Tensão nas Américas

Venezuela: Trump e Maduro abrem via diplomática e podem se reunir em breve

Jornal The New York Times revela que os presidentes dos Estados Unidos e da Venezuela conversaram, por telefone, na semana passada, e devem marcar encontro para breve. Líder americano ameaça lançar uma ofensiva terrestre

Pela primeira vez, em meio à escalada de tensão entre os dois países, os presidentes Donald Trump (EUA) e Nicolás Maduro (Venezuela) mantiveram conversas diretas, por telefone, na semana passada. A informação foi divulgada pelo jornal The New York Times, que citou duas fontes envolvidas no tema. Na ligação, que teve participação do secretário de Estado Marco Rubio, eles teriam discutido um possível encontro em breve. Segundo o NY Times, não ficou definida uma data para a reunião presencial. Na noite de quinta-feira, durante evento do Dia de Ação de Graças, Trump anunciou que os esforços para deter o narcotráfico na Venezuela e no Caribe passariam à fase terrestre. "A terra é mais fácil, e isso começará muito em breve", declarou. 

Fulton Armstrong, ex-oficial nacional de Inteligência dos EUA para América Latina e professor da American University (em Washington), comparou a política externa da Casa Branca para a América Latina a uma "montanha-russa". "Ela nos dá a sensação de que vai despencar para, depois, nos surpreender com outra reviravolta", afirmou ao Correio. "Assim como as políticas de Trump em relação à Ucrânia, Gaza, China e tarifas, a ligação telefônica com Maduro é mais um exemplo de como ele gosta de parecer aberto a soluções — especialmente quando seu 'plano A', a intimidação militar, parece estar falhando, e um ataque provavelmente levará a um desastre", avaliou. 

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Segundo Armstrong, Trump não deseja tropas em solo, mas sabe que as Forças Armadas possuem tecnologia para lançar um míssil através do teto de um carro em movimento ou da janela do quarto de um líder. "Ele provavelmente crê que a CIA (Agência Central de Inteligência), a quem concedeu autoridade para operações secretas, recrutou oficiais militares ansiosos para derrubar Maduro", disse.

Abertura

Para o ex-oficial, sob o ponto de vista de Maduro, o telefonema é uma vitória. "Ele sempre se mostrou aberto ao diálogo com os EUA e sempre quis regularizar os embarques de petróleo. O venezuelano se oferecerá para realizar novas eleições, mas seria insensato aceitá-las enquanto as sanções americanas, que destruíram a economia do país, mais do que qualquer outra coisa, permanecerem em vigor."

Jim Watson/AFP - Donald Trump participa de chamada por vídeo com militares em sua mansão de Mar-a-Lago, na Flórida

Professora de ciência política da Universidade Estadual do Colorado, a venezuelana María Isabel Puerta acha improvável uma ofensiva militar. "O governo Trump não parece disposto, neste momento, a avançar na estratégia de intervenção militar dentro da Venezuela. A informação do The New York Times e a ameaça de Trump de uma operação terrestre correspondem com a incerteza habitual no atual governo americano. Parece que tentam, de todas as maneiras, pressionar Maduro a renunciar ao poder", afirmou ao Correio. 

Orlando Vieira-Blanco — cientista político e colunista do jornal El Universal (de Caracas) — entende que Trump anuncia os próximos passos por saber que tem força para neutralizar alvos criminosos. "As incursões parecem estar sendo realizadas, independentemente da saída de Maduro do poder. Nem tudo termina com a renúncia de Maduro. Ainda haverá alvos criminosos", disse à reportagem. 

Blanco discorda de Puerta sobre uma ofensiva militar. "A ação militar está anunciada. Não para destituir Maduro como presidente. Essencialmente, é formulada para combater o crime organizado. A questão é que consideram Maduro o chefe de um cartel."

EU ACHO... 

Arquivo pessoal - Fulton Armstrong, ex-oficial nacional de Inteligência dos EUA para América Latina e professor da American University (em Washington)

"Trump quer a renúncia de Maduro. Sua estratégia nesses dois meses tem sido a de parecer disposto e capaz de erradicar as drogas e derrubar o venezuelano. Ele alega ter resolvido até nove guerras durante seu mandato, mas suas políticas não estão funcionando — então, precisa parecer durão. Sua base MAGA não quer 'guerras intermináveis', mas adora a ideia de consolidar o controle dos EUA sobre nossas fronteiras e o hemisfério. Trump provavelmente foi informado, ainda que incorretamente, de que Cuba e Nicarágua cairão após Maduro. Três prêmios pelo preço de um."

Fulton Armstrong, ex-oficial nacional de Inteligência dos Estados Unidos para América Latina

https://www.correiobraziliense.com.br/webstories/2025/04/7121170-canal-do-correio-braziliense-no-whatsapp.html 

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