AUTOCRACIA

Maioria da população mundial vive sob regimes autocráticos

Relatório internacional, ligado à Universidade de Gotemburgo, revela queda histórica da democracia global, com retrocessos acentuados na liberdade de expressão, na qualidade das eleições e no poder econômico das democracias

Líderes de países como Brasil, Chile, Espanha, Uruguai e Colômbia se reuniram para discutir o futuro da democracia.  -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
Líderes de países como Brasil, Chile, Espanha, Uruguai e Colômbia se reuniram para discutir o futuro da democracia. - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

A democracia perdeu terreno no cenário global e, pela primeira vez em décadas, foi superada em número pelas autocracias. Segundo o Relatório da Democracia 2025, produzido pelo Instituto V-Dem, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, o mundo encerrou 2024 com 91 regimes autocráticos e apenas 88 democracias — uma reversão em relação ao ano anterior. O estudo analisou 179 países e alerta para um ciclo prolongado de declínio democrático, iniciado há pelo menos 25 anos.

De acordo com os dados, 72% da população mundial — cerca de 5,8 bilhões de pessoas — vive hoje sob autocracias, o maior índice desde 1978. O relatório define autocracia como o regime no qual o poder está concentrado em um líder ou grupo restrito, com baixos níveis de liberdade política, controle institucional e garantias civis. Já as democracias, especialmente as liberais, tornaram-se uma exceção, apenas 29 países ainda se enquadram nessa categoria.

A deterioração democrática é especialmente aguda na Ásia Central e Meridional, no Oriente Médio, na África Subsariana e na Europa Oriental. Mesmo regiões tradicionalmente estáveis, como a América do Norte e a Europa Ocidental, registraram queda nos índices democráticos, retornando a patamares similares aos dos anos 1980. O relatório também destaca que o poder econômico global está migrando para regimes autoritários — democracias detêm hoje a menor participação econômica em mais de 50 anos.

A polarização política e a desinformação figuram entre os principais vetores desse retrocesso. De acordo com o estudo, governos autocráticos têm utilizado narrativas falsas e campanhas de manipulação para enfraquecer a confiança nas instituições e justificar medidas repressivas. O número de países que restringiram a liberdade de expressão saltou de 35 em 2023 para 44 em 2024.

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Entre os 45 países atualmente em processo de autocratização, 27 eram democracias no início do episódio e apenas nove mantêm esse status em 2024. Em contrapartida, apenas 19 países estão em vias de democratização — número estável, porém insuficiente diante da escala de retrocessos. O Brasil, junto com Polônia e Tailândia, aparece entre os poucos países em processo de transição democrática em meio ao cenário adverso.

O relatório conclui que o ciclo de autocratização global segue ativo, com impactos crescentes sobre direitos civis, eleições e instituições. Em um ano marcado por dezenas de eleições ao redor do mundo, apenas 11 países mudaram efetivamente sua trajetória democrática, sendo que os retrocessos superaram os avanços. O cenário, para os pesquisadores, exige vigilância internacional e fortalecimento das defesas institucionais da democracia.

 

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postado em 27/07/2025 20:19 / atualizado em 27/07/2025 20:20
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