
O aiatolá Ali Khamenei recusou a exigência de "rendição incondicional" feita por Donald Trump. "O presidente dos Estados Unidos nos ameaça. Com sua retórica absurda, exige que o povo iraniano se renda a ele. Eles deveriam fazer ameaças contra quem tem medo de ser ameaçado", declarou o guia supremo do Irã, em discurso televisionado. "A nação iraniana se opõe firmemente a uma guerra imposta, como se oporá firmemente a uma paz imposta. Esta nação nunca se renderá às ordens de ninguém", reiterou. E avisou: " Os americanos devem saber que qualquer intervenção militar implicará danos irreparáveis".
- Guerra entre Israel e Irã pode acabar rápido por falta de armamentos, diz jornal dos EUA
- Rússia diz para EUA ficarem fora de conflito entre Israel e Irã; Trump responde
- A montanha que protege o programa nuclear do Irã alvo de Israel
- Trump exige "rendição incondicional" do Irã e ameaça aiatolá
Horas depois da resposta de Khamenei, Trump adotou uma postura enigmática sobre o eventual envolvimento direto dos EUA na guerra. "Vocês nem sabem se eu vou fazer isso. Vocês não sabem. Eu posso fazer, eu posso não fazer. Quer dizer, ninguém sabe o que eu vou fazer", afirmou.
Os jornais The Wall Street Journal e The Washington Post divulgaram que Trump aprovou pessoalmente planos de ataque, mas estaria adiando a ordem para ver se Teerã colocaria fim ao programa nuclear. Os Estados Unidos são o único país detentor da bomba antibunker GBU-57, que pode ser usada para destruir as instalações subterrâneas da central nuclear de Fordow. No sexto dia de guerra, os iranianos voltaram a lançar mísseis hipersônicos, que, segundo a emissora estatal do Irã, "penetraram com sucesso as defesas do regime".
Uma declaração do ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, sinalizou uma brecha para uma saída pacífica. "O Irã age apenas em legítima defesa. Inclusive, diante da agressão mais escandalosa contra o nosso povo, o Irã até agora apenas tomou represálias contra o regime israelense e não contra os que o ajudam e instigam", escreveu o chanceler na rede social X. "Com a exceção do ilegítimo, genocida e ocupante regime israelense, seguimos comprometidos com a diplomacia."
O titular da Casa Branca acrescentou que o Irã estava "a poucas semanas" de ter arma nuclear e traçou um cenário apocalíptico, caso isso ocorresse. "Venho dizendo há 20 anos, talvez mais, que o Irã não pode ter uma arma nuclear. (...) Acho que estavam a algumas semanas de ter uma. O Irã não pode ter uma arma nuclear, muita devastação. E eles a usariam", declarou. Trump comentou o desejo do presidente russo, Vladimir Putin, de mediar o conflito entre Irã e Israel. "De fato, ele se ofereceu para ajudar a mediar e eu lhe disse: 'Faça-me um favor, faça a sua própria mediação. Vamos mediar com a Rússia primeiro, ok?'", disse. "Eu disse: 'Vladimir, vamos mediar com a Rússia primeiro, você pode se preocupar com isso (a guerra no Oriente Médio) depois'", acrescentou. Putin negou ter recebido pedido de ajuda militar de Teerã.
O vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov, advertiu os EUA a não atacarem o Irã, aliado de Moscou. "Essa seria uma medida que desestabilizaria radicalmente toda a situação", disse, segundo a agência Interfax. Em 12 de junho, primeiro dia da ofensiva israelense, a China admitiu "profunda preocupação com as potenciais consequências graves dessas ações".
Ameaças existenciais
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que seu país começou essa campanha "para remover duas ameaças existenciais ao Estado de Israel: a nuclear e a dos mísseis balísticos". "Estamos avançando passo a passo. Controlamos os céus de Teerã. Estamos atacando o regime dos aiatolás com grande força. Estamos atacando instalações nucleares, mísseis, centros de comando e os símbolos do regime", declarou em pronunciamento de vídeo. Netanyahu disse que líderes mundiais com quem tem conversado estariam "impressionados" com a "determinação" das forças israelenses e com a resiliência do povo judeu. "Quero agradecer ao presidente Trump por ser um grande amigo do Estado de Israel. "Agradeço por estar ao nosso lado e agradeço o apoio que os Estados Unidos nos oferecem na defesa do céu israelense", acrescentou.
Por sua vez, Israel Katz, ministro da Defesa, garantiu que "o tornado continua atingindo Teerã". "Caças da Força Aérea destruíram o quartel-general da Segurança Interna do regime iraniano, o braço repressivo central do ditador", escreveu em seu perfil na rede social X. "Como prometemos, continuaremos a danificar os símbolos e a atacar o regime dos aiatolás em todos os lugares." Nesta quarta-feira (18/6), no sexto dia de guerra, o Ministério da Saúde do Irã confirmava 224 mortos e 1.277 feridos. No entanto, um grupo de defesa dos direitos humanos baseado em Washington anunciou que os números reais são 585 mortos e 1.326 feridos, sob a justificativa de que o regime iraniano não tinha recebido a atualização. Do lado israelense, 24 pessoas morreram.
Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM, vê consequências econômicas e militares em um cenário de entrada dos EUA na Guerra. "Em um primeiro momento, pode haver um aumento no preço do petróleo, ante o receio de ataques a navios que levam petróleo para a Europa e os Estados Unidos. Também existe o risco de bombardeios às bases americanas e atentados terroristas contra interesses ou cidadãos dos EUA pelo mundo inteiro", advertiu ao Correio. "Como não pode derrotar militarmente os americanos, o Irã usa estratégias assimétricas."
O iraniano Alex Vatanka, analista do Middle East Institute (em Washington), lembrou à reportagem que o Irã atua em domínio no qual não tem vantagem comparativa. "Khamenei sabe que esta não é uma guerra terrestre tradicional. Trata-se de um conflito com predominância de alta tecnologia, travado a uma distância de 1.100km, com ataques aéreos, drones, ciberataques e ataques de precisão assistidos por inteligência artificial (IA). Por isso, a estratégia inteligente agora é recuar e minimizar maiores danos", disse. Vatanka acredita que o Irã retornará à mesa de negociações com duas ofertas: o abandono do enriquecimento de urânio; e a disposição séria de repensar políticas de confronto com os EUA e com Israel.
A arma que semeia o terror
Construído pela Guarda Revolucionária Islâmica, o primeiro míssil balístico hipersônico iraniao foi batizado pelo próprio aiatolá Ali Khamenei de "Fattah-1'. O armamento é capaz de penetrar sistemas de defesa antiaérea avançados, graças à capacidade de operar fora da atmosfera terrestre. O Fattah-1 foi anunciado em novembro de 2022, no 11º aniversário de morte de Hassan Tehrani Moghaddam, conhecido como o pai da tecnologia de mísseis iranianos, e lançado pela primeira vez em junho de 2023. O míssil hipersônico chocou o mundo com a rapidez com que atinge o alvo, em vídeos divulgados pelas redes sociais: é capaz de viajar a uma velocidade entre Mach 13 e Mach 15 (15 mil km/h) e tem alcance máximo de 1.400km.
A bomba capaz de mudar a guerra
A única bomba convencional capaz de destruir as instalações nucleares subterrâneas do Irã, a GBU-57, é uma das principais ferramentas estratégicas dos Estados Unidos na guerra entre Israel e Irã. A ogiva antibunker de 13t e 6,6m de comprimento, que Israel não possui, pode penetrar dezenas de metros abaixo da superfície. A GBU-57 "foi projetada para penetrar até 61m no subsolo antes de explodir", indica o Exército americano. O que torna essa bomba tão eficaz é o detonador, construído para não ser ativado pelo impacto, mas quando a GBU-57 atinge uma cavidade aberta dentro da rocha, por exemplo. Esse armamento seria usado para destruir as centrífugas da usina nuclear iraniana de Fordow, armazenadas dentro de uma montanha.
Coluna do Sodré
Economia
Geral