
O embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, afirmou nesta terça-feira (23/12), que a ação militar dos Estados Unidos nas proximidades da Venezuela e o bloqueio naval anunciado recentemente são uma violação da Carta das Nações Unidas.
A declaração foi dada durante reunião do Conselho de Segurança da ONU.
"Somos e queremos seguir sendo uma região de paz, respeitando o direito internacional e com boas relações entre vizinhos. A força militar reunida e mantida pelos Estados Unidos nas proximidades da Venezuela e o bloqueio naval recentemente anunciado constituem violação da carta das Nações Unidas. Portanto, devem ser cessados de imediato e incondicionalmente, em favor do uso de instrumentos políticos e jurídicos amplamente disponíveis", disse.
Danese disse que o Brazil convida os dois países para "um diálogo genuíno de boa fé e sem coerção" e que o presidente Lula e seu governo estão dispostos a "colaborar se necessário e com consentimento mútuo de EUA e Venezuela."
Ele avaliou que o assunto interessa não somente aos países da América Latina e Caribe.
"Diz respeito a toda a comunidade internacional, já que em última instância um conflito na região poderia ter repercussões em escala global".
Afirmou ainda que é responsabilidade do Conselho de Segurança, de todos os membros e todos os Estados "se esforçarem incansavelmente, sem temor ou outras motivações, para garantir que as diferenças que hoje discutimos sejam resolvidas de forma pacífica."
'Perseguição ativa'
A Guarda Costeira dos EUA estava em "perseguição ativa" no domingo (21/12) a um navio petroleiro em águas internacionais próximas à Venezuela, segundo uma autoridade americana afirmou à parceira da BBC nos Estados Unidos, a CBS News, enquanto as tensões na região continuam a aumentar.
As autoridades americanas já tinham apreendido dois navios-petroleiros em dezembro.
A perseguição no último fim de semana estaria relacionada a "uma embarcação da frota fantasma sancionada, que faz parte da evasão ilegal de sanções pela Venezuela", afirmou uma autoridade dos EUA.
"Ela navega sob bandeira falsa e está sob ordem judicial de apreensão."
Os EUA têm acusado navios que deixam a Venezuela de fazerem parte de uma "frota fantasma" que supostamente usa diversas estratégias para ocultar suas atividades.
Segundo Washington, essas embarcações integram redes usadas pelo governo de Nicolás Maduro para escoar petróleo no mercado internacional, apesar das restrições, muitas vezes com mudanças de bandeira, desligamento de sistemas de rastreamento e transferências de carga em alto-mar.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que o país enfrenta "uma campanha de agressão de terrorismo psicológico e de corsários que assaltaram petroleiros".
"Estamos preparados para acelerar a marcha da Revolução profunda", disse Maduro.
O presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou na terça-feira um "bloqueio total" a navios-petroleiros sancionados que entrem ou saiam da Venezuela.
O país — que abriga as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo — acusou o governo Trump de tentar roubar seus recursos.
Até a semana passada, mais de 30 dos 80 navios em águas venezuelanas ou a caminho do país estavam sob sanções dos EUA, segundo dados compilados pelo TankerTrackers.com.
A Venezuela é altamente dependente das receitas de suas exportações de petróleo para financiar os gastos do governo.
Os EUA têm reforçado sua presença militar no Mar do Caribe e realizaram ataques letais contra supostos barcos venezuelanos de tráfico de drogas, matando cerca de 100 pessoas.
O governo americano não apresentou provas públicas de que essas embarcações transportavam drogas, e os militares vêm sofrendo crescente escrutínio do Congresso por causa dos ataques.
O governo Trump acusou o presidente venezuelano Nicolás Maduro de liderar uma organização designada como terrorista, chamada Cartel de los Soles, o que ele nega.
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