ETARISMO

Mulheres 'ficam velhas demais' para suas carreiras, diz estilista das celebridades Vera Wang

Vera Wang é conhecida por vestir celebridades. Mas poucos sabem o fato de que o design não foi sua primeira incursão no mundo da moda. E nem mesmo a segunda

Vera Wang estabeleceu sua carreira com vestidos de noiva e expandiu sua marca -  (crédito: Natassja Ebert)
Vera Wang estabeleceu sua carreira com vestidos de noiva e expandiu sua marca - (crédito: Natassja Ebert)

Vera Wang talvez seja mais conhecida por ter criado alguns dos vestidos de noiva mais memoráveis de todos os tempos.

A cantora Mariah Carey, a ex-Spice Girls Victoria Beckham, a atriz Sarah Michelle Gellar e a cantora Alicia Keys são apenas algumas das mulheres que escolheram a estilista para o grande dia.

Mas é menos conhecido o fato de que o design não foi sua primeira incursão no mundo da moda. E nem mesmo a segunda.

Em entrevista para a repórter especial da BBC Katty Kay, na série de podcasts Influential, Wang compartilha sua longa jornada, desde os tempos em que trabalhou na edição americana da revista Vogue até que suas criações passassem a embelezar aquelas mesmas páginas.

Em 2021, Vera Wang fez parte da lista de 100 mulheres inspiradoras e influentes de todo o mundo, preparada anualmente pela BBC.

Durante a conversa com Kay, Wang conta que, como em um drama real, sua vida e sua carreira formaram uma série de atos, todos incluindo o fantasma sempre presente da passagem do tempo sobre ela.

Quando era adolescente, a estilista queria ser patinadora olímpica, mas não foi selecionada. Depois disso, ela conseguiu um cargo como editora de moda na revista Vogue logo que se formou no Sarah Lawrence College de Nova York, nos Estados Unidos. Ela fez história aos 23 anos de idade.

"Fui provavelmente a mulher mais jovem a ocupar o cargo de editora, provavelmente até hoje", afirma Wang.

Sua passagem pela revista durou 17 anos. Mas, como aconteceu sobre o gelo, Wang conta que seus conhecimentos nem sempre acompanhavam sua paixão.

Ela não se classificou para os Jogos Olímpicos de Inverno de 1968 em Grenoble, na França, e também nunca atingiu o cargo de editora-chefe.

"Algumas das coisas que eu mais adorava – e, com isso, quero dizer que amava de paixão – não foram campos nos quais eu necessariamente tive sucesso", ela conta.

Somente quando ela completou 40 anos, depois da Vogue e de uma passagem pela Ralph Lauren, ela lançou uma marca de moda com seu próprio nome.

As coleções de vestidos de noiva foram apenas o começo. Depois de algum tempo, sua marca se expandiria para incluir prêt-à-porter (peças de alta costura que não são feitas sob medida), calçados, óculos de sol, joalheria fina, produtos domésticos e até o seu próprio espumante.

Ultrapassar a idade para poder patinar no gelo e trabalhar no fascinante mundo das revistas de moda fez com que Wang reavaliasse quais poderiam ser seus próximos passos, antes mesmo de ter a ideia de colocar seu nome em qualquer coisa, que dirá em quase tudo.

"As mulheres eram consideradas transparentes em uma certa idade, mesmo em termos de sua carreira", ela conta. "Você fica velha demais para uma carreira. Não falo apenas de ser modelo, nem de ser editora."

Wang explica que é preciso ter um pouco de coragem para superar estas supostas datas de validade.

"Não é questão de idade, é questão de estilo. E é sempre como me senti. Nunca me senti de outra forma."

Quando decidiu lançar seus vestidos de noiva, Wang refletiu sobre a abordagem do seu próprio casamento. Em 1989, Wang se casou com o investidor Arthur P. Becker e ele só fez um pedido a ela sobre a cerimônia.

"Por favor, não venha na 'moda'. Por favor, venha como uma noiva. Eu quero ter certeza de que você tenha a aparência de uma noiva", relembra Wang, sobre o que Becker disse a ela. O casal se separou posteriormente.

Mas ela não ficaria satisfeita se seguisse apenas o protocolo.

Acrescentando sua herança chinesa à cerimônia ecumênica, que já mesclava tradições batistas e judaicas, ela acabou ajudando a popularizar a tendência de fazer com que as noivas apresentem mais de um visual festivo nas suas recepções.

Vera Wang conversa com repórter
Natassja Ebert
Vera Wang estabeleceu sua carreira com vestidos de noiva e expandiu sua marca

"Fui me trocar porque, na cultura chinesa, você substitui o vestido [de casamento] ocidental [por] um vestido chinês", ela conta. "Mas eu usei um vestido de festa mais tarde. Iniciei a tendência de mudar de roupa já em 1989."

A tradição do vestido "para ir embora" data dos anos 1930. Geralmente, era algo mais confortável para as noivas se despedirem dos convidados antes de saírem discretamente para a lua de mel.

A decisão de Wang de vestir algo mais festivo se tornou mais popular posteriormente. Muitas noivas de alto padrão, como a princesa de Gales, Kate Middleton (na época, duquesa de Cambridge), e a princesa Eugenie do Reino Unido, além da atriz americana Mandy Moore, já optaram por um segundo vestido na recepção, à noite.

O casamento de Wang acabaria definindo a marca da estilista, criando um toque de irreverência no mundo normalmente conservador da moda dos vestidos de noiva – algo que suas clientes podiam sentir quando escolhiam um de seus vestidos.

"Minha primeira cliente foi Ethel Kennedy [cunhada do presidente americano John Kennedy, 1928-2024]. Seu filho Max ia se casar com uma bela jovem que era estudante de direito", ela conta. "Levei oito meses para criar aquele vestido e, em 10 minutos de cerimônia, ela estava jogando futebol com os irmãos Kennedy."

Vera Wang
Natassja Ebert
Seu visual característico e suas postagens nas redes sociais fizeram de Vera Wang uma personagem tão notável quanto suas clientes.

'Obsessão'

Agora com 75 anos de idade, Wang está consciente da sua idade – e que a idade é um tema de conversas à sua volta.

Ela conta a Kay que observou uma mudança entre as pessoas. Agora, elas são mais críticas dos demais e de si próprias. Wang culpa o crescimento das redes sociais por esta tendência.

Em vez de se concentrar em como as outras pessoas a veem à medida que envelhece, Wang observa que, enquanto atravessava os diversos atos da sua carreira e da vida, ela se concentrava em encontrar suas paixões e não no que ela via no espelho. Ela avalia que este foi um privilégio da época em que ela estava envelhecendo.

"Nós não tínhamos redes sociais, ninguém envelhecia em frente aos nossos olhos e as pessoas não criticavam", conta ela à BBC. "Realmente, era mais questão de descobrir o seu caminho."

Relembrando os anos 1990 e 2000, ela destaca: "Não vejo [naquela época] essa obsessão pelo envelhecimento que eu senti nas últimas duas décadas".

Mas seus visuais em tapetes vermelhos e postagens em redes sociais comprovam que Wang não se afastou da imagem que ela cultivou ao longo dos anos. Ela permanece fiel aos saltos extremamente altos, micro e minissaias e silhuetas longas e magras – visuais que caracterizam suas criações e aparições pessoais há décadas.

Wang conta a Kay que sua idade não tem influência sobre como ela se veste — nem nunca teve.

Assista à entrevista concedida por Vera Wang ao podcast Influential with Katty Kay (com vídeo, em inglês) no canal da BBC News no YouTube.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.

BBC
Christopher Luu - Da BBC Culture
postado em 12/03/2025 16:03 / atualizado em 12/03/2025 21:01
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