Após o anúncio do fim da guerra em Gaza, cerca de 200 mil palestinos deslocados começaram a voltar para casa, movendo-se para o norte em uma grande marcha. O cessar-fogo, em vigor desde as 9h GMT (6h, em Brasília) dessa sexta-feira, também estimulou refugiados a regressarem para Khan Yunis, no sul, onde encontraram suas casas completamente destruídas. O acordo com o movimento Hamas prevê a libertação dos reféns israelenses em até 72 horas (veja quadro).
- Casa Branca critica comitê do Nobel por não conceder prêmio da Paz a Trump
- Cessar-fogo em Gaza: como Trump alcançou o que Biden não conseguiu no conflito entre Israel e Hamas
Citado pelo portal Axios, o presidente norte-americano, Donald Trump, um dos protagonistas da costura do acordo, estaria planejando uma cúpula com líderes mundiais durante a visita que fará a Sharm el-Sheikh, no Egito, na próxima semana, para debater o plano de paz. Previsto para a próxima segunda-feira, o encontro terá a participação de líderes políticos ou chanceleres de países como Alemanha, França, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Arábia Saudita. Ainda segundo o site, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não deve comparecer.
No início da manhã dessa sexta-feira, o Exército israelense afirmou que as tropas começaram a se posicionar ao longo das linhas de retirada, em preparação para o retorno dos reféns. Advertiu, porém, que algumas regiões continuam sendo "extremamente perigosas". Nas últimas semanas antes do acordo de cessar-fogo, o país havia lançado uma ofensiva terrestre e aérea intensa para tomar a Cidade de Gaza, a maior do território palestino, e "aniquilar" o Hamas.
Em um comunicado conjunto, dirigentes de Alemanha, Reino Unido e França pediram ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas que dê apoio total ao plano de paz em Gaza. No Debate Geral do Terceiro Comitê da ONU, em Nova York, a representante britânica Eleanor Sanders pediu que Israel garanta a proteção dos civis e a livre passagem de ajuda humanitária. "A diplomacia, e não a violência, é o caminho para alcançar a paz, a estabilidade e a segurança em toda a região."
Plano
O cessar-fogo e a liberação dos reféns estão previstos no acordo aprovado na quinta-feira após quatro dias de negociações indiretas no Egito entre Hamas e Israel. O documento baseia-se em um plano de 20 pontos anunciado no fim de setembro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que aproveitou a Assembleia Geral da ONU para receber líderes árabes e muçulmanos.
O pacto busca pôr fim a dois anos de guerra em Gaza, um conflito que começou com o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 em território israelense, responsável por 1.219 mortos, na sua maioria, civis, segundo um balanço da agência de notícias France Presse (AFP). Entre os principais pontos está o retorno a Israel de todos os reféns feitos em Gaza desde a ofensiva. Segundo o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dos 48 que permaneciam em Gaza, 28 morreram.
Israel deve libertar 250 detidos por razões de segurança e 1,7 mil palestinos de Gaza presos pelas forças israelenses desde outubro de 2023. Na lista publicada ontem, não aparece nenhuma das figuras emblemáticas da luta armada palestina.
Apesar das celebrações em Israel e em Gaza, ainda restam muitos assuntos por resolver. Entre eles, o desarmamento do Hamas e a proposta de uma autoridade de transição para Gaza liderada por Trump, que fazem parte do plano proposto pelo presidente dos Estados Unidos.
"Feridas"
O alívio de voltar à casa mistura-se ao sofrimento de palestinos que perderam familiares nas ofensivas israelenses. Ameer Abu Iyadeh, 32 anos, declarou que o retorno a Khan Yunis, no sul, está "cheio de feridas e dor". Arij Abu Saadaeh, 53, disse estar "feliz pela trégua e pela paz", mas acrescentou que é mãe de um filho e uma filha que foram assassinados. "Estou de luto por eles."
"Só rezo para que minha casa não tenha sido destruída", afirmou Mohamed Mortaja, 39 anos, enquanto se dirigia para sua casa na Cidade de Gaza. "Só esperamos que a guerra acabe de uma vez por todas, para não termos que fugir nunca mais", disse Mohamed al Mughayyir, um alto funcionário da Defesa Civil, agência de resgate que opera sob a autoridade do governo do Hamas.
Segundo a agência de resgate, ao menos 50 corpos foram recuperados dos escombros do território palestino depois do início do cessar-fogo. Não foram repassados detalhes sobre quando ou como essas pessoas morreram. O diretor do Hospital Al Shifa, Mohamed Abu Salmiya, relatou que 33 dos cadáveres foram levados a centros de saúde da Cidade de Gaza. Um dos mortos teria sido alvo de "fogo israelense".
Paralelamente ao retorno dos palestinos deslocados, a Associação de Imprensa Estrangeira em Jerusalém pediu ontem a Israel para conceder acesso independente a Gaza. As autoridades israelenses têm impedido que jornalistas de meios estrangeiros entrem no devastado território desde o início da guerra.
Saiba Mais
