O papa de todas as fés

A inesquecível passagem do papa Francisco pelo Brasil

Única passagem de Francisco pelo Brasil teve papamóvel não blindado, benção em santo na orla de Copacabana, protestos e a reverência de milhares de jovens católicos 

Na primeira viagem internacional, com menos de quatro meses de pontificado, o papa é saudado por uma multidão de fiéis no Rio de Janeiro -  (crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Na primeira viagem internacional, com menos de quatro meses de pontificado, o papa é saudado por uma multidão de fiéis no Rio de Janeiro - (crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Foi com um pedido de diálogo e a ênfase na necessidade de ouvir um ao outro que o papa Francisco marcou seus discursos durante a passagem pelo Brasil, em julho de 2013. A única vez que o pontífice visitou o país também foi marcada por um momento chave para a Igreja Católica: a realização da 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro. A viagem ocorreu pouco mais de três meses depois de Francisco tornar-se o líder maior da Igreja Católica. 

Eram tempos tensos. O papa assumia o pontificado em meio a denúncias de abuso sexual. No Brasil, os protestos de junho de 2013 levaram às ruas milhares de pessoas que manifestavam contra o aumento das tarifas de ônibus. Francisco desembarcou com uma mensagem de união e enfrentou, ele mesmo, alguns protestos em solo brasileiro.

"Entre a indiferença egoísta e os protestos violentos sempre há uma opção possível: o diálogo, o diálogo entre as gerações, o diálogo entre o povo e todos somos povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce quando suas diversas riquezas culturais dialogam de maneira construtiva", disse, em resposta a manifestações de grupos LGBT e à Marcha das Vadias, que ocupou a orla de Copacabana, onde eram realizados os principais encontros da JMJ.

Périplo

A viagem ao Brasil foi também a primeira ao exterior do argentino como papa. Ele foi recebido pela então presidente Dilma Rousseff na Base Aérea do Galeão, em 22 de julho de 2013. "Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu pontificado me consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro", disse, em português, durante cerimônia no Palácio da Guanabara. No mesmo dia, Francisco percorreu as ruas do Rio de Janeiro em um papamóvel não blindado, um aceno para o povo, que quis se aproximar e acabou por tumultuar o trajeto. 

Dois dias depois, Francisco voou de helicóptero até o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, onde rezou uma missa para mais de 200 mil fiéis. Na volta ao Rio, ele inaugurou uma unidade de saúde mental no Hospital Francisco de Assis e visitou a comunidade de Varginha, em Manguinhos.

Os dias seguintes seriam dedicados aos encontros com a juventude católica, o grande motivo de o papa ter escolhido o Brasil para a primeira viagem internacional. A estimativa é que mais de 500 mil participaram do encontro, que teve como ponto alto a missa da Cerimônia de Acolhida, o primeiro Ato Central da Jornada, conduzida pelo papa Francisco na praia de Copacabana para um público estimado de mais de um milhão de pessoas. Na ocasião, o jesuíta argentino foi homenageado pelo padre Fábio de Melo, que o recebeu cantando a canção Seja bem-vindo. 

Ainda como parte da programação da JMJ, o pontífice acompanhou a encenação da Via Sacra, o terceiro Ato Central da jornada, também realizado no palco montado em Copacabana. Ele percorreu o trajeto entre o Posto 6 e o Leme no papamóvel e parou para abençoar uma imagem de São Francisco na orla. 

Francisco passaria mais uma vez por Copacabana para a vigília da JMJ. Em discurso, convocou os jovens para liderarem mudanças na sociedade e lembrou os protestos de julho ocorridos no Brasil. "Tenho acompanhado atentamente as notícias sobre tantos jovens que, em muitas partes do mundo (e também aqui no Brasil), saíram às ruas para expressar o desejo por uma civilização mais justa e fraterna", disse. "São jovens que querem ser protagonistas da mudança. Eu os animo a que, de forma ordenada, pacífica e responsável, motivados por valores do Evangelho, sigam superando a apatia e oferecendo uma resposta cristã às inquietudes sociais e políticas presentes em seus países." 

O papa participou ainda da Missa do Envio, que encerrou a JMJ e teria sido acompanhada por mais de 3,7 milhões de peregrinos. Encontros com bispos e religiosos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) também fizeram parte da agenda, que durou sete dias e mobilizou o Brasil em torno de uma das figuras mais carismáticas que já ocuparam o pontificado. 

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Momentos marcantes

13 de março de 2013

Jorge Mario Bergoglio se torna Francisco. Vestido com uma batina branca simples, sem ornamentos, o papa faz a primeira aparição diante de dezenas de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro e pede que rezem por ele

28 de março de 2013

Duas semanas após sua eleição, o pontífice surpreendeu a todos com uma missa na Quinta-feira Santa em uma penitenciária. Rompendo com a tradição, lava os pés de 12 jovens detidos 

8 de julho de 2013

Em outra decisão inesperada, Francisco escolhe a pequena ilha italiana de Lampedusa, na costa da Tunísia e símbolo da chegada em massa de migrantes, como destino de sua primeira viagem como papa

22 de dezembro de 2014 

Durante sua mensagem de Natal à Cúria Romana, o governo central da Santa Sé, o papa lista as 15 doenças que, em sua opinião, corroem o alto clero. Menciona, entre outros, o "Alzheimer espiritual", a rivalidade e a ostentação, o "terrorismo da fofoca" e o "exibicionismo mundano"

12 de fevereiro de 2016 

Francisco e o patriarca Kirill trocaram um aperto de mão histórico no primeiro encontro entre os principais líderes cristãos do Oriente e do Ocidente desde o cisma de 1054

 

27 de março de 2020 

Em meio à pandemia de covid, que atingiu duramente a Itália, Francisco celebra a bênção Urbi et Orbi na Praça de São Pedro, chuvosa e deserta devido ao confinamento

6 de março de 2021 

Em viagem ao Iraque, sob forte esquema de segurança, o papa se reúne privativamente com o aiatolá Ali Al Sistani, uma das principais autoridades do islamismo xiita

Julho de 2022

Durante uma "peregrinação de penitência" ao Canadá, o papa pede perdão pelo papel da Igreja Católica na violência sobre internatos estudantis para crianças indígenas americanas, onde pelo menos 6 mil delas morreram entre o fim do século 19 e a década de 1990

8 de dezembro de 2022 

Nas festividades pela Imaculada Conceição, o papa chora ao mencionar a "Ucrânia martirizada", 10 meses após o início da invasão russa. 

 

5 de janeiro de 2023 

Aos pés da Basílica de

São Pedro envolta em

neblina, Bergoglio preside a missa de funeral do papa emérito Bento XVI, que

morreu aos 95 anos.

postado em 22/04/2025 02:00
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