VIOLÊNCIA

Ataque israelense à única igreja católica de Gaza mata três e fere padre argentino

Muitas famílias cristãs deslocadas da pequena comunidade local têm vivido na igreja católica romana desde o início da guerra, depois que suas próprias casas foram destruídas

Vídeo após o ataque mostrou padre caminhando com dificuldade -  (crédito: Getty Images)
Vídeo após o ataque mostrou padre caminhando com dificuldade - (crédito: Getty Images)

Pelo menos três pessoas morreram e várias ficaram feridas quinta-feira (17/7) em um ataque contra a Igreja da Sagrada Família, em Gaza, o único templo católico do território palestino.

O Vaticano afirmou em comunicado que o pároco argentino da igreja, padre Gabriel Romanelli, ficou "levemente ferido em uma perna" no ataque, atribuído a Israel.

Por sua vez, o Exército israelense declarou estar "ciente das informações sobre os danos causados" à igreja e acrescentou que "as circunstâncias do incidente estão sob revisão".

O papa Leão 16 disse estar "profundamente entristecido" pelo ataque ao templo, onde muitas famílias cristãs deslocadas da pequena comunidade local estão vivendo desde o início da ofensiva israelense em Gaza, após a destruição de suas casas.

Enquanto vivia e após o início da guerra, o falecido papa Francisco telefonava quase diariamente ao padre Romanelli.

Em dezembro de 2024, a BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, entrevistou o pároco. Na ocasião, o sacerdote argentino detalhou como a única igreja católica de Gaza havia se transformado em um refúgio físico e espiritual para centenas de pessoas em meio à ofensiva de Israel na Faixa.

"É preciso engolir as lágrimas e tentar ser um sinal de esperança para todos", disse naquela entrevista o padre Gabriel, que vive há mais de cinco anos em Gaza e tem três décadas de missão no Oriente Médio.

Após o ataque desta quinta-feira, um vídeo divulgado pela televisão árabe mostrou Romanelli caminhando com dificuldade e verificando o estado de um homem em uma maca no hospital Al-Ahli, na Cidade de Gaza, onde os feridos estão sendo atendidos.

Outras imagens compartilhadas com a BBC mostram que o telhado da igreja foi atingido próximo à cruz, e que as janelas estavam quebradas.

O padre Romanelli após o ataque, caminhando pelas ruas de Gaza
Getty Images
Vídeo após o ataque mostrou padre caminhando com dificuldade

Acusações contra Israel

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, responsabilizou Israel pelo ocorrido: "Os ataques contra a população civil que Israel vem realizando há meses são inaceitáveis".

"Nenhuma ação militar pode justificar tal conduta", acrescentou.

O Patriarcado Ortodoxo Grego de Jerusalém condenou o ataque, classificando o atentado como "uma flagrante violação da dignidade humana e da santidade da vida, além da profanação de locais religiosos, que deveriam ser refúgios seguros em tempos de guerra".

Estima-se que, antes do ataque, havia cerca de 600 pessoas deslocadas abrigadas na igreja — a maioria crianças e 54 pessoas com deficiências.

A Igreja da Sagrada Família está localizada em uma área da Cidade de Gaza que o Exército israelense já havia ordenado evacuar.

Imagem do interior do templo em 24 de dezembro passado
Getty Images
Antes do ataque, cerca de 600 pessoas estavam abrigadas na igreja

Israel lançou sua guerra em Gaza em represália aos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, nos quais cerca de 1,2 mil pessoas morreram e outras 251 foram feitas reféns.

Desde então, os ataques israelenses já mataram mais de 58,5 mil pessoas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local.

Os dados do ministério são citados pela ONU e por outros organismos como a fonte mais confiável disponível sobre vítimas no conflito.

Com informações de Yolande Knell, correspondente em Jerusalém.

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BBC
Da BBC News Mundo -
postado em 17/07/2025 15:47 / atualizado em 17/07/2025 20:05
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