Os aliados europeus seguem apostando em armar a Ucrânia para vencer a guerra com a Rússia e repelir a invasão iniciada em 2022, mas o presidente dos EUA, Donald Trump, aposta na via das negociações e na disposição de Vladimir Putin para alcançar uma solução diplomática. No dia seguinte à reunião de seus enviados com o líder russo, no Kremlin, Trump fez nesta quarta-feira (3/2) uma avaliação que contrasta diretamente com o tom ouvido em Bruxelas, na sede da Organização do Tratado do Atlântico Norte )Otan, aliança militar ocidental). "A impressão deles foi de que Putin gostaria que a guerra terminasse", afirmou, referindo-se ao enviado especial Steve Witkoff e ao próprio genro, Jared Kushner.
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À saída do encontro com Putin em Moscou, Witkoff e Kushner qualificaram as discussões como "produtivas", embora admitissem que "nada conclusivo" foi acertado quanto ao plano de paz mediado por Washington. Pelo lado russo, o porta-voz Dmitri Peskov ressalvou que, mesmo sem chegar a um acordo final, as partes encontraram pontos de convergência. "A proposta tem alguns pontos que foram aceitos", disse. "Outros são inaceitáveis."
Na sede da Otan, o negociador ucraniano Rustem Umerov manteve reunião com assessores de segurança europeus e anunciou que discutirá o processo nesta quinta-feira (4/2), nos EUA, com os emissários de Trump. "Dei aos meus colegas informações detalhadas sobre as negociações", informou. "É importante que a Europa continue participando ativamente", insistiu.
O secretário-geral da aliança atlântica, Mark Rutte, criticou duramente o tom de Putin, que na véspera ameaçara a Europa, prometendo que a Rússia "está pronta, se eles quiserem a guerra". O ex-premiê holandês louvou os esforços diplomáticos da Casa Branca e, especialmente, o empenho pessoal de Trump. "Se existe alguém neste mundo de romper o impasse, é o presidente dos EUA", afirmou. Mas Rutte voltou a qualificar a Rússia como uma ameaça ao continente, lembrou que o Kremlin destina 40% do orçamento anual à defesa e voltou a cobrar dos parceiros que elevem os próprios gastos com a defesa para 5%. "Temos que reagir."
O professor de relações internacionais Gunther Rudzit. da ESPM, avalia que o descompasso entre EUA e aliados europeus faz parte da estratégia de Putin para negociar o fim do conflito em posição mais favorável. "A busca de Trump por um acordo de paz já abriu fissuras", analisa. "Um dos objetivos da invasão da Ucrânia era enfraquecer a Europa, o Ocidente. Mas no momento ele recebeu o contrário: a Otan saiu fortalecida, com a entrada da Finlândia e da Suécia, e a Europa está agindo mais unida."
De acordo com Rudzit, "o principal objetivo de Putin é ganhar tempo, ainda que as tropas russas estejam avançando muito devagar". Ele pondera que o terreno conquistado neste ano corresponde a apenas 1% do território ucraniano, mas lembra que o Kremlin "tem gente para colocar no campo de batalha e morrer ou sair ferido, e a Ucrânia não tem". Segundo o professor, o presidente russo "está jogando com o tempo, para o Ocidente se cansar e a população ucraniana também".
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