Diplomacia

China é "imparável", avisa Xi Jinping durante exibição de força bélico

Presidente chinês recebe Vladimir Putin, da Rússia, e Kim Jong-un, da Coreia do Norte, para desfile militar em Pequim, depois de cúpula de bloco alternativo ao Ocidente. Anfitrião destaca revitalização do país. Trump denuncia conspiração

Da esquerda para a direita, Vladimir Putin caminha com Xi Jinping e Kim Jong-un: aliança alternativa ao Ocidente preocupa dos EUA  -  (crédito: Sergey Bobylev/AFP)
Da esquerda para a direita, Vladimir Putin caminha com Xi Jinping e Kim Jong-un: aliança alternativa ao Ocidente preocupa dos EUA - (crédito: Sergey Bobylev/AFP)

Foi uma demonstração de poderio bélico, mas também de posicionamento geopolítico e de alianças estratégicas. Em comemoração aos 80 anos da vitória sobre o Japão, que levou ao fim da Segunda Guerra Mundial, o presidente da China, Xi Jinping, recebeu os colegas Vladimir Putin (Rússia) e Kim Jong-un (Coreia do Norte) para um grande desfile militar, ao fim da cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (OCX). O encontro contou com a participação de China, Índia, Rússia, Paquistão, Irã, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Belarus, além de 16 nações observadoras.

Em seu discurso, durante a parada, Xi declarou que a revitalização da nação chinesa é "imparável". "Hoje, a humanidade enfrenta uma escolha entre paz ou guerra, diálogo ou confronto. (...) O povo chinês permanecerá firme no lado certo da história e no lado do progresso humano, aderirá ao caminho do desenvolvimento pacífico e unirá esforços com o resto do mundo para construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade", prometeu. O anfitrião, no entanto, evitou fazer referências diretas aos Estados Unidos ou ao status de Taiwan. 

Soldados chineses marcham durante desfile militar na Praça Tiananmen, em Pequim
Soldados chineses marcham na Praça Tiananmen, em Pequim (foto: Pedro Pardo/AFP)

O evento na Praça Tiananmen, também conhecida como Praça da Paz Celestial, no coração de Pequim, produziu imagens sem precedentes. Xi apertou as mãos de Putin e de Kim e caminhou entre eles pelo tapete vermelho — o líder da Rússia permaneceu à sua direita e o ditador da Coreia do Norte à sua esquerda. Depois do desfile, às 11h30 (hora local), o chinês ofereceu um banquete aos chefes de Estado e de governo e fez novo discurso. Durante o desfile, Kim estava acompanhado da filha, Kim Ju Ae, e da irmã, Kim Yo Jongs, candidatas a herdeiras. 

De acordo com a agência estatal de notícias Xinhua, Xi afirmou que a vitória na Segunda Guerra Mundial simbolizou não apenas uma "virada histórica" para a China, "do abismo da crise em tempos modernos para o caminho da grande revitalização", mas também um "grande ponto de virada no desenvolvimento mundial". "Como habitantes do mesmo planeta, a humanidade deve se unir em tempos difíceis, viver em harmonia e jamais recair na lei da selva, onde os fortes atacam os fracos", afirmou o presidente chinês.

Unidades de artilharia de foguetes são vistas durante a parada para marcar os 80 anos do fim da Segunda Guerra
Unidades de artilharia de foguetes são vistas durante parada (foto: Greg Baker/AFP)

O presidente dos EUA, Donald Trump, acusou os líderes de China, Rússia e Coreia do Norte de "conspiração". "Envie meus cumprimentos mais calorosos a Vladimir Putin e Kim Jong Un enquanto conspiram contra os EUA", escreveu o republicano em sua plataforma, Truth Social. Por sua vez, Kaja Kallas, chefe de Política Externa da União Europeia (UE), advertiu que "está nascendo uma nova ordem mundial". Ela considerou que a presença de Xi e de Kim ao lado de Xi representa um "desafio direto à ordem internacional". O titular do Kremlin admitiu a disposição de continuar com a ofensiva na Ucrânia. "Vamos ver como a situação se desenrola. Caso contrário, teremos que resolver todas as nossas tarefas militarmente", disse Putin. 

Poderio bélico

Enquanto milhares de pessoas entoavam canções patrióticas nas arquibancadas, a imensa avenida diante de Tiananmen serviu de passarela para armamentos modernos, como aeronaves, drones submarinos, tanques de guerra e armas teleguiadas a laser. Destaque especial para os mísseis nucleares intercontinentais DongFeng-5C, com alcance de 20 mil quilômetros. 

Membros do Exército de Libertação Popular seguram bandeira do país durante o evento
Membros do Exército de Libertação Popular seguram bandeira do país durante o evento (foto: Greg Baker/AFP)

Diretora do Programa Ásia do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington), Bonnie Glaser explicou ao Correio que seria simplista imaginar que a China apenas quis enviar uma mensagem aos EUA com a parada militar e a reunião com Putin e com Kim Jong-un. "Xi buscava alcançar vários objetivos, como promover a narrativa da Segunda Guerra Mundial que enfatiza o papel da China e da União Soviética, enquanto reduz o papel dos aliados; e avançar em uma alternativa à ordem global, na forma de um projeto chamado Iniciativa de Governança Global", afirmou. "Além disso, Xi pretende fortalecer a legitimidade dos acordos do Cairo e de Potsdam, que reforçam as reivindicações da China sobre Taiwan, e demonstrar o crescimento do poderio militar chinês — componente-chave do poder nacional. O presidente mostra que a China progride em direção à meta de rejuvenescimento nacional."

EU ACHO...

Bonnie Glaser, diretora do Programa Indo-Pacífico do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington)
Bonnie Glaser, diretora do Programa Indo-Pacífico do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington) (foto: Fotos: Arquivo pessoal )

"Os laços entre Rússia e China estão se fortalecendo em alguns aspectos importantes, mas é altamente improvável que formem uma aliança que inclua compromissos inabaláveis de defesa mútua ou coordenação estratégica nuclear. Tanto Xi quanto Putin desejam manter uma liberdade de manobra substancial. Provavelmente cooperarão apenas onde seus interesses coincidam."

Bonnie Glaser, diretora do Programa Ásia do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington)

Conversa sobre imortalidade

Dois dos líderes mais poderosos do mundo foram flagrados pelos microfones abertos conversando sobre imortalidade e transplante de órgãos. Xi Jinping e Vladimir Putin, presidentes da China e da Rússia, caminhavam lado a lado, enquanto tiveram um breve diálogo. Eles debateram como os transplantes de órgão podem levar à imortalidade. A caminho da plataforma elevada na Praça da Paz Celestial, onde assistiram ao desfile militar, as câmeras e microfones capturaram o intérprete de Putin falando em mandarim (chinês): "A biotecnologia está em constante desenvolvimento".

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Seguiu-se um momento inaudível. Então, o intérprete acrescentou: "Órgãos humanos podem ser transplantados de forma contínua. Quanto mais você vive, mais jovem se torna, e ainda pode alcançar a imortalidade". Xi, então, respondeu, também em chinês: "Alguns preveem que, neste século, os humanos poderão viver 150 anos". O intérprete de Xi acrescentou, em russo, que, "no passado, era raro alguém ser mais velho do que 70 anos e, nos dias de hoje, dizem que alguém com 70 é uma criança". 

Uma investigação feita pelo veículo independente russo Meduza informou que Mikhail Kovalchulk. confidente de Putin, tem liderado as pesquisas sobre a imortalidade — um tema pelo qual o chefe do Kremlin seria obcecado. Segundo o Meduza, Kovachuk tem investido esforços na tecnologia de impressão de órgãos, a qual utiliza células cutivadas em laboratório para produzir órgãos de substituição. 

 

 

  • Soldados chineses marcham na Praça Tiananmen, em Pequim
    Soldados chineses marcham na Praça Tiananmen, em Pequim Foto: Pedro Pardo/AFP
  • Unidades de artilharia de foguetes são vistas durante parada
    Unidades de artilharia de foguetes são vistas durante parada Foto: Greg Baker/AFP
  • Membros do Exército de Libertação Popular seguram bandeira do país durante o evento
    Membros do Exército de Libertação Popular seguram bandeira do país durante o evento Foto: Greg Baker/AFP
  • Kim Yo Jong, irmã de Kim Jong-un e potencial herdeira do regime norte-coreano, também viajou à China
    Kim Yo Jong, irmã de Kim Jong-un e potencial herdeira do regime norte-coreano, também viajou à China Foto: Jade Gao/AFP
  • Bonnie Glaser, diretora do Programa Indo-Pacífico do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington)
    Bonnie Glaser, diretora do Programa Indo-Pacífico do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington) Foto: Fotos: Arquivo pessoal
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postado em 04/09/2025 05:50
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