A ajuda humanitária é um desafio à sorte em Gaza. Muitos ataques ocorrem justamente quando há fileiras gigantescas à espera de comida, água, mantimentos e agasalhos. Inconformados com a sequência de agressões, 169 organizações não governamentais (ONGs) apelam para acabar com o sistema de distribuição atual, sob comando de israelenses e norte-americanos. Sem entrarem em detalhes sobre empecilhos e eventuais imposições, as entidades querem o retorno do método, que funcionava até março, quando a distribuição era responsabilidade de várias ONGs e agências das Nações Unidas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e a maioria das ONGs que operam em Gaza se recusam a trabalhar com a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) cujos métodos e neutralidade são questionados. O documento divulgado pelas ONGs reúne signatários da Europa, Estados Unidos e de Israel, que operam em âmbitos como saúde, alimentação, desenvolvimento e proteção dos direitos humanos. Em comunicado, as 169 ONGs afirmam que mais de 500 palestinos morreram e cerca de 4 mil ficaram feridos ao tentar acessar os pontos de ajuda humanitária gerenciados pela GHF em menos de quatro semanas.
Sob a mira de bombardeios desde outubro de 2023 quando o Hamas e Israel passaram a se enfrentar, Gaza se tornou um território devastado. Para as ONGs, não é possível manter a coordenação da GHF. "As ONGs exigem uma ação imediata para colocar fim ao programa israelense de distribuição de ajuda em Gaza, que deixou numerosos mortos", informaram em um texto conjunto.
Desde 26 de maio, a GHF distribui ajuda em quatro pontos específicos. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo Hamas, mais de 500 palestinos morreram ao longo desse período. Porém, em comunicado, segundo o The Guardian, a entidade afirma que entregou 53 milhões de refeições na região e que trabalha para alimentar inocentes."Em vez de discutir e trocar insultos nos bastidores, gostaríamos de receber outros grupos humanitários para se juntarem a nós e alimentarem as pessoas em Gaza", informou em texto.
O Exército israelense reconheceu que abriu fogo contra palestinos perto de pontos de distribuição de ajuda, alegando que seu comportamento representava uma "ameaça".
Anteontem, 24 pessoas morreram durante o ataque ao café Al-Baqa, perto do porto da Cidade de Gaza, lotado no momento do bombardeio. Havia crianças e idosos, além de mulheres. De acordo com o The Guardian, as Forças de Defesa de Israel (IDF) informaram que promovem uma revisão ao ataque, no qual afirmaram ter atingido "vários terroristas do Hamas no norte da Faixa de Gaza".
Proibições
De acordo com a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), a situação humanitária na Faixa de Gaza não tem precedentes nas numerosas experiências dos profissionais de saúde que atuam na entidade. Eles relatam que adultos, crianças e idosos são obrigados a viver em um espaço cada vez menor e sem condições. Os bloqueios para o ingresso de suprimentos e acesso é cada vez mais restrito até mesmo aos itens básicos, como água e alimentos.
A diretora-executiva do MSF-Brasil, Renata Reis, disse ao Correio que os vetos atingem, inclusive, os cuidados com doentes e pessoas com mobilidade reduzida, sem distinção. Os relatos dos profissionais de saúde detalham.
"Autoridades israelenses proibiram a entrada de cadeiras de rodas, nebulizadores, monitores de glicose e químicos para tratamento de água. Esses itens haviam tido liberação inicial para ingresso, mas foram posteriormente vetados", ressaltou a doutora em políticas públicas, estratégias e desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em 24h
O jornal Haaretz informou que, em apenas 24 horas, as forças israelenses mataram 112 palestinos em Gaza em 24 horas e feriram outros 463, segundo dados do Ministério da Saúde controlado pelo Hamas na terça-feira. Ataques aéreos deixaram anteontem 30 mortos em um café à beira-mar, e tiros deixaram 23 mortos enquanto palestinos tentavam obter ajuda, disseram testemunhas e autoridades de saúde.
O Ministério da Saúde informou que quatro corpos também foram exumados, com o número total de mortos na guerra chegando a 56.647. Desde o reinício dos combates em março, o órgão relatou 6.315 palestinos mortos e 22.064 feridos.
Paralelamente aos ataques em Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu ser "muito firme" em sua posição para alcançar um cessar-fogo em Gaza quando se encontrar com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no dia 7, na Casa Branca, em Washington. A resolução da guerra de 12 dias entre Israel e Irã reacendeu as esperanças de um fim para a guerra na Faixa de Gaza.
Trump foi questionado, durante coletiva de imprensa, se seria possível implementar um cessar-fogo antes da visita de Netanyahu. Anteriormente, ele apelou a Netanyahu para "fechar um acordo em Gaza", sem sucesso. "Mas ele também quer (...). Ele também quer acabar com a guerra", acrescentou Trump. A visita do israelense à Casa Branca é a terceira desde que o norte-americano assumiu o atual mandato.
