensky citou a ideia, declarando estar disposto a abandonar as áreas tomadas por suas tropas na região russa de Kursk, em troca dos territórios ucranianos ocupados por Moscou.
"Impossível. A Rússia nunca discutiu e nunca discutirá a troca de seu território", reagiu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Ele acrescentou que as forças ucranianas em território russo serão "destruídas" ou expulsas.
Diante da movimentação, os europeus temem ficar à margem de um possível acordo de paz. Os ministros das Relações Exteriores da Espanha, Alemanha e França afirmaram, ontem, em Paris, que nenhuma decisão sobre a Ucrânia poderá ser tomada "sem Kiev" e sem a participação dos europeus.
Segundo o chefe do Pentágono, no futuro, os europeus terão que fornecer a maior parte da ajuda civil e militar à Ucrânia, e, se em algum momento forem implantadas tropas de paz, elas terão que fazer parte de uma missão fora da Otan.
"Bom senso"
Trump, porém, está determinado a acelerar as negociações. "Queremos deter os milhões de mortes que estão ocorrendo na Guerra com Rússia/Ucrânia. O presidente Putin até usou meu muito forte lema de campanha, 'BOM SENSO'. Ambos acreditamos firmemente nisso", escreveu, destacando parte do texto em maiúsculas, como costuma fazer.
Ao relatar a conversa, o magnata republicano ressaltou ainda que foram citados "as fortalezas de nossas respectivas nações e o grande benefício que algum dia teremos trabalhando juntos".
O líder russo declarou, por sua vez, que deseja encontrar uma "solução a longo prazo" para a guerra na Ucrânia por meio de "diálogos de paz". "O presidente Putin mencionou a necessidade de abordar as causas fundamentais do conflito e concordou com Trump que é possível encontrar uma solução a longo prazo por meio de diálogos de paz", disse aos jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ao relatar a chamada de quase uma hora e meia de duração.
A chamada telefônica entre os dois presidentes ocorreu um dia depois de a Rússia libertar o norte-americano Marc Fogel, condenado a 14 anos de prisão por posse de drogas. Em troca, Washington soltou o russo Alexander Vinnik, um especialista em informática acusado de múltiplos crimes relacionados à plataforma de troca de criptomoedas BTC-e.
A Casa Branca espera que a troca contribua para pôr fim à guerra na Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro de 2022, depois que tropas russas invadiram o território vizinho. Em quase três anos, o conflito causou centenas de milhares de mortos e feridos.