BRICS

Nos Brics, Lula critica Otan e diz que 'temor de catástrofe nuclear' voltou

Líderes do bloco estão reunidos até segunda-feira, no Rio de Janeiro

Nos Brics, Lula critica Otan e diz que 'temor de catástrofe nuclear' voltou -  (crédito: BBC Geral)
Nos Brics, Lula critica Otan e diz que 'temor de catástrofe nuclear' voltou - (crédito: BBC Geral)

No discurso de abertura da Cúpula dos Brics, neste domingo (6/7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e disse que o medo de uma "catástrofe nuclear voltou ao cotidiano".

"A recente decisão da OTAN alimenta a corrida armamentista. É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Isso evidencia que os recursos para implementar a Agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política", disse Lula, que complementou:

"É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz", disse Lula.

A crítica de Lula foi em resposta à decisão da Otan, no final de junho, de aumentar os gastos em defesa dos países que fazem parte do tratado em 5% dos seus produtos internos brutos (PIB). A Otan é uma aliança militar composta por 32 países incluindo os Estados Unidos, Canadá e nações europeias.

O aumento dos gastos da Otan em defesa vinha sendo defendido pelo presidente norte-americano Donald Trump que, nos últimos anos, criticou os países europeus por supostamente gastarem pouco na área e deixarem os Estados Unidos como responsáveis por garantir a segurança da Europa contra ameaças estrangeiras.

Recentemente, a expansão da Otan em direção a países próximos à Rússia, como a Ucrânia, foi usada como um dos elementos por trás da invasão russa sobre o país europeu.

A Rússia é um dos membros fundadores dos Brics.

Em seu discurso, Lula também criticou o que classificou como a reciclagem de "velhas manobras retóricas" e a "instrumentalização" de agências da Organização das Nações Unidas (ONU) para justificar ataques militares.

"Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Assim como ocorreu no passado com a Organização para a Proibição de Armas Químicas, a instrumentalização dos trabalhos da Agência Internacional de Energia Atômica coloca em jogo a reputação de um órgão fundamental para a paz. O temor de uma catástrofe nuclear voltou ao cotidiano", disse Lula.

A crítica acontece poucas semanas após os Estados Unidos e Israel realizarem ataques aéreos a instalações nucleares iranianas sob o pretexto de que o país do Oriente Médio estaria próximo de produzir armas nucleares.

A justificativa apresentada por israelenses e norte-americanos é semelhante à usada pelos Estados Unidos em 2003 durante a invasão do país ao Iraque. À época, os norte-americanos alegaram que o Iraque tinha armas de destruição em massa. As armas, no entanto, nunca foram localizadas. O regime iraniano, por sua vez, argumenta que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos.

Lula critica fome como 'arma de guerra' em Gaza

Lula voltou a fazer críticas aos ataques de Israel à Faixa de Gaza, usando mais uma vez a palavra genocídio.

A forte posição do líder brasileiro já levou o país sionista a o declarar "persona non grata", quando Lula comparou a situação palestina com o holocausto, no ano passado.

"Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas. Mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza e a matança indiscriminada de civis inocentes e o uso da fome como arma de guerra", disse, no Brics.

O presidente também voltou a defender o direito à criação de um Estado palestino, posição histórica da diplomacia brasileira.

"A solução desse conflito só será possível com o fim da ocupação israelense e com o estabelecimento de um Estado palestino soberano, dentro das fronteiras de 1967".

Com linguagem mais branda, Lula criticou a invasão da Ucrânia, sem citar diretamente a Rússia, país que integra o Brics. Ele também defendeu os esforços brasileiros para mediar a paz na região, embora a iniciativa não esteja conseguindo avanços.

"É urgente que as partes envolvidas na guerra na Ucrânia aprofundem o diálogo direto com vistas a um cessar-fogo e uma paz duradoura".

"O Grupo de Amigos para a Paz, criado por China e Brasil e que conta com a participação de países do Sul Global, procura identificar possíveis caminhos para o fim das hostilidades".

Em seu discurso, Lula também afirmou que condenou violações à soberania tanto do Irã quanto da Ucrânia.

Os líderes dos Brics estão reunidos no Rio de Janeiro até segunda-feira (7/7). O grupo é atualmente formado por Brasil, Rússia, China, Índia, Irã, Arábia Saudita, Etiópia, Indonésia, África do Sul, Emirados Árabes Unidos e Egito, o bloco representa quase a metade da população mundial e 40% da riqueza produzida globalmente.

Gastos com defesa

Os líderes da OTAN concordaram em aumentar os gastos com defesa para 5% da produção econômica de seus países até 2035, após meses de pressão de Donald Trump.

O presidente dos EUA descreveu a decisão, tomada em uma reunião de cúpula em Haia, como uma "grande vitória para a Europa e... civilização ocidental".

Os membros disseram em uma declaração conjunta, externa, que estavam unidos contra desafios de segurança "profundos", destacando a "ameaça de longo prazo representada pela Rússia" e o terrorismo.

Os líderes da Otan reafirmaram seu "compromisso inabalável" com o princípio de que um ataque a um membro da Otan levaria a uma resposta de toda a aliança.

No entanto, a declaração não incluiu uma condenação da invasão da Ucrânia pela Rússia, como havia feito há um ano.

"Ninguém deve duvidar de nossa capacidade ou determinação caso nossa segurança seja desafiada", disse o Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte. "Esta é uma aliança mais forte, mais justa e mais letal que nossos líderes começaram a construir".

O presidente dos EUA já havia levantado questões sobre a garantia de segurança, referindo-se a "várias definições do Artigo 5". Mas Trump disse após a cúpula: "Eu defendo o [Artigo 5º], é por isso que estou aqui".

A cúpula de Haia foi descrita por vários líderes como histórica, e Rutte disse que as decisões tomadas na quarta-feira incluiriam o apoio contínuo à Ucrânia e a promoção da paz.

O compromisso de aumentar os gastos com defesa ao longo de 10 anos envolve pelo menos 3,5% do PIB de cada estado-membro em gastos essenciais com defesa até 2035, além de até 1,5% em uma série de investimentos amplamente definidos e vagamente conectados à infraestrutura de segurança.

BBC
Leandro Prazeres e Mariana Schreiber - Enviados da BBC News Brasil ao Rio de Janeiro
postado em 06/07/2025 12:17 / atualizado em 06/07/2025 14:49
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