JOGOS LEGALIZADOS

Cassinos, jogo do bicho e bingos perto de serem legalizados? Entenda proposta que pode ser votada pelo Senado

Projeto que já foi aprovado na Câmara dos Deputados está na pauta do Plenário do Senado na tarde desta terça-feira (08/07). Proposta desperta preocupação com vício em jogos, mas traz promessa de arrecadação de impostos.

O ministro Celso Sabino, do Turismo, tem sido o defensor mais ativo do projeto que legaliza cassinos e jogo do bicho -  (crédito: Ricardo Stuckert/Presidência da República)
O ministro Celso Sabino, do Turismo, tem sido o defensor mais ativo do projeto que legaliza cassinos e jogo do bicho - (crédito: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

Uma proposta polêmica, cuja votação acabou sendo postergada por meses, volta à pauta do Senado nesta terça-feira (08/07).

O Plenário da Casa pode votar nesta tarde, a partir das 14h, um projeto que legaliza cassinos, jogo do bicho, bingos e caça-níqueis, sob algumas condições.

Defensores dizem que não faz sentido o país permitir jogos online, como apostas esportivas e cassinos, e abrir mão de atividades presenciais, que poderiam gerar mais empregos e arrecadação.

Sites de apostas esportivas foram autorizados pelo Congresso a funcionar em 2018, durante o governo Michel Temer (MDB).

Esses sites ficaram sem regulamentação por alguns anos, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), que não pareceu querer mexer com o assunto.

No governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a regulamentação foi aprovada em 2023, com o objetivo de alavancar a arrecadação e criar regras para seu funcionamento. Foi nesse momento, com a aprovação da Lei das Bets, que também foram legalizados cassinos online.

Críticos dizem que legalizar mais atividades do ramo vai agravar problemas como vícios em jogos e endividamento, além de favorecer a lavagem de dinheiro pelo crime organizado.

O texto que quer legalizar cassinos e afins foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 2022 e pela comissão mais importante do Senado, a de Constituição e Justiça (CCJ), em junho do ano passado.

Entretanto, a votação no Plenário, que chegou a ser prevista para dezembro de 2024, acabou adiada, tamanha a controvérsia da proposta.

Cassinos em resorts e jogo do bicho 'credenciado'

Caso o texto seja aprovado no Congresso, seria permitida a construção de cassinos físicos no país, em quantidades limitadas.

Defensores da medida dizem que isso facilitaria a fiscalização, dificultando o uso para lavagem de dinheiro.

O texto aprovado na CCJ, que ainda pode ser modificado no Plenário do Senado, autoriza cassinos em polos turísticos ou em complexos integrados de lazer, como resorts e hotéis de alto padrão com pelo menos cem quartos, além de restaurantes e locais para eventos.

O limite seria de um cassino em cada Estado e no Distrito Federal, com exceção de São Paulo (até três), e de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Amazonas e Pará (até dois cada), em razão do tamanho da população ou do território. Também haveria limites para cassinos em navios, em rios e no mar.

Já o jogo de bingo seria liberado tanto na modalidade de cartela como eletrônica e de videobingo.

O texto prevê uma casa de bingo em cada município, sendo que as cidades maiores teriam um estabelecimento para cada 150 mil habitantes.

Além disso, seria legalizado o jogo do bicho, atividade que hoje é uma contravenção movimentada por organizações criminosas.

A disputa pelo controle territorial dos pontos de apostas já provocou diversas execuções no Rio de Janeiro.

O texto prevê que poderia ser credenciada para explorar o jogo do bicho uma empresa a cada 700 mil habitantes em cada Estado e no Distrito Federal. Roraima, único Estado com população abaixo desse patamar, poderia ter só uma empresa.

O projeto regulamenta ainda o aluguel de máquinas caça-níqueis, com a condição de que haja registro oficial delas e auditorias periódicas.

A proposta prevê também a criação de dois impostos sobre o setor, cuja arrecadação seria dividida entre União, Estados e municípios.

Lula e Sabino abraçados e sorrindo em salão
Ricardo Stuckert/Presidência da República
O ministro Celso Sabino, do Turismo, tem sido o defensor mais ativo do projeto que legaliza cassinos e jogo do bicho

A Taxa de Fiscalização de Jogos e Apostas (Tafija) seria paga a cada três meses, no valor de R$ 600 mil para os cassinos; R$ 300 mil para casas de jogos online; e R$ 20 mil para casas de bingo, operadoras de jogo do bicho e entidades de turfe.

Já a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a comercialização de jogos e apostas (Cide-Jogos) teria alíquota de até 17% sobre a receita bruta (diferença entre valor das apostas e prêmios pagos) de todas as empresas do setor.

Parte dos recursos teria que ser destinada a ações de prevenção ao vício em jogos, em saúde, segurança pública, proteção dos animais, financiamento estudantil, ações em áreas impactadas por desastres naturais e no Fundo Nacional da Criança e do Adolescente.

Além disso, 1% da receita bruta do setor iria para a formação de atletas, por meio do Comitê Brasileiro de Clubes e do Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos.

O apostador, por sua vez, pagará 20% de Imposto de Renda nos ganhos acima de R$ 10 mil (abaixo disso fica isento). O valor a ser tributado será o saldo entre os prêmios recebidos e os gastos com apostas nas últimas 24 horas.

Estimativas apresentadas pelo senador Irajá Abreu (PSD-TO), relator da proposta, indicam que a legalização das atividades pode gerar investimentos de R$ 100 bilhões e criar cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos.

Já a arrecadação potencial seria de R$ 22 bilhões ao ano, segundo o senador.

Divisões na esquerda e no bolsonarismo

No ano passado, o presidente Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), manifestaram-se a favor do projeto.

"Não sou favorável ao jogo, mas também não acho crime. Se o Congresso aprovar e foi feito um acordo entre os partidos políticos e for aprovado, não tem por que não sancionar", disse Lula à Rádio Meio, do Piauí, em junho de 2024.

O ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), tem sido o defensor mais ativo do projeto.

"Como órgão do governo voltado ao desenvolvimento do turismo, somos favoráveis à proposta, assim como outros ministérios. Queremos atrair mais visitantes e estimular a circulação de pessoas dentro do Brasil", afirmou o ministro à imprensa em maio desse ano, segundo reportagem da CNN Brasil.

Na ocasião, o ministro reafirmou que Lula sancionaria o texto, caso aprovado pelo Congresso.

Ao longo de sua tramitação, o projeto também recebeu apoio de membros do governo anterior, de Jair Bolsonaro, como do ex-chefe da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP-PI).

Mas, tanto na esquerda como no campo bolsonarista, há também resistências.

Na segunda-feira (07/07), o pastor Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, postou um vídeo em suas redes sociais alertando para a votação prevista para terça.

Malafaia, chamando a iniciativa de "barbárie", destacou que o projeto tem apoio de Lula e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) — que colocou o texto na pauta do Plenário.

O pastor acusou Lula de estar interessado na arrecadação de bilhões de reais de impostos com a eventual legalização dessas atividades, a despeito da "pandemia" de vício em jogos eletrônicos.

No ano passado, Malafaia assinou com outros pastores — como Robson Rodovalho (Sara Nossa Terra) e Estevam Hernandes (Renascer em Cristo) — uma carta de repúdio ao projeto.

No documento, eles diziam que a legalização das apostas causaria "endividamento da população, vícios relacionados aos jogos, golpes através de sites irregulares, lavagem de dinheiro e exploração de vulneráveis".

A forte oposição do segmento evangélico é apontada como o principal fator que levou Bolsonaro a prometer vetar a proposta quando era presidente, caso ela passasse no Congresso.

Defensores do projeto em Brasília garantem que o texto traz regras para minimizar o vício.

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BBC
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postado em 08/07/2025 04:56 / atualizado em 08/07/2025 09:55
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