A crise entre Estados Unidos e Venezuela ganhou, ontem, contornos mais preocupantes após a informação de que o presidente Donald Trump determinou o envio de 10 caças F-35 a Porto Rico como parte de sua ofensiva antidrogas no Caribe. A ordem foi dada num contexto de tensão elevada com Caracas, que, um dia antes mandou sobrevoar um dos navios militares norte-americanos na região, segundo o Pentágono, que classificou o movimento de “altamente provocador”.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Em conversa com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, Trump afirmou que as aeronaves venezuelanas que representem uma ameaça para as forças no Caribe correm o risco de ser abatidas. “Se nos colocarem em uma situação perigosa, serão derrubados”, declarou o magnata republicano. “Se voarem em uma posição perigosa, vocês podem tomar as decisões que considerarem adequadas”, acrescentou o presidente, dirigindo-se ao chefe do Pentágono, Pete Hegseth.
Washington acusa o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de liderar uma rede de narcotráfico e elevou recentemente para US$ 50 milhões (R$ 272 milhões) a recompensa por sua captura. Quando perguntado por jornalistas se deseja uma mudança de regime em Caracas, Trump desviou da questão. “Não queremos drogas que matam o nosso povo”, afirmou.
As forças americanas destacadas diante das costas venezuelanas lançaram um míssil na terça-feira contra uma embarcação que supostamente transportava drogas. No ataque, sem precedentes na região, morreram 11 “narcoterroristas”, nas palavras de Trump. “Direi a vocês que o tráfego de lanchas nessa zona diminuiu substancialmente”, afirmou o líder norte-americano.
- Leia também: Israel bombardeia e derruba 2º prédio mais alto de Gaza, ao lado de campo de refugiados
Reações
Esse ataque foi uma execução “sem fórmula de julgamento”, criticou o ministro do Interior venezuelano, Diosdado Cabello. Antes disso, o ministro da Comunicação, Freddy Ñáñez, insinuou no Telegram que as imagens do ataque eram “um vídeo (feito) com inteligência artificial”.
Os principais jornais da Venezuela chamaram a ação dos Estados Unidos de “execução extrajudicial”, e não ataque ao narcotráfico. A imprensa detalhou uma declaração assinada por 21 das 33 nações que integram a Comunidade Latino-Americana e do Caribe (Celac) condenando as ações norte-americanas.
O texto ressalta o compromisso comum baseado em princípios, como a proibição da ameaça ou do uso
da força, a solução pacífica de controvérsias, a promoção do diálogo e do multilateralismo, o respeito irrestrito à soberania e à integridade territorial, a não ingerência nos assuntos internos dos Estados e o direito inalienável dos povos à autodeterminação.
A declaração também destaca o Tratado para a Proscrição de Armas Nucleares na América Latina e no
Caribe (Tratado de Tlatelolco). A Celac reafirmou o compromisso com o combate ao crime organizado transnacional e ao narcotráfico, classificado como “ameaça significativa”, intensificando a cooperação e a coordenação regional e internacional no âmbito do respeito ao direito internacional e do cumprimento das convenções internacionais.
“É um assassinato em qualquer parte do mundo. A colaboração do governo colombiano na luta antinarcotraficante é profunda (...), mas se subordina ao direito internacional”, declarou no X o presidente colombiano, Gustavo Petro.
- Leia também: Acidente com bondinho em Lisboa deixou ao menos 16 mortos; não há registro de brasileiros entre vítimas fatais
Alianças
Por décadas, os EUA recorreram a operações policiais de rotina em vez de usar força letal para apreender
drogas no Caribe. O aumento da tensão coincidiu com uma viagem do secretário de Estado americano, Marco Rubio, ao México e ao Equador, onde firmou novas alianças para fortalecer a luta contra o crime organizado e a migração ilegal e alertou que seu governo não dará um passo atrás.
“(Os governos) nos ajudarão a encontrar essas pessoas e a fazê-las explodir, se necessário”, disse Rubio
em uma coletiva de imprensa conjunta com a chanceler equatoriana, Gabriela Sommerfeld, na quinta-feira em Quito.
